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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Linha vermelha - O Globo

A humilhação pública a que foi submetido o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, pelo Estado de Israel, sendo repreendido no Museu do Holocausto diante de jornalistas, é exemplar da passionalidade que o tema desperta no povo judeu. E do erro grosseiro, diplomático, histórico e ideológico cometido pelo presidente Lula ao comparar uma reação excessiva de Israel ao ataque terrorista do Hamas à política de dizimação em massa levada a efeito pelos alemães contra os judeus na Segunda Guerra Mundial.

A única maneira de Israel voltar atrás na declaração de que Lula é persona non grata seria o Brasil pedir desculpas, e o recrudescimento da crise com a convocação do embaixador brasileiro de volta e a correspondente reprimenda ao embaixador de Israel no Brasil mostra que dificilmente teremos uma solução rápida para uma crise desnecessária.

Já que foi dito, seria preciso encontrar uma maneira que explique a frase, por meio de um comunicado, sem pedir desculpas. Mas a própria primeira-dama Janja já demonstrou como é difícil a tarefa de enrolar a língua de volta à boca. Se a ideia era criticar o governo israelense, e não o povo judeu, o improviso de Lula foi um ato falho revelador de seus sentimentos políticos.

O comentário do assessor especial da Presidência, Celso Amorim, de que quem deve desculpas é Israel, e não a Lula, à Humanidade, reflete bem o estado de espírito que tomou conta do governo brasileiro depois do escandaloso episódio. 
Não se trata mais de um conselheiro, mas de um militante de uma causa, sem a devida cautela. Ao se referir ao Estado de Israel, e não ao governo de Israel, um diplomata experiente como Amorim sabe que transforma uma política de governo numa política de Estado, jogando a acusação para Israel.

O Brasil tem todo o direito, e o dever, de denunciar os abusos do governo de Israel no combate ao Hamas. Se fizer uma conta rápida, dos milhões de judeus assassinados inequivocamente para exterminar um povo, com o que está acontecendo hoje em Gaza, não é possível aceitar uma comparação tão absurda. Além do mais, o assassinato em massa, com recursos tecnológicos para se repetir em escala industrial, denota o objetivo de eliminar uma etnia.

A reação do Estado de Israel ao ataque terrorista do Hamas, justificada pela barbaridade perpetrada, deveria ter sido controlada para evitar os excessos de força claramente havidos. 
Mas não há nem mesmo genocídio, segundo a Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, já passando para o campo da retórica política a qualificação que o governo brasileiro adotou em sua linguagem diplomática corriqueira, noutro deslize. Seria preciso tomar providências, de acordo com a CIJ, para evitar um ambiente político que leve ao genocídio, o que é muito grave, mas substancialmente diferente.
O presidente da República tem de ter mais conhecimento histórico, ou mais responsabilidade, cada vez que abre a boca. Ainda mais um que se pretende líder mundial e almeja papel relevante no cenário internacional, numa ação frenética em busca dos holofotes. Esse açodamento em busca do protagonismo acaba levando a armadilhas, como ser identificado pelo grupo terrorista Hamas como seu defensor, a ponto de ser elogiado numa declaração formal, prejudicando os palestinos que não têm nada a ver com terrorismo. 
 
Mistura alhos com bugalhos de maneira absurda, com consequências graves. A não ser por uma tendência ideológica contra o Estado de Israel, completamente fora da política tradicional brasileira, é inexplicável o que aconteceu.

Merval Pereira, colunista - O Globo



domingo, 4 de junho de 2023

Zanin nunca vai tomar alguma decisão contra Lula, e o STF também não - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Indicação de advogado é mais um deboche de um presidente que trata o Brasil como uma republiqueta bananeira qualquer

A indicação do advogado Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal é, além e acima de qualquer outra coisa, uma vergonha
 Deveria ser, logo de cara, uma vergonha para ele. 
Todo o mundinho oficial, parasita e subdesenvolvido que prospera em Brasília, às custas do erário público e em permanente estado de coma moral, vai fingir que não há nada de errado com mais essa aberração. Mas ele, Zanin, vai saber no fundo da alma, a cada minuto dos próximos 27 anos, que está no seu cargo unicamente porque é, ou foi, o advogado pessoal do presidente Lula e não por qualquer mérito de sua parte. 
Pode ser, é claro, que Zanin não sinta vergonha de nada e apenas diga para si próprio: “Me dei bem”. Para o Brasil e para os brasileiros, em todo caso, é uma humilhação. 
Em que país sério do mundo o presidente nomeia o seu próprio advogado para a Corte Suprema de Justiça? Em nenhum. Isso é coisa de Idi Amin, ou de alguma dessas ditaduras primitivas que desgraçam o quinto mundo, da Venezuela à Nicarágua, e que encantam cada vez mais o presidente da República.

É possível, humanamente, esperar que o novo ministro seja imparcial em alguma decisão que tome a respeito de quem até outro dia era o seu patrão? É claro que não. Se o Brasil tivesse um Senado, a quem cabe aprovar ou rejeitar a indicação, Zanin não iria resistir a quinze minutos de sabatina – seu nome, aliás, nem seria enviado para consideração

