A
corrupção do PT inventou algo novo: corromper para governar, pois revolucionário pode
roubar em nome do Bem. Nunca na história houve uma
roubalheira organizada como essa
Converso
com muita gente culta, de gravata, e concluo: três milhões de pessoas
foram protestar nas ruas, mas pouca gente entende realmente o que está
acontecendo no Brasil profundo. Profundo no sentido de detalhes
contábeis, dos segredos de gaveta que só os carunchos conhecem. Ninguém sabe
nada. Essa deficiência da opinião pública é que os petistas usarão para arrasar
o governo do Temer. Como o presidente em exercício tem pouco tempo, e como a c***da deixada por Dilma e PT foi imensa, teremos dois anos (se Deus ajudar) para reorganizar a economia, que teve perda quase total.
É difícil, por causa das sabotagens e da lentidão brasileira. Por isso, Lula
está adorando o impeachment de Dilma. É a melhor coisa que podia lhe ter
acontecido. O Sarney disse outro dia na gravação que Lula estava muito
deprimido. Deve estar, mas não é uma melancolia inócua, passiva, sem rumo; não, Lula está se preparando para sapatear em cima dos erros e
dificuldades inevitáveis desse governo.
Agora, ele e seu PT podem partir para a oposição, contando com uma
população imensa de imbecis que serão convencidos de que o
impeachment foi só para acabar com a Lava Jato. A narrativa deles será a
de que todo mundo sempre roubou e que eles só entraram na regra do jogo.
Mentira. A corrupção do PT inventou algo novo:
corromper para governar, pois revolucionário pode roubar em nome do Bem. E,
assim, bateram um recorde mundial: nunca na história do mundo houve uma
roubalheira organizada como essa.
Temer tem
a difícil tarefa de andar na corda bamba, no fio da navalha entre uma equipe
econômica de primeiro time e um restolho de vagabundos, que aparelharam
ministérios e repartições em geral. Se bobear, Temer
pode eleger o Lula em 18, se o ‘grande líder do povo’ não for em cana. Uma
transição de governo intempestiva gera medo, mas também uma esperança de
mudança imediata. “Ahhh…, acabou o PT, o ‘petrolão’ – agora seremos
felizes.” Auriverde ilusão de minha terra…
O
problema é que a herança maldita dessa terrível senhora é um emaranhado
infernal para se consertar. Em dois anos, seríamos uma Venezuela. E esta é a
felicidade do Lula: a
expectativa dos mal informados (que são a maioria) vai se esfarinhar e o Temer será culpado pela c•••da que o PT
deixou no meio-fio. A culpa vai ser dele em pouco tempo.
Brasileiro
‘assiste’ ao Brasil. Brasileiro assiste à política como um Fla x Flu,
torcendo, xingando juiz, mas quer que o Estado resolva tudo, pois não sabe que
o Estado é o problema e não a solução. A sociedade protesta, mas não sabe como
tomar as rédeas. Este governo tem um só caminho: conquistar um apoio da
sociedade, para que ela entenda que não se trata de ideologias e, sim, de uma
tragédia contábil. “É a economia, estúpidos!” (citando
o refrão batido do James Carville.)
Temer vai
ter de arrumar as contas. Só. E, aí, vem a esparrela: como
expulsar 100 mil vagabundos aparelhados no governo? Como impedir que volte a lama
debaixo do tapete? Nosso complexo de impotentes renasce feito rabo de lagarto.
Debaixo de nossos olhos, a máquina da sordidez nacional ressuscita, como um
monstro de ficção científica, um “Alien”.
Os
escândalos, cada vez maiores, não podem encobrir o dano nas contas públicas. E tem mais: vai haver aumento de
impostos, sim. Não adianta chorar. É impossível, só com ajustes e cortes, resolver o buraco da Dilma de R$ 170 bilhões jogados no lixo. E aí? Como explicar? Esse é o maior perigo: a teia de escândalos pode mascarar os urgentes acertos da
República devastada.
Precisamos
que o Temer dê certo, ao menos na economia. Porque ninguém vai às ruas apoiá-lo. Todo mundo
tem medo de apoiar governos. É impossível imaginar que brasileiros vão às ruas
para defender o ajuste fiscal: “Queremos ajustes!”. É mais fácil ser contra. A oposição enobrece, a adesão é
humilhante. Por outro lado, os militantes pagos da CUT, do MST e
outras siglas vão para as ruas, gritar contra. Rolam
boatos fortes de que o PT está reunindo muita grana para comprar uns três
senadores. É possível. [Romário,
o falido, já começa a dar declarações que dão pista que está a venda.]
Por isso,
acho que uma das coisas mais sérias que este governo tem de buscar é a
comunicação com o país. Vi outro dia o Temer
falando e achei que ele está imbuído de um desejo real de entrar para a
história como um cara que ajudou a consertar o Brasil. Houve momentos
em que ele mostrou uma virilidade legal. Por exemplo, quando disse que já tinha sido secretário de Segurança em SP
e que não tinha medo de bandido. Ali, o povo gostou. Acho que gostou
também quando ele disse que não tem medo de errar e que, se errar em algo,
consertá-lo-á. Acho ótimo um presidente falando em mesóclises. Melhor que a
Dilma na mandioca. Temer tem de falar, muito, explicar para a população o
que significa esta fase de nossa vida, muito além de corrupção ou ideologias.
Tem
de explicar. Olho no olho. Sem propaganda. Tem de conquistar um carisma. Tem de explicar, como numa
gramática, o que é dívida pública, gastos inúteis, aparelhamento do Estado; as
pessoas têm de saber contra o que estão gritando ou marchando. A corrupção
imensa, pavorosa, não é o núcleo da questão. Ela nasce das condições arcaicas
de dentro da organização política e administrativa. Nossa formação patrimonialista
está explodindo agora, depois de séculos. É preciso criar um espaço simbólico
para esta presidência transitória.
FHC não
explicou com clareza o que estava fazendo em seu governo. FHC não conseguiu criar um
espaço reconhecível pela opinião pública, que não pode ser confundido com
propaganda ou marketing. Por isso, seu excelente governo, que acabou com a
inflação e nos jogou num novo mundo administrativo, acabou arrasado pela oposição do PT diante de uma opinião pública
desinformada, aérea. É preciso que as pessoas se sintam passageiras no
trem do seu governo.
É
importante que o lado ‘espetaculoso’ das denúncias não crie uma
institucionalização da zona. Há um velho hábito de
acharmos que o Brasil não tem jeito. O perigo é ficarmos cínicos,
fatalistas e desesperados. Se não der certo,
estamos f***dos.
Fonte: Arnaldo Jabor – O Estadão