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sábado, 24 de setembro de 2022

Pandemia de intolerância - Revista Oeste

Augusto Nunes Edilson Salgueiro

A Jovem Pan está na mira dos democratas de manifesto 

A ofensiva contra a liberdade de expressão juntou um grupo de militantes esquerdistas disfarçados de especialistas em malandragens digitais, um jornal que vai naufragando por falta de comando e excesso de passageiros sem neurônios, figurões da campanha presidencial de um corrupto solto por amigos togados, uma revista mantida na semiclandestinidade pela tiragem anêmica e companheiros infiltrados no Tribunal Superior Eleitoral. O alvo principal era um canal de notícias que ousa contestar o pensamento único estabelecido pelo consórcio da imprensa velha, e o ataque deveria começar por um programa jornalístico condenado à morte por democratas de manifesto. Confiada a uma tropa brancaleônica, o que deveria ser uma operação devastadora produziu tantos estragos quanto um rojão de festa junina.

Ataque à Jovem Pan | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação

Ataque à Jovem Pan | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação

A marcha da insensatez começou com a divulgação pela Folha de S.Paulo de um estudo produzido por ativistas homiziados na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Julgavam-se sumidades em malandragens digitais. Não passavam de cientistas de botequim. 
Depois de algumas incursões pelo universo cibernético, os jalecos a serviço do PT concluíram que era para privilegiar uma emissora reduzida a bolsão bolsonarista que o YouTube vinha recomendando aos internautas, com suspeitíssima frequência, uma visita aos vídeos da Jovem Pan. Nenhum dos acadêmicos sequer desconfiou que o algoritmo do YouTube se limita a remeter os usuários aos conteúdos com maior número de visualizações.  
Como a íntegra do programa e trechos extraídos de Os Pingos nos Is são campeões nacionais de audiência, é natural que liderem o ranking dos mais indicados.
 
Tampouco sabia disso a jornalista da Folha premiada pelos autores com uma cópia da pesquisa mambembe.  
Ela viu numa ode à ignorância a prova mais robusta de que o YouTube agia em cumplicidade com o veículo jornalístico qualificado pelo jornal onde trabalha de “voz do bolsonarismo”. 
A divulgação do besteirol devolveu à frente de combate a repórter da revista piauí que, em agosto, enxergara na Jovem Pan “o braço mais estridente do bolsonarismo”. Esse apoio ao candidato à reeleição, garantiu, era uma forma de encurtar o caminho que leva às verbas publicitárias da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom).
 
A realidade estraçalha a fantasia. Desde o início do governo Bolsonaro, a Jovem Pan recebeu R$ 4 milhões em verbas publicitárias. Tal valor é inferior ao registrado nas gestões de Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. No primeiro mandato de Lula, foram R$ 6 milhões. Entre 2007 e 2010, mais R$ 8 milhões. Dilma destinou ao grupo empresarial R$ 7,5 milhões no primeiro mandato. Entre 2015 e 2018, foram R$ 8 milhões. Em contrapartida, o Grupo Folha abocanhou R$ 371 milhões nos dois mandatos de Lula. Dilma e Temer, somados, transferiram R$ 156 milhões.  
No governo Bolsonaro, a catarata de reais secou: apenas R$ 2 milhões irrigaram o caixa da Folha. O fim da farra ajuda a entender a hostilidade do jornal ao presidente da República.

Foto: Cortesia JovemPan/Reprodução
O batalhão de trapalhões foi engrossado por advogados do ex-presidente Lula, que acionaram o Tribunal Superior Eleitoral “para impedir que o YouTube siga privilegiando os vídeos da Jovem Pan”. 
Confiante no pronto socorro dos juízes de estimação, o ex-presidiário também exigiu que a Google Brasil, proprietária do YouTube, adote as medidas necessárias para “cessar a irregularidade”
Incontrolavelmente ansiosa, a repórter da piauí jurou que o YouTube havia limitado a publicidade do canal de Os Pingos nos Is. “Isso se deve à inadequação do conteúdo para os anunciantes da plataforma”, explicou. “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, celebrou a colunista social da Folha. O bloqueio jamais ocorreu.