Mas o Brasil não tem Senado nenhum. O que tem é um escritório de despachantes a serviço do governo que aprova tudo o que Palácio do Planalto manda fazer. Vai ser apenas mais um espetáculo de hipocrisia, em que os senadores vão fingir que perguntam e o nomeado vai fingir que responde
Todo mundo, incluindo-se aí a maior parte da mídia e toda a elite que manda no País, vai fazer de conta que as “instituições” funcionaram mais uma vez e o caso fica resolvido. Pronto: Zanin estará no STF até o ano de 2050, quando não vão mais existir Lula, nem o seu governo e nem o mundo político como ele é hoje.
A influência de Zanin no conjunto do STF, em termos aritméticos, será de três vezes zero. Lula já tem ali, hoje, uma maioria infalível de 8 votos a 2; com Zanin, passará a ter de 9 a 2. 
Qual a diferença, na hora da votação? 
O STF já tirou Lula da cadeia, onde cumpria pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, alegando que o CEP do seu o processo estava errado. Anulou as quatro ações penais que havia contra ele – e, com isso, fez sumir a sua ficha suja. 
Mais que tudo, através dos serviços do TSE, colocou Lula na Presidência da República. 
Não foi preciso ter nenhum Zanin para isso. Também não será preciso daqui para a frente. O STF, há muito tempo, deixou de ser um tribunal de justiça e se transformou numa seita política que trabalha para Lula e para o sistema de interesses em torno dele atende a todas as suas exigências e persegue todos os seus adversários, numa espécie de sociedade de assistência mútua onde uma parte se serve da outra e, ao mesmo tempo, é servida por ela. 
O Congresso ou alguma lei estão atrapalhando o governo? Nenhum problema. Manda tudo para o Supremo, seja lá o que for, e os ministros resolvem. Zanin vai ser apenas um voto a mais nessa farsa.
 
O novo ministro, cujo escritório recebeu R$ 1,2 milhão do PT durante a campanha eleitoral de 2022, fora o que já havia ganho antes para cuidar da sua defesa, nunca vai tomar alguma decisão contra Lula.  
O STF também não – com ou sem Zanin no plenário. 
Sua nomeação, na verdade, acaba sendo apenas mais um deboche por parte de um presidente da República que trata o Brasil, cada vez mais, como uma republiqueta bananeira qualquer.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


domingo, 7 de maio de 2023

Por que tanta humilhação diante de um homem? - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo 

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

O poder acumulado por Alexandre de Moraes é algo a ser estudado com afinco no futuro pelos cientistas políticos que mergulharem nesse período sombrio de nossa nação.  
Como deixaram um ministro supremo mandar tanto? 
Que tipo de subserviência colocou tanta gente como capacho de uma só pessoa?

Durante o voto no STF sobre a graça concedida pelo presidente Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira, Alexandre simplesmente interrompia o seu colega André Mendonça como se fosse seu superior, num tom arrogante e intimidatório. "É jurista?", queria saber Alexandre sobre as fontes usadas pelo seu par - supostamente igual em poder.

Sim, um dos mencionados era jurista, inclusive foi colega do próprio Moraes. Mas este não passou recibo: "Mas nesse momento era candidato a deputado aliado de Bolsonaro". É isso um argumento... jurídico? O próprio Alexandre não foi filiado ao PSDB de Geraldo Alckmin?

E quando foi o próprio Alexandre quem utilizou a imprensa como fonte, como quando mandou a Polícia Federal realizar busca e apreensão na casa de empresários grandes por conta de uma matéria de fofoca num site que usou um print de uma conversa particular no WhatsApp? 
Ali a imprensa - o site Metrópoles, sem muita credibilidade - era a voz da verdade?
 
Os arroubos cada vez mais frequentes, o tom pedante, o autoritarismo incontrolável e a imensa quantidade de decisões claramente inconstitucionais saltam aos olhos, inclusive de juristas. 
Mas poucos, é verdade, têm a coragem de se manifestar em público. 
Por que tanta gente teme Alexandre? 
Por que sua caneta concentrou esse imenso poder arbitrário, sem qualquer freio?

São as perguntas que caberão aos estudiosos no futuro responder. Há teses, claro. Paula Schmitt, jornalista séria, acha que muito jornalista deu guinada ideológica e saiu dos ataques ao petismo e ao abuso de poder supremo para sua defesa depois da Vaza Jato, quando uma quantidade inesgotável de conversas particulares caiu nas mãos do STF.

Outros acham que existe uma proximidade do ministro com a turma do PCC.  
Há ainda aqueles que garantem que o "sistema" podre está por trás de cada passo do ministro, que jamais faria tudo que fez até aqui sem esse respaldo.

Não tenho a resposta, apesar de ser um dos alvos do ministro. Após denunciar em corte internacional o inquérito ilegal de que é relator, vítima, investigador, procurador e juiz, acabei eu mesmo sendo arrastado para ele, aparentemente pelo "crime" de opinar de forma crítica contra tanto abuso.

Só sei que esse poder todo é assustador, como é temerário o enorme silêncio cúmplice de tantos. "O poder sem limites fere o Estado de Direito", disse o próprio Alexandre ao votar contra o indulto concedido por Bolsonaro. Não sei se há ironia ou escárnio, ou se o ministro sequer percebe o quão escandalosa é esta fala vindo de quem vem.

Em seu editorial de hoje, o Estadão sobe o tom e chama o tal inquérito infinitamente elástico de "inquérito do fim do mundo", como o próprio ministro supremo Marco Aurélio Mello havia chamado. O jornal tucano diz: "STF usa inquéritos sobre ‘fake news’ e milícias digitais como pretexto para investigar até suspeita sobre cartão de vacinação de Bolsonaro. Nenhum juiz dispõe de competência universal".

"Too little, too late", diriam os americanos. Essa denúncia vem tímida demais, tarde demais. Para um jornal que, para se livrar de Bolsonaro, acabou passando pano para esse estado de exceção criado pelo STF em geral e o ministro Alexandre em particular, esse tipo de crítica tardia soa oportunista. Talvez parte da imprensa tenha se dado conta de que alimentou demais o monstro que pode devorá-la.

Não foi por falta de aviso. Lá atrás, diga-se de passagem, quando ainda era conveniente a essa turma chamar gente como eu de "blogueiro bolsonarista" e depois aplaudir o uso desse poder arbitrário para nos perseguir e nos calar.  
Primeiro pegaram o Allan dos Santos, mas eu não gostava dele mesmo...

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Fora, Alexandre de Moraes! - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr.

"Minhas férias"

Alexandre de Moraes piscada
Depois de ler a crônica “Fora, Alexandre de Moraes!”, ele e os demais ministros do STF botaram a mão na consciência, como se diz.- Foto: EFE


Ai, palavras, ai, palavras
Que estranha potência a vossa!
- Cecília Meireles

Depois de quinze dias de férias, ele estava em crise. “Para que servem todas as minhas palavras? Quaisquer palavras. Inclusive estas?”, perguntava o autor para o escritório vazio, para a Catota e até para os estranhos na rua. Nunca, never-ever, jamé (sic) um artigo de jornal foi capaz de fazer um déspota mudar de ideia. Nem o J’Accuse. Quanto mais uma crônica! Por que agora seria diferente? E, no entanto, ele perseverou. Vai quê.

Era uma questão até de respeito com o leitor. Afinal, havia pessoas indignadas nas ruas.  
Pessoas transbordando impotência e medo diante da injustiça e da arrogância.  
Pessoas tratadas como golpistas e antidemocráticas apenas por questionarem ou discordarem. 
Pessoas engolindo humilhação atrás de humilhação, escárnio atrás de escárnio, menosprezo atrás de - adivinha! - menosprezo.
 
“Fora, Alexandre de Moraes!”, escreveu ele. Só por diversão. Só para ter certeza de que ainda podia. Posso, né?  
E ficou olhando para a tela do computador como se esperasse um aviso do Grande Irmão o alertando para o pecado imperdoável: você está sendo antidemocrático, seu fascista! 
Como nada disso acontecesse, porém, ele se pôs a escrever. E foi então que o milagre começou a ganhar forma:

Aqui é preciso interromper o fluxo natural da narrativa para dizer que os leitores daquele tempo ficaram boquiabertos com os dois pontos que pairavam auspiciosamente no céu azul de primavera. Afinal, o autor falava em milagre, e não em maldição. O que, pensando bem, até fosse um defeito da crônica-que-mudou tudo. De qualquer modo, os leitores ficaram ali admirando o suspense que não tardou a se dissipar.

Assim que os dois pontos cruzaram o lábaro estrelado, o texto prosseguiu como que por encanto. A lógica impecável, as citações cuidadosamente garimpadas (inclusive a epígrafe), os argumentos lapidados, as contextualizações precisas, as análises abissalmente profundas da psique suprema, as metáforas de causar inveja a Shakespeare e, no fim, aquela exortação ao autossacrifício: fora, Alexandre de Moraes! Tudo havia se encaixado mais-do-que-perfeitamente. “Nasceu uma obra-prima!”, disse, na ocasião, um anjo desses que se empolgam demais e depois ficam com as bochechas vermelhas.

A obra-prima, porém, ainda não era milagre. Porque de nada adiantariam aquelas palavras todas se elas caíssem em ouvidos moucos ou, pior!, fossem sugadas pelo grande redemoinho de indiferença das redes sociais. Por sorte, para quem não acredita, ou pela Graça, para quem crê, eis que a crônica chamou a atenção de um assessor do Supremo.  
Que tomou o cuidado de imprimir as palavras e colocá-las cuidadosamente sobre a mesa do déspota, com um bilhetinho no qual, com algum esforço (ê letrinha feia, hein!), lia-se: “Quem esse cara pensa que é?! PRENDE ELE, ALEXANDRE!”.
 
A julgar pelo título, Alexandre de Moraes já estava até assinando o mandado de prisão. 
Mas lhe chamou a atenção a epígrafe com aquela poetisa que o minissenador Randolfe Rodrigues disse que era boa. 
E só por isso o déspota começou a ler. E, caramba!, não é que o cronista tinha razão mesmo? Quando percebeu, Alexandre de Moraes estava na última linha - e em prantos. “Data venia, eu só queria salvar a democracia”, repetia entre soluços, numa última e desesperada tentativa de se convencer disso.

Neste ponto os estudiosos divergem e até se pegam no tapa. Eu, que sou o autor desta joça, digo que o milagre estava na epifania de Alexandre de Moraes. Mas agora uns chatos inventaram de dizer que o milagre se estendeu pelos dias seguintes, abrangendo tudo o que entrou para a história com o nome meio cafona de Primavera Brasileira:

(Olha os dois pontos cruzando a abóboda celeste aí de novo, incréu!).
Alexandre de Moraes fez circular a crônica entre os demais ministros que, tocados por todas as qualidades literárias aqui já mencionadas, convocaram uma coletiva de imprensa para reconhecer os muitos erros cometidos nos últimos anos, pedir desculpas e, já que estavam ali mesmo, anunciar novas eleições. “Mas dessa vez sem candidato ex-presidiário!”, ressaltou um brincalhão Edson Fachin que, não pude deixar de perceber, até raspou o bigode. “E, daqui para frente, sem censura. Mesmo!”, acrescentou Cármen Lúcia, visivelmente constrangida, tadinha.

Assim a paz se fez no Brasil. É bem verdade que um ou outro petista cínico ainda tentou emplacar a narrativa de que tudo não passava de uma fantasia mequetrefe de um cronista de província voltando de férias. Mas de nada adiantou. No final das contas, prevaleceram não só os argumentos, citações, figuras de linguagem e até um ou outro afago pouco sincero que o autor incluiu no texto para apaziguar a ira suprema; prevaleceu sobretudo a exortação final que, apesar da cara jacobina, tinha um quê mesmo de sábio conselho maternal: fora, Alexandre de Moraes!

Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Lula impõe última humilhação ao PSDB - O Estado de S.Paulo

J. R. Guzzo

A agonia do partido, até algum tempo atrás uma legenda de primeira grandeza na política brasileira, está sendo demorada, vergonhosa e miserável

A agonia do PSDB, até algum tempo atrás um partido de primeira grandeza na política brasileira, está sendo demorada, vergonhosa e miserável. Sua última humilhação acaba de acontecer, e veio pela boca de alguém que deveria, pelo menos, ter um pouco de dó dos antigos tucanos e de seus projetos de salvar a pátria através da “socialdemocracia”.  

O PSDB e os seus líderes estão fazendo qualquer coisa para dizer que o ex-presidente, seu ex-adversário supremo, é um santo consagrado da política brasileira, mas não adianta. Lula não é homem de ter pena, nem de comportar-se com gratidão - ou, pelo menos, com educação. Pronunciou, com gosto, a sentença de morte do partido do “equilíbrio”, da “modernidade” e da “civilização europeia”. Precisava? O PSDB já não tem onde cair morto; seu “candidato presidencial”, João Doria, virou suco, suas chances de ganhar alguma coisa importante estão entre mínimas e nulas, e seus líderes se tornaram peças de museu. Mas Lula não perdeu a oportunidade de esfregar sal na ferida.

O desprezo público do candidato é tanto mais notável quando se considera que um dos seus novos serviçais de maior destaque, o ex-governador Geraldo Alckmin, foi a mais cara esperança que o PSDB e o “Brasil moderado” tiveram para voltar ao governo neste século. Alckmin, há pouco, dizia que Lula se candidatou à Presidência da República para “voltar à cena do crime”. De um momento para o outro, vendo o seu mundo tucano ir a pique, esqueceu tudo e passou a ser o devoto número 1 da esquerda e do seu líder máximo. Hoje é candidato a vice na chapa petista, e já chama as pessoas de “companheiro” e de “companheira”.

O ex-presidente poderia pensar em Alckmin e ter um pouco de pena do PSDB e suas redondezas, mas faz o contrário - em vez de ficar grato à tucanada, mostra desprezo por ela. No mais, e além de Lula, é uma debandada geral. Raramente os ratos nadam na direção de um navio que está afundando.

J. R. Guzzo, colunista -  O Estado de S. Paulo

 

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

As verdadeiras lições olímpicas - Ana Paula Henkel

Revista Oeste
 

Simone Biles é o reflexo da atual sociedade, que enaltece quem chora mais, quem se vitimiza e quem se ofende por tudo

Entramos em mais uma Olimpíada. De quatro em quatro anos vivemos, através das lentes dos fotógrafos e das telas de TV, acontecimentos que mexem emocionalmente com milhões de famílias pelo mundo. A torcida por seu país, histórias de superação, derrotas inesperadas, vitórias extraordinárias. Se o mundo dos esportes é fascinante, o dos esportes olímpicos é hipnotizante.

Todo atleta olímpico tem sua história, e ela é única. Caminhos parecidos entre atletas podem até se esbarrar, mas jamais serão iguais. Família, treinamentos, técnicos, escola, relacionamentos, contusões, traumas, tudo tem um peso diferente para cada atleta. É difícil estabelecer certezas nas muitas vias que cada um percorre até chegar a uma Olimpíada, mas é exatamente nas poucas e profundas similaridades entre nós que percebemos que existe algo em comum entre todos os que estão ali.

Como ex-atleta olímpica pelo Brasil em quatro edições dos Jogos, não tenho resposta para as centenas de perguntas que chegam até mim nesta época. Como mencionei, cada história é única, mas creio que posso afirmar uma ou duas coisas sobre esse mundo. Às vezes, assistindo aos Jogos com a família, os filhos perguntam “Como você sabia que isso ia acontecer, que ele erraria?”, “Como você sabia que ela recuperaria?”. A resposta é: não sei. Talvez algo no olhar, na linguagem corporal, alguma intuição por já ter estado lá e saber, na pele, o que pode estar passando naquele momento na cabeça daquele atleta. Todos nós ali já vivemos um turbilhão de emoções: medo, alívio, dor, alegria, decepção, dúvida, entorpecimento pela glória, humilhação pela queda.

Meu primeiro contato com os Jogos Olímpicos, e as emoções que eles podem trazer, foi em 1980, na Olímpiada de Moscou.  
No interior de Minas, em Lavras, lá estava a menina de 8 anos, aos prantos, assistindo à cerimônia de despedida daqueles Jogos com o inesquecível ursinho Misha, que também derramava uma lágrima numa coreografia feita pelo próprio público nas arquibancadas. 
Ali foi apenas o começo de um longo namoro e casamento com o esporte. Eu mal podia esperar pela próxima edição, e logo veio a Olimpíada de Los Angeles, em 1984, que nos deu a geração de prata no vôlei masculino num jogo inesquecível contra os donos da casa. 
Mas aquela Olimpíada me deu muito mais do que o amor necessário para querer defender o Brasil jogando vôlei. Ela me deu Gabriela Andersen. E eu nunca mais fui a mesma.
 
[Gabriela Andersen e
Kerri Strug, lições de coragem, espírito esportivo, respeito à equipe,  patriotismo...] 
 

Assim como as reuniões de família nesta semana para assistir aos eventos esportivos de Tóquio, em 1984 estávamos todos em casa diante da TV para acompanhar a chegada da maratona feminina. Foi quando Gabriela Andersen, da Suíça, entrou no Coliseu de Los Angeles e mudou para sempre minha alma de atleta. 
Ninguém se lembra quem foi ouro, prata ou bronze naquela prova, mas todos se lembram de Gabriela Andersen.

Os 30 graus centígrados de calor e umidade de agosto em Los Angeles estavam insuportáveis e longe das condições ideais para uma maratona. Além disso, Gabriela, de alguma forma, havia perdido a estação de água no caminho. Muito desidratada, a maratonista entrou no estádio olímpico quase tropeçando nas próprias pernas. Ela se inclinava desajeitadamente para a esquerda e para a direita, cambaleando através das raias da pista. Foi uma visão desesperadora para os espectadores nas arquibancadas e para os espectadores em todo o mundo que seguiam a prova pela TV. Milhares de pessoas assistiam atônitas àquela cena e torciam para que ela não desabasse. Diante daquela imagem emocionante e agonizante, o estádio inteiro, agora de pé, começou a incentivar Gabriela a completar a prova.

Seu marido, Dick Andersen, acompanhava angustiado das arquibancadas, enquanto os oficiais e médicos caminhavam ao lado dela perguntando sobre sua condição. Em entrevistas, Gabriela lembra que essa era a primeira maratona feminina em Olimpíadas e recorda o que dizia a si mesma: “’Tente continuar correndo’. ‘Tente ficar ereta’. Mas meus músculos simplesmente não respondiam e tudo se deteriorou nos últimos 400 metros. Nesse ponto, apenas pensei: ‘Estou na Olimpíada, não pare!’.”

Enquanto ela cambaleava, os gritos de incentivo de milhares de espectadores ficavam cada vez mais altos. “Lembro-me claramente dos aplausos e do barulho. Foi simplesmente incrível. Estava muito alto. Não esperava algo assim. Isso provavelmente me manteve de pé também!” No dia 23 de agosto de 1984, em Los Angeles, depois de 2 horas, 24 minutos e 52 segundos, Gabriela Andersen finalmente alcançou a linha de chegada, caindo nos braços de três médicos que a carregaram para fora da pista.

No mesmo 23 de agosto de 1984, em Minas Gerais, uma menina de 12 anos está quase sem conseguir respirar diante da TV, com os olhos cheios de lágrimas e hipnotizada por aquele momento. Uma única coisa passava pela minha cabeça: “Agora eu entendi”. Eu havia sido engolida pelo verdadeiro espírito olímpico.

[Simone Biles, uma lição de egoísmo,  falta de espirito esportivo, falta de solidariedade, covardia...]

Como em toda Olimpíada, um drama marcou Tóquio nesta semana. A superestrela da ginástica e atual campeã olímpica Simone Biles desistiu da competição individual geral dos Jogos para se concentrar em seu “bem-estar mental”. 
 A decisão veio um dia depois que Simone se retirou da final de equipe após uma apresentação bem abaixo do esperado no salto.
 Ao falar para a imprensa, ela citou sua saúde mental como o motivo. Ao comunicar a saída de sua maior estrela, a federação norte-americana de ginástica disse em um trecho da nota oficial: “Após uma avaliação médica adicional, Simone Biles retirou-se da competição individual geral final. Apoiamos de todo o coração a decisão de Simone e aplaudimos sua bravura em priorizar seu bem-estar. Sua coragem mostra, mais uma vez, por que ela é um modelo para tantos”.
Posso até entender a decisão de Simone. Dramas psicológicos no mundo esportivo, principalmente no universo da alta performance, não são raros. As pressões são muitas, eu sei. Não conheço as condições psicológicas da atleta e o que, de fato, a levou a tomar essa decisão. Posso tranquilamente me solidarizar com suas possíveis batalhas internas, e espero que ela saia desse redemoinho mental que, muitas vezes, pode ser perigoso. Dito isso, meu problema com essa situação é outro. O primeiro é o fato de que Simone não competia sozinha
Ela fazia parte de uma equipe que dependia dela, que se preparou e treinou durante anos para este momento. 
Com sua decisão, a atleta não prejudicou apenas o seu caminho. Respeitaria muito mais as suas palavras se elas fossem suportadas com o ônus de uma decisão individual.  
Simone não fez isso. Depois da performance com notas baixas na qualificação, ela desistiu. A melhor ginasta do elenco dos EUA, uma das atletas olímpicas norte-americanas mais festejadas de todos os tempos, optou por abandonar seu time no meio da final. 
Suas companheiras de equipe perderam o ouro e terminaram em segundo, atrás da lendária rival na ginástica, a arqui-inimiga Rússia. Medo do fracasso?

Na coletiva, com as companheiras tentando mostrar algum apoio, mas ainda com os olhos arregalados e um pouco perdidos, Simone Biles reclamou que a Olimpíada não foi “divertida” neste ano: “Estes Jogos Olímpicos, eu queria que fossem para mim mesma quando entrei e eu senti que ainda estava fazendo tudo isso para outras pessoas”. Mais tarde, ela disse que é importante “colocar a saúde mental em primeiro lugar” porque, se não o fizer, “você não vai gostar do seu esporte” e reclamou da “pressão” que está sofrendo.

Sinceramente? Não há nada de terrivelmente surpreendente nas razões que ela apresentou. A pressão a que está submetida uma atleta mundialmente famosa em um palco global é bastante pesada, tanto no nível emocional quanto no físico. Não é um crime desistir sob pressão, mas quando isso se tornou algo para ser admirado com profunda reverência? Esse é meu segundo problema em todo esse evento.

Se Simone Biles tivesse desistido da competição em equipe e se desculpado após o fato, com um pouco mais de humildade, talvez o público reagisse de outra maneira e o assunto seria encerrado. É difícil competir em Olimpíadas. Todos nós temos, uma vez ou outra, vontade de desistir de tudo. É por isso que, quando alguém desiste, normalmente balançamos a cabeça e dizemos: “Que pena, sinto muito”, e seguimos em frente com nossa vida.

