Infelizmente, os brasileiros se acostumaram a cair como
“patinhos” na conversa, nas promessas, e nos discursos inverídicos dos políticos,
que mais falam ou escrevem o que o povo gosta ou quer ouvir, e que de modo geral passa muito distante da verdade, mas que, por outro lado,
“rendem” muitos votos nas urnas.
Essa verdadeira armadilha “eleitoral” forçou uma espécie de
“seleção” natural, conseguindo reunir na política, majoritariamente, a pior escória da sociedade, cujo perfil de caráter, altamente comprometido com valores pervertidos, se ajusta
perfeitamente às preferências dos eleitores, cujo padrão de “consumo” de
políticos deixa muito a desejar, devido, principalmente, à má formação política, à ingenuidade, ou mesmo o interesse individual acima dos
coletivos.
Essa lamentável
realidade pode ser observada através dos
maiores protagonistas políticos do
Senado e da Câmara Federal, ou seja, dos seus respectivos Presidentes, o senador
Davi Alcolumbre, e o deputado Rodrigo
Maia, que inclusive servem de “amostragem” dessa triste realidade,e que na democracia “interna” dessas duas Casas
Legislativas, são os seus mais legítimos
representantes, inclusive no aspecto de
“caráter”.
Voltando um “ouquinho” no tempo. Na Antiga Grécia (Século V a.C),se viu algo muito
parecido com o que se passa na política
brasileira de hoje. Os “sofistas” surgiram na Grécia, no período
“pressocrático”, durante a plenitude da civilização helênica, estabelecida
principalmente através das guerras
vitoriosas contra os persas, o desenvolvimento do comércio, das arte, das
ciências, e a grandeza econômica. Eram antigos professores de música e fil osofiahomens venais e sem convicções, ambiciosos de riqueza, fama
e glória. Mais retóricos que filósofos, ensinavam
à juventude ateniense, atraída pelos encantos da eloquência,a arte de defender o
“pró”e o “contra” em todas as questões, o segredo de aproveitar qualquer
situação, galgando sempre as melhores posições sociais numa democracia
volúvel e irrequieta. Em síntese,os sofistas serviam-se das armas da razão para
destruir a própria razão.
Sobre as ruínas
da verdade ,erigiam o próprio interesse
como valor supremo. Dentre eles, os maiores destaques foram Protágoras
(480 a.C-411 a.C), para quem “o homem é a medida de todas as coisas”, e Górgias
(480 a.C-375 a.C),autor de “Do não-ser”. Sócrates ( 469 a.C-399 a.C) reagiu aos sofistas,e a partir
dele a filosofia construiu alicerces
mais sólidos e condizentes com a realidade. O maior objetivo da sua vida passou
a ser livrar a juventude da nefasta influência dos sofistas. Mas acabou sendo
acusado pelos inimigos a quem combatia de “corromper a mocidade”. Por isso foi
condenado e executado. Teve que beber o
veneno “cicuta”.
Importante é sublinhar que Sócrates foi condenado à morte porque na sociedade
predominantemente sofista em que ele vivia , buscar e falar
a verdade era o maios grave dos
crimes. Pior que matar pessoas, estuprar
e roubar. Mas não seria exatamente isso o que estaria acontecendo no
Brasil de hoje,onde a opinião pública dominante
“pensa” exatamente como a
juventude ateniense corrompida pelos sofistas? Porventura a grande maioria dos
políticos brasileiros não estaria procedendo exatamente como faziam os sofistas
da Grécia? Permanentemente ,”enganando” o povo?
E conquistado os seus votos?
O Ministro da Economia do Governo Jair Bolsonaro, Paulo
Guedes, que não tem absolutamente nada de político, caiu na “asneira” e “cometeu o crime” de afirmar publicamente uma
grande verdade, que qualquer um pode enxergar a olho nu, no sentido de que
grande parte dos servidores públicos, não
todos, é claro, seriam “parasitas”,certamente no sentido de que estariam sendo
remunerados acima do que valeria o seu trabalho. A “gritaria” contra as palavras
de Guedes foi ensurdecedora. E só por aí já deu para ver a enorme população de
“parasitas” que estão “encastelados” no Estado. Os não-“parasitas” certamente
não reclamaram, e nem poderiam sentir-se ofendidos.
Ora,a verdade contida na “sentença” de Guedes pode ser
constatada na simples comparação entre a produtividade dos trabalhadores da
iniciativa privada, e da pública. No setor privado não há lugar para
“parasitas”, que só arranjam lugar,” cômodamente”, no setor público, onde
possuem uma “estabilidade” que lhes garante o direito de trabalhar, ou não trabalhar. Exemplo típico dessa situação se
enxerga no dia-a-dia. Quando se vê servidores públicos municipais fazendo
reparos nas ruas das cidades,por exemplo,enquanto um deles trabalha e faz
força, outros 4 (quatro) ficam olhando e fiscalizando. Esse quadro se inverte
quando os trabalhadores são de empreiteiras da iniciativa privada. Um
fiscaliza, e quatro fazem força.
Mas Guedes falou só “meia verdade”. No serviço público os maiores parasitas não são
propriamente os servidores públicos que
passaram em concursos públicos e são regidos pelo respectivo “estatuto”. Os
maiores parasitas estão entre os chamados “cargos de confiança”, de livre
nomeação dos políticos, que são “milhões”, e entre os chamados “agentes
políticos”, constituídos pelos parlamentares das três esferas da Federação
(União,Estados,e Municípios),magistrados, procuradores, e diversas outras categorias funcionais. [atualizando: cumpre lembrar que os magistrados, procuradores - em síntese: MEMBROS do MP e do Poder Judiciário - fazem concurso público para ingresso na instituição.
A única função que não exige concurso público, que não exige que o indicado, nomeado, tenha formação na área para a qual foi indicado (no caso, bacharel em direito) é o de ministro do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
Por uma suprema ironia se exige do indicado o notório saber jurídico - que é aferido em uma sabatina realizada pelo Senado Federal, com grande componente político - e reputação ilibada.
Tanto que um cidadão que passe na sabatina e tenha reputação ilibada, pode ser nomeado ministro do STF, mesmo que tenha sido reprovado em concurso público para juiz de primeira instância.]
Porém Guedes também omitiu que ele próprio deve ser
considerado um grande parasita, incluído entre os donos
dos meios de produção, entre os
“capitalistas”, ”patrões”,já que a sua origem liga-se aos banqueiros ,aos
rentistas, aos usurários,que vivem da exploração da usura,do dinheiro. Guedes,portanto,tem a sua origem lá no “capital financeiro”,que também pode ser
considerado,dentre os “capitais”,o
“capital parasita”, se comparado ao capital industrial,ou fundiário
(exploração da terra),dentre outros, e que efetivamente produzem riquezas e bens diversos para a sociedade. Guedes, portanto,
não tem nenhuma moral para chamar quem quer que seja de “parasita”.
Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo