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sexta-feira, 1 de maio de 2020

É preciso cautela com testes rápidos para detectar novo coronavírus – Editorial - O Globo

Anvisa liberou testagem em farmácias, mas especialistas alertam que eles são pouco precisos

Desde que a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil, em fins de fevereiro, o país enfrenta problemas para testar as pessoas, como preconiza a OMS. Em 24 de março, quando o Ministério da Saúde contabilizava cerca de 2.200 casos e 46 mortes por Covid-19, o então ministro Luiz Henrique Mandetta prometeu 22,9 milhões de testes. Entre a intenção e a realidade, havia um fosso aberto por uma demanda planetária e uma oferta limitada, concentrada principalmente na China. O novo ministro, Nelson Teich, agora fala em 46 milhões de testes. Mas eles ainda são artigo raro nas unidades de saúde de todo o país.

Sem a testagem necessária e com queda nos índices de isolamento, a epidemia acelera — já são 85.380 casos e 5.901 mortes — e não se sabe exatamente o tamanho do problema. Devido à subnotificação, o panorama é nebuloso. Segundo o portal Covid-19 Brasil, que reúne pesquisadores de várias universidades brasileiras, o número de infectados já estaria na casa de 1,2 milhão. Ou seja, 16 vezes mais que o oficial, que considera basicamente os casos graves da doença. Mesmo nos registros de mortos há subnotificação. Os óbitos causados por síndromes respiratórias este ano estão acima da média, o que indica que podem estar contaminados por casos de Covid não identificados.

Na terça-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a realização provisória de testes rápidos para Covid-19 em farmácias e drogarias — eles terão de ser feitos no próprio local por profissionais capacitados. O diretor-presidente do órgão, Antonio Barra Torres, argumentou que a liberação será uma estratégia útil na diminuição da aglomeração em hospitais e na procura por serviço médico na rede pública.

No entanto, a medida pouco altera o grave cenário da epidemia no país, podendo confundir ainda mais. Segundo especialistas, esses testes rápidos são pouco precisos e, muitas vezes, atestam falsos negativos. Ou seja, a pessoa tem o vírus, mas ele não é detectado. Isso poderia levar a uma situação de relaxamento da quarentena, agravando o problema de saúde pública. Na verdade, eles são uma boa ferramenta para estudar o avanço da doença, como, aliás, o próprio Ministério da Saúde já vem fazendo. Portanto, a população deve ter cautela com esses testes. O balcão da farmácia, ainda que mais acessível, não substitui UPAs ou hospitais.


Ministério da Saúde, estados e prefeituras devem seguir a recomendação da OMS para conter a pandemia: isolamento e testagem em massa. Foi essa receita que usaram os países que conseguiram frear a disseminação da doença. Vários estados do país já vivem situação de emergência. Ela se torna pior quando se trabalha com números irreais.

Editorial -  Jornal O Globo