Vitória não é apenas vencer os adversários e abraçar a glória, é superar os próprios limites

O problema é que agora somos exortados a não apenas entender por que alguém desiste de algo. Temos de aplaudi-lo por isso. O que torna a história de Simone Biles preocupante não é que a equipe de ginástica feminina teve de se contentar com uma medalha de pratao que me incomoda é o fato de que a atual mídia e partes da sociedade querem que celebremos a covardia de um soldado ao abandonar seus companheiros no campo de batalha. Poderíamos tranquilamente dizer: “Simone Biles desistiu da Olimpíada, ela está com problemas. Que pena”. Mas o que querem é que digamos: “Simone Biles desistiu. Não estará mais com o time porque ela precisa pensar nela. Que ato corajoso!”.

Não, não, não é corajoso. Pode ser humano, mas é o oposto de coragem. Ter coragem é colocar o time acima de suas dores, físicas ou emocionais, quando você já está comprometida com ele. Simone Biles poderia ter se inspirado na ginasta Kerri Strug, também norte-americana, que competiu na Olimpíada de 1996, em Atlanta. Na disputa por equipes, um evento dominado pelos soviéticos por décadas e nunca vencido pelos Estados Unidos, os norte-americanos competiriam com as seleções da Rússia, Romênia e Ucrânia. Depois de um salto, Kerri aterrissou bruscamente e lesionou dois ligamentos no tornozelo. Ela era a última peça do time que poderia trazer o ouro para as norte-americanas. Diante da importante lesão, a ginasta poderia ter desistido, mas se negou a abandonar a competição. A equipe médica tentou estabilizar o tornozelo com esparadrapos, e Kerri, com dois ligamentos comprometidos, saltou… Sim, o final é esse mesmo que você está pensando. As norte-americanas venceram, e Kerri foi carregada até o pódio para receber o tão sonhado ouro olímpico em equipes para a ginástica dos EUA.

Entre muitos esportes olímpicos, talvez a ginástica seja um dos mais cruéis com seus atletas. Além da pressão física, há casos de supressões hormonais (para que as atletas não cresçam) e até de assédio e abusos sexuais. Não sabemos o que sucedeu na mente de Simone Biles, e ela não é uma vilã por ter desistido, mas também não é uma heroína. Simone é o reflexo da atual sociedade, que enaltece quem chora mais, quem se vitimiza e quem se ofende por tudo. Em uma sociedade com balaios coletivistas, divididos em categorias “negros”, “mulheres”, “gays” etc., é interessante ver que aplausos, elogios e contratos de publicidade são dados àqueles que colocam exatamente as suas necessidades e desejos pessoais em primeiro plano.

Gabriela Andersen, hoje com 76 anos, em uma entrevista para o canal oficial dos Jogos Olímpicos, disse que o que a surpreendeu foi a compaixão e a reação dos espectadores e dos atletas. Ela relata que estava com muita vergonha pela performance ruim (Andersen chegou em 37º lugar, quase último) e que se sentia culpada. Ela achava que não merecia tanta atenção. “Na época eu teria trocado por qualquer coisa entre o 10º e o 15º lugar para não ter aquilo que considerei apenas um espetáculo”, disse. “Mas agora, olhando para trás, posso ver que as pessoas se identificaram por causa da luta. Se você realmente se dedicar, poderá superar muitos obstáculos. Há lição em tudo.”

Vitória não é apenas vencer os adversários e abraçar a glória, muitas vezes entorpecente e traiçoeira. É superar os próprios limites e, como Gabriela Andersen, inspirar milhões a não desistir, mesmo chegando em último lugar, mesmo com o ego ferido. O espírito olímpico é justamente o da superação e do sacrifício, mesmo que isso não lhe traga nenhum esplendor. E essa lição não fica restrita ao esporte, ela o acompanha por toda a vida. Salve, Gabriela Andersen!

Leia também “Deixem os Jogos Olímpicos em paz”

Ana Paula Henkel, colunista -  Revista Oeste


segunda-feira, 21 de junho de 2021

Nise Yamaguchi diz ter sido humilhada na CPI da Covid e processa Aziz e Otto Alencar por danos morais

A médica pró-cloroquina disse que passou a ser "extremamente vilipendiada" nas redes sociais após depoimento na CPI. Em carta divulgada neste domingo, a médica Nise Yamaguchi justificou [doutora, não há o que justificar, todos que faltaram com o respeito à Senhora e a outros depoentes na Covidão, cometeram ilícitos e devem ser processados; aliás, temos recomendado ao presidente Bolsonaro não deixar passar em branco nenhuma mentira que for assacada contra Jair Bolsonaro (pessoa física) e Jair Bolsonaro, presidente da República Federativa do Brasil.
Acusou, caluniou, tem que ser processado, levado aos tribunais e não provando arcar com as consequências - tanto na área cível, quanto na penal.] as ações movidas contra os senadores Otto Alencar e Omar Aziz alegando ter sido humilhada e desrespeitada durante sua oitiva na CPI da Covid.
“Por diversas vezes, tive minhas falas e raciocínios interrompidos. Ignoraram meus argumentos e atribuíram a mim palavras que não pronunciei. Não foi por falta de conhecimento que deixei de reagir, mas, sim, por educação. Não iria alterar a minha essência para atender a nítidos interesses políticos”, disse. 
A partir daquele momento, passei a ser extremamente vilipendiada nas redes sociais com agressões em tons ameaçadores, o que é muito preocupante para um estado democrático.”

