[Devemos ter pena dos que morrem em hospitais; mortes na cadeia sempre atingem bandidos e todos concordam: "bandido bom é bandido morto".]
A matemática não fecha. São 662 mil presos para 372 mil vagas. Números de uma realidade que lida com uma nova variável: mais de 130 detentos foram mortos nos 20 primeiros dias do ano, em apenas três presídios. A atual crise do sistema prisional não só mostrou ao país cenas de barbárie, mas também expôs uma rotina de violência e domínio de facções criminosas — cotidiano que ultrapassa os muros das cadeias. Hoje, o GLOBO apresenta histórias de parentes, de detentos e até de gente que ajudou a construir um sistema que mais parece o retrato de uma sociedade medieval, mas que faz parte do Brasil do século XXI.
Cela do presídio Ary Franco, uma unidade de custódia no Rio de Janeiro - Divulgação
A história de um presídio projetado como um modelo de ressocialização, mas transformado em símbolo de descontrole, exemplifica a falência do sistema carcerário no Brasil.
Alcaçuz - A tropa de choque da PM precisou usar balas de borracha e
entrar na penitenciária para conter a briga - ANDRESSA ANHOLETE / AFP
Prestes a completar duas décadas de história, a penitenciária viveu cenas de barbárie, no que foi considerada uma das maiores rebeliões do sistema prisional brasileiro, que vitimou pelo menos 26 detentos e deixou dezenas de feridos. A história era para ser outra. Planejada pelas arquitetas Lavinia Negreiros e Rosanne Albuquerque, a unidade nasceu com um conceito de humanização e buscava quebrar a sequência de violência da Penitenciária João Chaves, o “Caldeirão do Diabo”.
A Penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta, Região Metropolitana de Natal, foi pensada para ser o oposto de um antigo presídio, conhecido como “Caldeirão do Diabo”. Virou uma mera reprodução.