Legendas de
aluguel, candidatos de olho nas urnas, agremiações majoritárias e o
elenco geral de parlamentares, governadores, prefeitos e agregados não
pensam em outra coisa no momento. A “mãe” de todas as reformas, aquela
que toca diretamente no destino e bolso dessa constelação de dependentes
do voto, entrou na ordem do dia. Tem prazo até meados de setembro para
ser aprovada. Caso contrário, suas regras não terão validade nas
eleições de 2018. Sem ela será um “Deus nos acuda”. Repeteco de velhos
vícios. Tramoias nas coligações. Acordos espúrios buscando tempo de
veiculação de propaganda na TV. Disparada na quantidade de partidos na
disputa. E mais grave, na concepção daqueles que estarão na corrida pela
preferência popular: a falta de dinheiro.
Sim, é com isso que estão
fundamentalmente preocupados. Na prática, a turma do Congresso está
fazendo a reforma política para resolver caixa de campanha. Arranjar um
recursozinho extra. Meter a mão na bufunfa do Tesouro Público. Simples
assim. Depois da proibição das contribuições de empresas. Depois da
atenção redobrada da polícia sobre os esquemas de Caixa Dois. Depois do
desencanto dos eleitores com seus representantes – enojados que estão
devido às falcatruas sem fim. Depois, em resumo, da secura nas fontes de
financiamento só restou como alternativa apelar ao erário. E é o que
estão fazendo, com incontrolável desfaçatez, os menestréis do
legislativo. Como medida um, já votada a toque de caixa, com a adesão da
quase totalidade dos membros da comissão encarregada de analisar a
matéria (25 dos 34 integrantes disseram sim e ainda ocorreram
abstenções), formalizou-se a criação do famigerado “Fundo Especial de
Financiamento da Democracia”.
A pomposa nomenclatura libera uma espécie
de cheque gordo, da ordem de R$ 3,6 bilhões, para bancar os gastos das
legendas em 2018. Um despautério! Ainda mais se levando em conta a
existência do chamado Fundo Partidário, que já recebe R$ 800 milhões de
subvenções do Estado distribuídas proporcionalmente a cada sigla.
Com a verba adicional – de cunho democrático, como frisam seus
idealizadores até no eufemismo bolado para desculpa – o falido modelo em
vigor sai robustecido. O “Fundo Democrático” não deixa de ser uma
contabilidade paralela. Uma grana de “pai para filho”, digamos,
generosa. Assim a farra dos políticos recomeça de maneira revigorada
daqui por diante. Não há como evitar. Prezados contribuintes,
brasileiros cumpridores de deveres e pagadores de impostos, irritados
com o pouco caso que fazem de suas economias, saibam de antemão: o custo
extra pesará de novo nas suas costas. Informalmente, a Câmara dos
Deputados e o Senado Federal já fecharam questão nesse sentido. Faltam
leitos em hospitais, carteiras nas escolas, ônibus nas ruas. O País anda
carente de uma enormidade de investimentos públicos. Mas o dinheiro dos
políticos parece sagrado.
Não pode faltar. Surge como prioridade por
deliberação dos próprios. De Norte a Sul, o desejo maior que brotou nas
seguidas discussões por mudanças foi por uma reforma política que
varresse do mapa a picaretagem predominante na atividade. Ainda há
chances de algo dessa natureza ocorrer através de outros instrumentos em
estudo. Eles ficaram em segundo plano nas negociações, mas não estão
descartados. A cláusula de barreira, por exemplo, que deverá servir para
limitar o festival de siglas em operação, é uma delas. O
aperfeiçoamento no regime de sucessão em caso de vacância de poder,
especialmente no que se refere à presidência da República, é outra. Os
mandatos nos tribunais – que terão prazo máximo de dez anos – e os
modelos de posses, em um calendário mais racional, também entram no rol
de revisões positivas. O “distritão”, onde cada estado vira um distrito e
os mais votados são eleitos, representa por sua vez um erro. Se, por um
lado, ele evita que deputados supervotados carreguem outros do partido
ou da coligação com mau desempenho nas urnas; por outro, o “distritão”
traz vários efeitos colaterais indesejáveis. Entre eles, o de tornar sem
efeito boa parte da participação dos eleitores, gerando um
“desperdício” de votos. Isso ocorre porque os votos dados “em excesso” a
determinados candidatos são desconsiderados, assim como aqueles
lançados em nomes que não conseguiram quórum mínimo para uma vaga. De
uma maneira geral, reformas de qualquer natureza devem ser bem-vindas
desde que contemplem o interesse da maioria. No presente caso, a minoria
ruidosa dos parlamentares colocou na frente suas conveniências. Mau
começo e sinal de que ainda não aprenderam.
Fonte: Editorial - IstoÉ - Carlos José Marques
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sábado, 12 de agosto de 2017
Recomeça a farra política
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