Como mostramos, a médica pró-cloroquina processou os dois senadoresEla pede indenização de R$ 160 mil por danos morais a cada um dos parlamentares. Durante o depoimento de Nise, Otto Alencar fez uma série de perguntas, começando com o pedido para que a médica explicasse a diferença entre protozoário e vírus. [até que nessa tentativa de humilhar a doutora Nise Yamaguchi, via protozoário x vírus, o senador Otto Alencar, merece alguma consideração - aquele médico é um esculápio antigo, o que não é nenhum demérito, que não se atualizou = nos seus tempos de estudo a técnica mais moderna para curar doenças era usando sanguessuga (conhecimentos que não envolvem o  ilustre senador nas estripulias do seu colega do Senado - o petista Costa, vulgo 'drácula'.] -

Nise Yamaguchi processou os senadores Omar Aziz — presidente da CPI da Covid — e Otto Alencar. Ela diz ter sido vítima de “misoginia” e “humilhação” durante seu depoimento à comissão. Na ação, Nise afirma que Aziz e Otto “perpetraram um verdadeiro massacre moral” e agiram “intencionalmente com morbo e com deliberada crueldade no escopo de destruir a imagem da médica perante toda a sociedade brasileira”.

Durante o depoimento de Nise, Otto fez uma série de perguntas, começando com o pedido para que a médica explicasse a diferença entre protozoário e vírus. “A senhora não sabe nada de infectologia. A senhora não estudou, foi superficial. Não leu, não estudou. De médico audiovisual este plenário está cansado, de alguém que viu, ouviu e não leu, não se aprofundou.”

[Para fins de atualização, dos nossos leitores e de médicos desatualizados sobre protozoários x vírus, a Sociedade Brasileira de Protozoologia (SBPz) publicou Nota Técnica que esclarece o assunto.]

 O Antagonista  - Transcrição Parcial

 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Juiz terá que se explicar ao CNJ sobre condução do julgamento de Mariana Ferrer

Corregedoria Nacional de Justiça abre procedimento disciplinar para avaliar comportamento de magistrado de Santa Catarina que permitiu ataques verbais do advogado do réu contra a jovem que fez a denúncia. OAB vai investigar possíveis desvios éticos do defensor

A Corregedoria Nacional de Justiça instaurou um expediente, ontem, para apurar a conduta do juiz Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, no comando do julgamento de um processo de estupro de vulnerável, em setembro, em que o advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho ofendeu a influenciadora digital Mariana Ferrer, 23 anos, autora da denúncia. Acusado do crime, o empresário André Aranha foi absolvido.
[a posição do Blog Prontidão Total, sempre divulgada e conhecida por nossos leitores É, FOI e SEMPRE SERÁ de punição severa para estupradores.
Nossa sugestão por várias vezes divulgada,  é de que no primeiro estupro o réu condenado,  seja punido com pena mínima de 10 anos de reclusão = regime fechado - e castração química, mediante o uso obrigatório de  medicação adequada que o deixe impotente para a prática sexual;
vindo o réu a ser beneficiado com progressão de regime ele deverá comparecer, diariamente, a um hospital público para receber seu 'remédio', devendo comprovar mediante atestado médico o atendimento desta exigência, devendo o atestado ser apresentado a cada 15 dias à VEP.
O não atendimento desta exigência implicará na revogação da progressão.
No caso de reincidentes a pena mínima permanece em10 anos, sendo a castração física, irreversível, realizada em estabelecimento médico penal.] 

Ontem, as gravações da audiência foram tornadas públicas, mostrando momentos de humilhação sofridos por Mariana Ferrer, sem que o juiz ou outras autoridades presentes interferissem. Na denúncia, a influenciadora alegou ter sido dopada e estuprada por André Aranha no camarote VIP de um clube, em Jurerê Internacional, em dezembro de 2018. Ela apresentou áudio, com a fala embaraçada, pedindo ajuda a amigos. Exames realizados pelas autoridades provaram que houve o ato sexual, bem como a ruptura do hímen da vítima, que era virgem.

“Graças a Deus eu não tenho uma filha do teu nível e também peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher feito você. (...) Isso é seu ganha pão né, Mariana? É o seu ganha pão a desgraça dos outros. Manipular essa história de virgem. (…) Não adianta vir com esse teu choro dissimulado, falso”
Cláudio Gastão Filho, advogado do acusado

“Excelentíssimo, eu estou implorando por respeito, nem os acusados de assassinato são tratados do jeito que estou sendo tratada. Pelo amor de Deus, gente”
Mariana Ferrer, influenciadora digital

“As provas acerca da autoria delitiva são conflitantes em si, não há como impor ao acusado a responsabilidade penal, pois, repetindo um antigo dito liberal, ‘melhor absolver cem culpados do que condenar um inocente’”
Rudson Marcos, juiz da 3ª Vara Criminal de Florianópolis

Advogado do réu, Cláudio Gastão da Rosa Filho, mostrou fotos de Mariana em “posições ginecológicas” para sustentar que “a história de ser virgem” não passaria de uma manipulação e a acusando de utilizar-se da própria virgindade para promoção nas redes. As imagens pessoais, no entanto, não têm nenhuma relação com o caso.

Mariana tentou interromper o advogado, acusando-o de assédio moral, mas ele continuou: “Graças a Deus eu não tenho uma filha do teu nível e também peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher feito você. Não dá pra tu dar o teu showzinho. Teu showzinho você vai lá dar no Instagram depois, pra ganhar mais seguidores. Tu vive disso”, disparou. (…) “Mariana, vamos ser sinceros, fala a verdade. Tu trabalhava no café, perdeu o emprego, está com aluguel atrasado há sete meses, era uma desconhecida. Vive disso. Isso é seu ganha pão né, Mariana? É o seu ganha pão a desgraça dos outros. Manipular essa história de virgem. (…) Não adianta vir com esse teu choro dissimulado, falso, e essa lágrima de crocodilo.”