“O Grupo Jovem Pan repele, enfaticamente, as falsidades divulgadas em suspeita parceria pela revista piauí e pela Folha de S.Paulo”, começa o editorial com que a emissora rasga as fantasias. “Ao contrário do que afirmam a publicação semiclandestina que se arrasta em menos de 30 mil exemplares e o jornal decadente, as relações entre a Jovem Pan e o YouTube são exemplarmente normais.”  
Esses textos derivam da indignação provocada em tais publicações pelo sucesso de uma instituição que completou 80 anos de existência. 
É compreensível o inconformismo da Folha, reduzida a 60 mil exemplares por dia, com o êxito da TV Jovem Pan News, que, com menos de um ano, se consolidou como o segundo maior canal de notícias e se aproxima rapidamente da liderança.”

A imprensa velha desmorona
Além dos concorrentes diretos, jornais e revistas de papel contemplaram com desdém o nascimento da TV Jovem Pan News, em 27 de outubro de 2021.  
Aos olhos estrábicos da imprensa velha, o caçula dos canais de notícias tinha tudo para dar errado. Aparentemente, faltavam estúdios, equipamentos e gente. A programação era insuficiente para fechar a grade, sobretudo nos fins de semana. 
Como enfrentar os colossos alojados no topo do ranking liderado pela balzaquiana GloboNews? 
Como desbancar da segunda colocação a CNN, fruto de investimentos siderais, que entrara no ar em março de 2020, depois de trabalhos de parto que consumiram quase seis meses de ensaios?
 As previsões agourentas foram revogadas já na primeira semana pela performance da emissora recém-nascida.

Um dos bordões publicitários da Jovem Pan repetia havia muitos meses que a rádio virara TV. Nenhum exagero, confirmou a sequência de proezas. O uso intensivo de imagens ampliara extraordinariamente a audiência de atrações como o Jornal da Manhã, Pânico e Os Pingos nos Is. Nesses horários, pouco depois da estreia a Jovem Pan News já tinha desbancado a CNN por larga margem e encostado na GloboNews.      Hoje, consolidada no segundo lugar, a emissora recém-nascida alcança com extraordinária frequência o topo do ranking. Paralelamente, publicações impressas despencam. Pouco mais de 430 mil exemplares foram colocados em circulação nos primeiros seis meses de 2022. Há sete anos, eram 1,3 milhão. A queda mais perturbadora foi protagonizada pela Folha: 16%. A tiragem oscilava pouco acima de 60 mil exemplares. Desabou para desoladores 55 mil.

Tampouco as revistas impressas vão bem das pernas. Segundo o Instituto Verificador de Comunicação (IVC), a circulação sofreu uma queda de 28% ao longo de 2021. A Veja, por exemplo, já foi a terceira maior do mundo ao imprimir 1,2 milhão de exemplares. O tombo mais recente levou-a a perder 51 mil — e amargar, pela primeira vez desde o nascimento, uma tiragem que mal atinge a faixa dos 90 mil. Todas as revistas hoje lutam pela sobrevivência. Menos a piauí, que não depende de leitores. Depende da herança do dono, o banqueiro João Moreira Salles. A bolada parece muito longe do fim. Tanto assim que, mesmo bancando os rombos mensais da revista, tem dinheiro de sobra para figurar na lista dos dez maiores doadores da campanha de Lula. É compreensível que sonhe com o desaparecimento de quem é suspeito de inclinações bolsonaristas.

Escravos da ideologia ignoram fatos
Decidido a silenciar a Jovem Pan, o bando que agrupa advogados do candidato e jornalistas devotos do ex-presidiário alega que os programas jornalísticos ora mobilizam comentaristas que alternam elogios a Jair Bolsonaro e fake news concebidas para manchar a imagem de Lula.        Como sabem até os microfones já aposentados, a emissora é a única que mantém em seus quadros profissionais que criticam fortemente o presidente da República. Não há na GloboNews, na CNN, nas páginas da piauí ou da Folha, por exemplo, uma única e escassa voz que recorde alguma das incontáveis ladroagens em que Lula se meteu. Todo o tempo é consumido pela pancadaria imposta ao adversário fascista, homofóbico, misógino, inimigo da democracia e golpista de nascença.

