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domingo, 1 de novembro de 2020

A pandemia e o luto - Nas entrelinhas

No Dia de Finados, todos os mortos serão lembrados, mas as vítimas da pandemia são como corpos insepultos ou enterrados em cova rasa, cujo luto é diferenciado

Uma das singularidades da pandemia do novo coronavírus no Brasil — que chega aos 160 mil mortos e 5,5 milhões de infectados — é a sua naturalização pelo presidente Jair Bolsonaro, que sempre combateu as medidas de isolamento social adotadas por prefeitos e governadores e tratou-a como uma “gripezinha”. [medidas que não funcionaram, especialmente pela defasagem temporal em sua aplicação pelos estados. Cada governador e prefeito decidindo conforme sua cabeça = interesses políticos e em alguns casos (a maioria) não republicanos. 

O que está salvando o Brasil, é à generosidade de DEUS que propiciou um longo período de platô, superior aos cem dias, permitindo  o surgimento da 'imunidade de rebanho'. 

Quanto ao presidente considerar o coronavírus uma gripezinha, é justificável: o índice de contágio pelo vírus que, obviamente,  antecede à covid-19,  que pode resultar na morte do infectado, é bem menor que o da gripe sazonal = que ocorre todo ano e a mortalidade nem sempre é destacada pela mídia.] morte

A aposta do presidente da República era de que ambos arcariam com as consequências negativas do impacto econômico da crise sanitária e ele, desafiando o vírus mortífero, se beneficiaria do auxilio emergencial aprovado pelo Congresso — cinco parcelas de R$ 600, de abril a agosto, e quatro de R$ 300, de setembro até dezembro e que o governo distribuiu à mais de 60 milhões de pessoas. O governo gastou até setembro R$ 411 bilhões com a pandemia, dos quais R$ 213 bilhões com o auxílio.

Acontece que essas despesas foram feitas como quem faz uma grande compra de consumo imediato com cartão de crédito, ou seja, a conta um dia vai chegar. E está chegando com a dívida pública já equivalente a 90% do PIB e uma taxa de desemprego de 14,4 %, que deve aumentar, porque a procura por emprego, com a redução do auxílio emergencial, também aumentará.  [atrelar o cálculo do crescimento da dívida pública é uma forma encontrada para maximizar o pior. A pandemia derrubou o PIB - que foi herdado meio murcho,  pelo governo atual - e ao mesmo tempo elevou a dívida pública (bom ler aqui sobre dinheiro sobrando nas mãos de  governadores e prefeitos devido o auxílio que a União foi coagida a prestar = matéria transcrita do Valor Econômico), mantendo essa forma absurda logo a dívida pública ultrapassa o PIB.]   já 

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Mas não tem como fugir de uma realidade social impactada pelos efeitos psicológicos da pandemia na vida das pessoas, em particular o luto dos amigos e familiares das vítimas de COVID-19, que não tem nenhum paralelo com o de outras causas mortis, inclusive porque o rito de passagem de seus funerais foi profundamente afetado pela ausência de velórios e os caixões fechados.

Negação e resiliência
Após naturalizar a pandemia, em algum momento, Bolsonaro haverá de pedir desculpas por esse comportamento, quiça na campanha leitoral de 2022, mas até agora não manifestou um sincero pesar pela escalada da pandemia. Seus lamentos foram sempre preâmbulos de alguma firmação que estabelecia como prioridade manter as atividades econômicas a qualquer preço. Acontece que essa prioridade é apenas retórica, na verdade, há um cada um por si, porque o governo abandonou as reformas, não tem prioridades, se digladia internamente e está prisioneiro das corporações e grupos econômicos que o apoiam. São inúmeros exemplos, os mais recente são os cancelamentos do projeto da BR do Mar nova Lei da navegação de cabotagem —, por exigência dos caminhoneiros, [o cancelamento do projeto BR do Mar tem que merecer maior atenção da imprensa - o governo não pode ceder à chantagem dos caminhoneiros  e deve envidar todos os esforços para livrar o Brasil da dependência das rodovias, tendo a obrigação de privilegiar a construção de ferrovias.

O transporte hidroviário também deve merecer atenção especial do governo. A construção e utilização intensivas de FERROVIAS e HIDROVIAS além de baratear o custo dos fretes - reduzindo o custo Brasil -  livra nosso Brasil de uma vez por todas da chantagem dos rodoviários. ]

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O luto ocorre porque a perda física do ente querido não elimina o afeto. É uma ausência de difícil aceitação no tempo em que ocorre, porque o amor sobrevive. Isso gera uma negação, que se manifesta de forma silenciosa, muitas vezes, como fuga da realidade; num segundo momento, vem a revolta, muitas vezes inconsciente e inexplicável. Leva tempo para que as pessoas superem a depressão subsequentemente e aceitem a perda, para que a vida plena se restabeleça. Mas não existe esquecimento. Aceitar não é deixar de sentir. O luto se torna essencial, um marco na vida pessoal. A resiliência diante da morte também gera simpatia ou engajamento em movimentos que sejam antítese do sua causa. É o caso dos familiares de vítimas de balas perdidas ou violência policial. Na pandemia, a naturalização das mortes pode ser apenas a primeira fase de um luto coletivo. Muito mais amplo e profundo.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense  - MATÉRIA COMPLETA