[Nosso posicionamento favorável a punições rigorosas para o estuprador não impede que tenhamos também o entendimento de que o estupro deve ser provado - por todos os meios válidos em juízo.

No caso em questão, se conclui que o acusado foi denunciado por duas vezes, e na primeira a acusação foi de estupro de vulnerável - considerando o alegado pela vítima de que havia sido dopada, não estando em condições de expressar concordância a prática do ato sexual ou de reagir.

Exames médicos realizados na ocasião comprovaram a realização do ato sexual e o rompimento do hímen. 

Com a troca do promotor - para assumir outra promotoria - o substituto concluiu não haver provas de estar a vítima em condições de vulnerabilidade: "Defesa e MP sustentaram que a jovem estava consciente durante o ato sexual — e não sob forte efeito de drogas —, portanto, não haveria estupro de vulnerável". O juiz concordou que não poderia ser caracterizado como estupro de vulnerável, entendimento também abraçado pela defesa do acusado.

O ato sexual entre dois adultos, capazes, ocorreu. Não foi juntado aos autos nenhuma prova válida de de que a 'estuprada' estava incapaz. O fato da Mariana ser virgem, alegação provada ter sido 'perdida' na ocasião do alegado estupro, não constitui atenuante nem agravante.

Só que não há nos autos nenhuma prova de que houve estupro. 

"Código Penal

Estupro 

Art. 213.  Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. 
§ 1o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. 
§ 2o  Se da conduta resulta morte: 
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.”
Violação sexual mediante fraude 
Art. 215.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
Parágrafo único.  Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
” 

DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

“Ação penal

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação.

Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.”
Não tendo ocorrido o estupro, não ocorreu crime. A citação do 'estupro culposo' deve-se ao jornal 'the intercept', nos parece  que buscando uma manchete chamativa.
A conduta do juiz, que é o responsável pela ordem durante a sessão foi lamentável e cabe ao TJSC e/ou ao CNJ adotar as medidas cabíveis. O advogado tem uma conduta péssima, mas não consta que tenha desobedecido ao juiz.
Não consta que o promotor tenha protestado junto ao juiz  contra a incontinência verbal do advogado. Eventual manipulação das fotos íntimas, também vexatórias,  da influenciadora digital nos parece que não foi provada] 

Enquanto isso, o promotor do caso, Thiago Carriço de Oliveira, e o juiz Rudson Marcos acompanharam calados os ataques. A única intervenção do magistrado foi ao dizer para a vítima se recompor e tomar água e pediu ao advogado para manter “o bom nível” da audiência. Mariana respondeu: “Excelentíssimo, eu tô implorando por respeito, nem os acusados de assassinato são tratados do jeito que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente. O que é isso?”

Além de o juiz estar na mira da Corregedoria, Cláudio Gastão é alvo de apuração disciplinar interna pela secção de Santa Catarina da Ordem dos Advogados do Brasil. “A OAB/SC, por intermédio de seu Tribunal de Ética e Disciplina, atua no sentido de coibir os desvios éticos. Estamos dando sequência aos trâmites internos que consistem em oficiar ao advogado para que preste os esclarecimentos preliminares necessários para o deslinde da questão”, informou, em nota oficial.

Já o Senado aprovou, por unanimidade, voto de repúdio a Cláudio Gastão, ao juiz Rudson Marcos e ao promotor Thiago Carriço de Oliveira “por deturparem fatos de um crime de estupro com base em acusações misóginas”. Na mesma direção, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) recorreu ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ele protocolou uma reclamação disciplinar para analisar a atuação do juiz do caso. Na visão do parlamentar, houve omissão por parte do juiz “ao permitir que o advogado de defesa dirigisse ofensas à honra e a dignidade da vítima”.

“Equivocadas”
Em nota, a assessoria de imprensa do MP informou que o promotor Thiago Carriço de Oliveira se manifestou sobre os excessos cometidos pela defesa, mas em uma parte da audiência que não foi revelada. O órgão declarou, ainda, que a absolvição do empresário se deu por falta de provas. “Não é verdadeira a informação de que o promotor de Justiça manifestou-se pela absolvição de réu por ter cometido estupro culposo, tipo penal que não existe no ordenamento jurídico brasileiro. Salienta-se, ainda, que o promotor de Justiça interveio em favor da vítima em outras ocasiões ao longo do ato processual, como forma de cessar a conduta do advogado, o que não consta do trecho publicizado do vídeo”, diz o comunicado.

O MP definiu a difusão de informações como equivocadas, “com erros jurídicos graves, que induzem a sociedade a acreditar que em algum momento fosse possível defender a inocência de um réu com base num tipo penal inexistente”. Por fim, criticou a postura do advogado, não condizente “com a conduta que se espera dos profissionais do direito”.

De acordo com o MP, a 23ª Promotoria de Justiça da Capital, que atuou no caso, reafirma que “combate de forma rigorosa a prática de atos de violência ou abuso sexual” e que, por isso, ofereceu a denúncia. “Todavia, no caso concreto, após a produção de inúmeras provas, não foi possível a comprovação da prática de crime por parte do acusado.”

Já o advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho afirmou, em comunicado à reportagem, que o “posicionamento adotado foi para elucidar os fatos e mostrar a verdade perante a falsa acusação”, mas que não ia comentar os trechos “fora de contexto” de um “processo que correu em segredo de Justiça”. O juiz Rudson Marcos não se pronunciou sobre o caso.

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O MP catarinense disse, porém, que a absolvição não foi baseada no argumento de “estupro culposo” (sem intenção), como afirmou o The Intercept, mas “por falta de provas de estupro de vulnerável”.

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