Secretaria diz que buscou isolar empresário de ‘facções criminosas’
Responsável por fiscalizar o cumprimento das execuções penais no Rio, o
promotor André Guilherme Freitas, do Ministério Público do Rio e que
atua na Vara de Execuções Penais (Vepe), vê favorecimento a Eike Batista
na definição, pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) do
Rio, da Penitenciária Bandeira Stampa, conhecida como Bangu 9, para o
empresário cumprir a prisão preventiva executada ontem pela Polícia
Federal (PF).
Em casos de pessoas presas preventivamente que respondem a processo
na Justiça Federal, como Eike, o destino no sistema penitenciário do Rio
tem sido uma de duas unidades: ou Bangu 8, para os presos com curso
superior, como o ex-governador Sérgio Cabral, ou o Ary Franco, em Água
Santa, para os que não têm direito a cela especial.
Mais antigo e superlotado, o Ary Franco tem condições bem piores que
Bangu 9. Foi na unidade de Água Santa onde Eike passou pela triagem, teve a cabeça raspada e vestiu o uniforme de detento. Duas horas depois, por volta de 13h30m, foi levado a Bangu.
— Este interno não tem o perfil desta unidade (Bangu 9). Ela é
vinculada a milicianos e servidores presos. Ele deveria ficar na Galeria
C do Ary Franco, onde estão os presos federais que não têm curso
superior. É um presídio com grande incidência de celulares. Quem errou
foi quem determinou isso — diz o promotor André Freitas, habituado a
fiscalizar os presídios do Rio, e para quem o Ary Franco tinha condições
de receber o empresário. — Não é um presídio ideal, mas não teria
qualquer risco (à segurança).
DEPOIMENTO HOJE À TARDE
Em ofício enviado
ontem à 7ª Vara Federal Criminal do Rio, que determinou a prisão de
Eike, o secretário estadual de administração penitenciária, coronel Erir
Ribeiro, explica o motivo que o levou a decidir pela transferência de
Eike a Bangu 9. Erir diz que procurou “resguardar a integridade física”
de Eike, “uma vez que o Presídio Ary Franco também custodia presos
ligados a facções criminosas”. O secretário diz ainda que a Seap já
tomou a mesma decisão, de transferir do Ary Franco para Bangu 9, outros
dois presos pela PF em operações contra a corrupção.
A preocupação com a integridade física de Eike foi também o argumento usado pela defesa do empresário,
em uma petição enviada à 7ª Vara Federal na sexta-feira, quando ele
ainda estava foragido. Assinada pelo advogado Fernando Martins, a peça
pede que a prisão preventiva decretada seja transformada em domiciliar
ou, caso isso não fosse possível, que Eike fique preso na
Superintendência da PF, na Praça Mauá. O advogado alega que, dada a
“notória visibilidade” de Eike no país, “seu encarceramento em
estabelecimento penal em conjunto com diversas pessoas com conhecimento
de sua vida financeira e social coloca sua integridade física em risco e
torna iminente a ameaça à sua vida."
Hoje à tarde, o empresário será levado à Superintendência da PF para depor à força-tarefa da Lava-Jato no Rio.
MPF E PF NEGAM ACORDO
Indo a Bangu 9, Eike não
foi encaminhado nem para a sede da PF, como queria a defesa, nem para o
Ary Franco, como vinha sendo a praxe para presos em sua condição. Em nota enviada ao GLOBO, o Ministério Público Federal (MPF),
responsável pelo pedido de prisão de Eike, afirmou que “não houve
qualquer acordo entre MPF e a defesa de Eike Batista”, e que “a alocação
dos presos nas unidades prisionais é responsabilidade da Secretaria de
Administração Penitenciária (Seap), com a aplicação das normas
pertinentes e tendo em vista a segurança do preso”.
A Polícia Federal também declarou que, quando encaminha um preso ao
sistema prisional no Rio, “a responsabilidade passa a ser da Seap”. Depois de ser preso à saída do avião que o trouxe de Nova York, Eike
foi levado ao Instituto Médico-Legal, e depois ao presídio Ary Franco.
Lá, foi recebido aos gritos de “ladrão!” por quase uma centena de
parentes de presos que aguardavam para visitar os familiares na unidade.
Ainda ontem, o advogado José Antonildo Alves de Oliveira protocolou
no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, a segunda instância da
Justiça Federal no Rio, pedido de habeas corpus para Eike. Os advogados
do empresário afirmaram que ele não faz parte da defesa.
AGENTE É PRESO AO INFILTRAR CELULARES
Na
comparação com o presídio Ary Franco, em Água Santa, de onde dois presos
que ganharam a liberdade ontem saíram se queixando da extrema lotação e
da comida escassa e azeda, a Penitenciária Bandeira Stampa, conhecida
como Bangu 9 e onde Eike está desde a tarde de ontem, é menos
sacrificante para o novo inquilino. Destinada preferencialmente a
detentos que cumprem pena de crimes ligados às milícias e a servidores
públicos presos, Bangu 9 tem 542 vagas. Segundo dados do sistema da Seap
de dezembro, havia um excesso de 110 internos. Ontem à noite, o “RJ TV”
informo que, hoje, há 422 presos, sem lotação. Cada cela de Bangu 9
comporta de seis a oito detentos, dispostos em três ou quatro beliches.
Há um cano com com água fria para banho, e um buraco no chão faz as
vezes de vaso sanitário. O preso tem direito a levar TV e ventilador.
Segundo promotores do MP do Rio, tem sido recorrente a infiltração de
celulares e outras regalias aos presos. Ontem mesmo, o agente
penitenciário Nelson Rego Lira foi preso em flagrante quando entrava em
Bangu 9 com uma mochila com fundo falso, que escondia dois celulares,
chips, remédios para disfunção erétil e R$ 2.800, como informou o
“Extra”.
Fonte: O Globo - Colaborou Antonio Werneck