Lula não sabe mais o que falar. Depois da hecatombe que dizimou o seu
partido ficou desnorteado.
Disse que negar a política é ficar nas mãos
da elite. Na prática, reclamou do voto nulo, do voto em branco, do não
voto, dos que estão repudiando a política convencional. Logo ele que,
assim como a sua pupila Dilma, tratou de encarnar a própria negação da
política ao se recusar a votar. Vai entender! As abstenções de ambos nas
eleições do último domingo coroaram a derrocada petista e simbolizaram a
contradição em si que sempre marcou atos e palavras desses dois
mandatários. O que pregam, pedem e prometem não se escreve.
Ou, no
mínimo, não vale para eles, obedecendo ao velho ditado do “faça o que eu
digo, não faça o que eu faço”. Comportamento claramente autoritário,
diriam alguns. Propaganda enganosa de princípios, apontariam outros. De
qualquer maneira, é emblemático notar que Lula, em especial, tem uma
visão muito peculiar de seu papel na sociedade, como se estivesse acima
ou ao largo das regras de boa conduta que servem aos demais. Ainda nos
idos de 88, no papel de vestal da moralidade, questionando os chamados
crimes do colarinho branco, apontou que “rico não vai pra cadeia, vira
ministro”. Soou premonitório. Tempos depois, ele mesmo, numa clara
manobra para escapar das investigações da justiça, urdiu nos gabinetes
palacianos um plano para virar ministro de Dilma. Não deu certo por
intervenção do Supremo.
Na semana passada, ato contínuo a ausência nas
urnas, o líder do PT soltou a pregação regimental para alunos de uma
universidade: “Nós temos que aprender que cada vez mais, ao invés de a
gente negar a política, a gente tem que fazer política, porque a
desgraça de quem não gosta de política é que é governado por quem
gosta”. Quem o ouviu poderia facilmente confundi-lo com um fervoroso
defensor de ensinamentos democráticos.
Mas democracia não casa com
abstenção nas urnas. Como alguém pode ir às ruas pedir voto quando se
recusa a dar o seu próprio? Lula teve dessa vez a pachorra de reclamar
de algo que ele mesmo fez. E se superou. No primeiro turno, ainda movido
por bravatas, apostou alto. Afirmou que o PT iria surpreender nessa
eleição e provocou os paulistas: “Se o povo de São Paulo tiver a
inteligência que pensa que tem, ele não tem outra coisa a fazer que não
seja votar no Haddad”. Errou feio. Nos dois casos. Há algo de cretinice
naqueles que tentam julgar o voto alheio. Lula só gosta do jogo que lhe é
favorável. Do contrário, fala em sabotagem, protesta. Quando Dilma
estava para sofrer o impeachment ameaçou não sair mais das ruas. Na
verdade a abandonou à própria sorte. Às vésperas da sova que levou nas
eleições municipais, voltou a repetir a cantilena dizendo que correria o
País a alertar a população. Sumiu de cena após a lavada. Lula decerto
perdeu o eixo.
Não sabe mais o que fazer. Seus correligionários partem
em debandada. Ao menos 40 parlamentares do partido estão dispostos a
fundar uma nova sigla na qual Lula, réu e na iminência da prisão, não
deve ter papel de destaque. Muitos, às centenas, foram embora em
definitivo da legenda, desiludidos com a bandalheira, com as patéticas
desculpas, com as práticas endêmicas de enriquecimento ilícito, com a
fama petista – difícil de limpar – de agremiação criminosa. A maioria
não quer sequer Lula por perto. Os candidatos, de Norte a Sul do País,
pediram para ele se afastar durante a campanha, temendo a contaminação
de sua má reputação. Deplorável fim para quem já comandou as massas.
Lula e o PT que ele criou não são mais sequer arremedo daqueles tempos
gloriosos nos quais ambos pregavam o interesse da maioria em primeiro
lugar. Nos últimos dias, tudo que buscaram foi o poder a qualquer preço e
unicamente a seu favor e da patota.
Fonte: Revista IstoÉ - Carlos José Marques é diretor editorial da Editora Três
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sábado, 5 de novembro de 2016
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