Nenhuma surpresa. Um levantamento recente da Universidade Federal de Santa Catarina constatou que 80% dos jornalistas brasileiros se declaram de centro-esquerda, esquerda ou extrema esquerda. Só 4% se consideram de centro-direita, direita e extrema direita. O escritor e analista político Flavio Morgenstern afirma que a proliferação de jornalistas engajados deformou o comportamento profissional: “Não se vigiam mais os políticos. Age-se com os políticos para vigiar a sociedade”. Para Morgenstern, o objetivo da Folha “vai além da tentativa de monopólio das narrativas: quer-se criar uma versão ‘oficial’ dos fatos — e isto só pode ocorrer censurando-se desabridamente quem não siga a cartilha”.

“O jornalista de hoje quer demonizar seus concorrentes ideológicos, para que sejam perseguidos pelo estamento judicial”, acrescenta Morgenstern. “As críticas da Folha querem ter peso de lei, e seus jornalistas agem como esbirros a apontarem quem deve ser constrangido pela lei.” A esses tumores se soma a doutrinação marxista nas universidades de jornalismo”, acredita Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação e especialista em Jornalismo Brasileiro e Comparado. “Educação é formação em um ambiente de liberdade, de abertura, de diálogo, de debate”, lembra Di Franco. “A universidade e o ensino básico estiveram, e penso que ainda estão, muito dominados por uma matriz marxista. Uma matriz militante, ativamente militante, samba de uma nota só. Isso tem consequências. Quando a ideologia domina o processo de conhecimento, o que desaparece é o conhecimento.”

Sem espaço para divergência
No faroeste à brasileira, é o bandido que persegue o xerife.
Não chega a ser surpreendente que também no jornalismo prevaleça o avesso das coisas. A TV Jovem Pan News abriga comentaristas de todos os espectros ideológicos, mas é qualificada pelos arautos do pensamento único de “bolsonarista”, “disseminadora de fake news” e “propagadora de discurso de ódio”. A Folha, que torce pela morte de Bolsonaro, proíbe contestações à verdade oficial e inventa verbos delirantes para esconder os avanços econômicos do país, apresenta-se como “imparcial”, “fiel aos fatos” e “defensora da democracia”.

Na GloboNews e na CNN Brasil, não há comentaristas políticos “de direita”, “liberais” e “conservadores”. Nas duas concorrentes, ninguém murmura algum contraponto ao incessante bombardeio que alveja o atual chefe de governo. “Se antes, pela falta de termo de comparação, o público talvez não notasse os truques sujos e as manipulações perpetrados diariamente pela imprensa autoproclamada ‘profissional’, hoje ele percebe”, acredita o escritor e antropólogo Flávio Gordon. “Quando a redação se torna uma bolha na qual o radicalismo ideológico de uns retroalimenta o dos colegas, o senso de cumprimento de uma missão política em vista de um mundo melhor sobrepuja qualquer preocupação com a prática jornalística tradicional, que, nessas condições, passa a ser vista até mesmo como reacionária.”

Como observa J.R. Guzzo, o “crime” da Jovem Pan é não se submeter ao pensamento único que a esquerda quer impor a todos os brasileiros. Virou uma religião, com pecado mortal, excomunhão e o castigo do inferno”, constata o colunista. “Trate de obedecer — caso contrário, você será denunciado por subversão da ordem politicamente sagrada.” Com notável clareza, Guzzo localiza a questão-chave escancarada pelo surto autoritário:

“E se a Jovem Pan e seu programa condenado forem mesmo a favor do presidente Bolsonaro — ou de qualquer outro personagem da cena pública, ou de qualquer posição política? Qual seria o problema? Por acaso é proibido ser a favor de Bolsonaro? Ou ser contra seus adversários? É isso, exatamente, o que propõem os autores da agressão: um veículo de comunicação, segundo eles, não tem o direito de publicar aquilo que seus editores decidem levar ao público, conforme lhes está garantido na Constituição. A liberdade de imprensa, na sua maneira de ver as coisas, não pode existir para todos. Veículos como a Jovem Pan, o programa Os Pingos nos Is e os colegas que ali trabalham são tidos como algum tipo de delinquente, gente fora da lei que deve ser denunciada e, em consequência dos seus delitos, proibida de se manifestar”.

É isso. O resto não passa de conversa fiada. Discurseira de intolerantes mal cobertos pela fantasia de democrata em frangalhos.

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 Augusto Nunes e  Edilson Salgueiro