Credibilidade é crucial para o sucesso das reformas propostas pelo presidente
O governo ainda não apresentou detalhes de sua proposta de reforma da
Previdência dos militares. Mas muitos analistas têm sustentado que por
ser membro da corporação, Bolsonaro não eliminará as prerrogativas e
privilégios da caserna, atuando como garantidor do statu quo. Evidências
empíricas, porém, sugerem o contrário ou, no mínimo, um quadro mais
complexo. A reforma mais dura já aprovada para a Previdência dos servidores
públicos no país foi capitaneada pelo governo Lula, que desfrutava de
enorme apoio entre os sindicatos do setor público. A reforma aprovada no
início de seu mandato (PEC 41/2003) foi estrutural e não meramente
paramétrica, estipulando que os novos servidores públicos não teriam
mais aposentadoria integral. [A Lula e sua quadrilha interessava, e muito, retirar a aposentadoria integral dos servidores públicos (mesmo com a categoria contribuindo sobre o máximo do salário e não sobre o teto do INSS) para forçar sua ida para a previdência complementar, dando margem a criação de um fundo, ou fundos, de previdência complementar = mais uma fonte de recursos para Lula e a corja da esquerda assaltarem - basta ver o desmonte que fizeram no Postalis, Petros, entre outros.]
Para esses, a reforma previa inicialmente o teto do INSS como valor
máximo de aposentadoria. Criou-se, assim, um amplo mercado para fundos
de previdência complementar (em regime de contribuição definida), que
foram instituídos com a criação do Funpresp. O paradoxo da viabilidade política de “cortes na própria carne” é
conhecido na literatura de economia política de reformas como argumento
“Nixon na China”. A referência são trabalhos de Dani Rodrik e de A.
Cukierman e Mariano Tommasi no famoso artigo “Why it Takes a Nixon to Go
to China?” (“Por que é preciso um Nixon para se ir à China?”),
publicado no American Economic Review.
A lógica do argumento é que só um anticomunista “durão” (“hawk”) como
Richard Nixon (1913- 1994) pode iniciar uma abertura para a China —em
visita histórica ao país em 1972— sem ser acusado de estar capitulando
ou transigindo com o adversário. A resistência à iniciativa consequentemente arrefece. Barganhas
políticas estão ancoradas em expectativas e reputação que são
absolutamente cruciais no caso de reformas impopulares que impõem custos
a grupos específicos.Isso explica por que presidentes de esquerda logram aprovar reformas
pró-mercado. Setores de esquerda dirão “se vem deles, deve ser mesmo
necessário”: contarão com os votos da esquerda e da direita.
No caso da PEC 41, houve importante defecção da esquerda em virtude da
revisão, levando à criação do PSOL. O governo contou com o apoio do
resto da base (85%), além de 2/3 de votos dos partidos fora dela. FHC, ex-professor da USP, aprovou dura reforma paramétrica, em 1998, que
eliminou inúmeras distorções, inclusive a aposentadoria especial de
professores universitários (que, à semelhança dos militares, ao se
aposentarem subiam um degrau na carreira).
FHC e Lula foram à China. E Bolsonaro?
Marcus André Melo, professor