O doutor Manoel de Queiroz Pereira
Calças tomou posse como presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Centrou o seu discurso da defesa da Lava Jato. Defendeu a ética e a
moralidade. Citou casos de corrupção. Todos eles ocorridos no âmbito,
vamos dizer assim, da política. Eis um mal que tem de ser combatido sem
tréguas, claro!
Mas parece que o doutor Calças ou não
gosta de aritmética ou ignora a sua existência. Se a corrupção fosse um
dos dois maiores males do país, seria o segundo. O principal é o rombo
nas contas públicas. Talvez a corrupção tenha algo a ver com isso, mas o
peso é marginal. O déficit da Previdência corrói o nosso futuro. Os
gastos para manter benefícios inaceitáveis a funcionários públicos
graduados também. Por alguma estranha razão, o doutor
Calças não considera que seja essa uma questão atinente à ética e à
moralidade. E ele resolveu desafiar de peito aberto o que considera uma
campanha contra os juízes. Vale dizer: se os políticos se intimidaram
diante da investida da Justiça e do Ministério Público, que os colocaram
a todos num saco de gatos pardos — tratando como coisas idênticas caixa
dois e corrupção, e nenhum dos dois é coisa bonita —, a gente vê que os
magistrados e o Ministério Público resolveram desafiar bem mais do que o
senso comum: eles partiram para a afronta ao bom senso mesmo.