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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

GUEDES TAMBÉM É PARASITA - Sergio Alves de Oliveira



Infelizmente, os brasileiros se acostumaram  a  cair como “patinhos” na conversa, nas promessas, e nos discursos inverídicos dos políticos, que mais falam ou escrevem o que o povo gosta ou  quer  ouvir, e que de modo geral passa muito distante da verdade, mas que, por outro lado, “rendem” muitos votos nas urnas.

Essa verdadeira armadilha “eleitoral” forçou uma espécie de “seleção” natural, conseguindo  reunir  na política, majoritariamente,  a pior escória da sociedade,  cujo perfil de caráter,  altamente comprometido com  valores pervertidos, se ajusta perfeitamente  às preferências  dos eleitores, cujo padrão de “consumo” de políticos deixa muito a desejar, devido, principalmente, à má  formação política, à ingenuidade, ou  mesmo o interesse individual acima dos coletivos.

Essa  lamentável realidade pode ser observada  através dos  maiores protagonistas políticos do Senado e da Câmara Federal, ou seja, dos seus respectivos Presidentes, o senador Davi Alcolumbre, e o  deputado Rodrigo Maia, que inclusive servem de “amostragem” dessa triste realidade,e  que na democracia “interna” dessas duas Casas Legislativas, são os seus mais  legítimos representantes, inclusive  no aspecto de “caráter”.        
                                 
Voltando um “ouquinho” no tempo. Na  Antiga Grécia (Século V a.C),se viu algo muito parecido com o que  se passa na política brasileira de hoje. Os “sofistas” surgiram na Grécia, no período “pressocrático”, durante a plenitude da civilização helênica, estabelecida principalmente  através das guerras vitoriosas contra os persas, o desenvolvimento do comércio, das arte, das ciências, e a grandeza  econômica. Eram antigos professores de música e  fil osofiahomens venais e  sem convicções, ambiciosos de riqueza, fama e  glória. Mais retóricos que filósofos, ensinavam à juventude ateniense, atraída pelos encantos da eloquência,a arte de defender o “pró”e o “contra” em todas as questões, o segredo de aproveitar qualquer situação, galgando  sempre  as melhores posições sociais numa democracia volúvel e irrequieta. Em síntese,os sofistas serviam-se das armas da razão para destruir a própria razão. 

Sobre as ruínas  da verdade ,erigiam o próprio interesse  como valor supremo. Dentre eles, os maiores destaques foram Protágoras (480 a.C-411 a.C), para quem “o homem é a medida de todas as coisas”, e Górgias (480 a.C-375 a.C),autor de “Do não-ser”. Sócrates ( 469 a.C-399 a.C) reagiu aos sofistas,e a partir dele a filosofia  construiu alicerces mais sólidos e condizentes com a realidade. O maior objetivo da sua vida passou a ser  livrar a juventude da nefasta  influência dos sofistas. Mas acabou sendo acusado pelos inimigos a quem combatia de “corromper a mocidade”. Por isso foi condenado  e executado. Teve que beber o veneno   “cicuta”. 

Importante é sublinhar que Sócrates foi  condenado à morte porque na sociedade predominantemente sofista em que ele vivia ,  buscar e falar  a verdade era o maios grave  dos crimes.  Pior que matar pessoas, estuprar e roubar. Mas não seria exatamente isso o que estaria acontecendo no Brasil de hoje,onde a opinião pública dominante  “pensa” exatamente como  a juventude ateniense corrompida pelos sofistas? Porventura a grande maioria dos políticos brasileiros não estaria procedendo exatamente como faziam os sofistas da Grécia? Permanentemente ,”enganando” o povo?  E conquistado os seus votos?

O Ministro da Economia do Governo Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, que não tem absolutamente nada de político, caiu na “asneira” e  “cometeu o crime” de afirmar publicamente uma grande verdade, que qualquer um pode enxergar a olho nu, no sentido de que grande parte dos servidores  públicos, não todos, é claro, seriam “parasitas”,certamente no sentido de que estariam sendo remunerados acima do  que valeria o  seu trabalho. A “gritaria” contra as palavras de Guedes foi ensurdecedora. E só por aí já deu para ver a enorme população de “parasitas” que estão “encastelados” no Estado. Os não-“parasitas” certamente não reclamaram, e nem poderiam sentir-se  ofendidos.

Ora,a verdade contida na “sentença” de Guedes pode ser constatada na simples comparação entre a produtividade dos trabalhadores da iniciativa privada, e da pública. No setor privado não há lugar para “parasitas”, que só arranjam lugar,” cômodamente”, no setor público, onde possuem uma “estabilidade” que lhes garante o direito de trabalhar, ou não  trabalhar. Exemplo típico dessa situação se enxerga no dia-a-dia. Quando se vê servidores públicos municipais fazendo reparos nas ruas das cidades,por exemplo,enquanto um deles trabalha e faz força, outros 4 (quatro) ficam olhando e fiscalizando. Esse quadro se inverte quando os trabalhadores são de empreiteiras da iniciativa privada. Um fiscaliza, e quatro fazem força. 

Mas Guedes falou só “meia verdade”. No  serviço público os maiores parasitas não são propriamente os servidores públicos  que passaram em concursos públicos e são regidos pelo respectivo “estatuto”. Os maiores parasitas estão entre os chamados “cargos de confiança”, de livre nomeação dos políticos, que são “milhões”, e entre os chamados “agentes políticos”, constituídos pelos parlamentares das três esferas da Federação (União,Estados,e Municípios),magistrados, procuradores, e  diversas  outras categorias funcionais. [atualizando: cumpre lembrar que os magistrados, procuradores - em síntese: MEMBROS do MP e do Poder Judiciário - fazem concurso público para ingresso na instituição.
A única função que não exige concurso público, que não exige que o indicado, nomeado, tenha formação na área para a qual foi indicado (no caso, bacharel em direito) é o de ministro do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
Por uma suprema ironia se exige do indicado o notório saber jurídico - que é aferido em uma sabatina realizada pelo Senado Federal, com grande componente político -  e reputação ilibada.
Tanto que um cidadão que passe na sabatina e tenha reputação ilibada, pode ser nomeado ministro do STF, mesmo que tenha sido reprovado em concurso público para juiz de primeira instância.] 
 
Porém Guedes também omitiu que ele próprio deve  ser  considerado um grande parasita, incluído entre  os donos  dos meios de produção, entre os  “capitalistas”, ”patrões”,já que a sua origem liga-se aos banqueiros ,aos rentistas, aos usurários,que vivem da exploração da  usura,do dinheiro.  Guedes,portanto,tem a sua origem lá  no “capital financeiro”,que também pode ser considerado,dentre os “capitais”,o  “capital parasita”, se comparado ao capital industrial,ou fundiário (exploração da terra),dentre outros, e que efetivamente produzem riquezas  e bens diversos para a sociedade. Guedes, portanto, não tem nenhuma moral para chamar quem quer que seja de “parasita”.


Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo