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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Os checadores de memes - Rodrigo Constantino

Nossa velha imprensa afunda cada vez mais, mostrando-se patética. Vamos recapitular: Bolsonaro tinha uma viagem marcada há meses para a Rússia, e calhou de cair num momento delicado de tensão entre Putin e a Ucrânia. Pronto! Foi o suficiente para que jornalistas criassem uma narrativa ridícula, dando uma dimensão que o evento não merecia.

Se Bolsonaro cancelasse a viagem, certamente essa mesma turma diria que nosso presidente é subserviente ao "imperialismo estadunidense", um vassalo de ianques. Como Bolsonaro optou por manter a ida, então a narrativa passou a ser a de que era um trapalhão no meio da confusão, e que significaria apoio ao Kremlin, o que é absurdo - o tema da viagem era comercial apenas.

O momento criou um dilema para o governo brasileiro mesmo, e qualquer escolha tinha seu downside. Em vez de considerar a coisa pelo que ela era, a mídia preferiu investir nos ataques de sempre ao presidente.  
Cara a imprensa ganha, coroa Bolsonaro perde.  
Não há o que ele possa fazer para evitar críticas descabidas desse partido de oposição que virou nossa mídia.
Pois bem: quando o avião de Bolsonaro está se aproximando do solo russo, Putin decide por uma manobra diplomática e retira parte das tropas da fronteira com a Ucrânia. Alguns bolsonaristas imediatamente viram aí uma oportunidade para tirar sarro dessa imprensa ridícula.  
O ex-ministro Ricardo Salles soou o apito: Inúmeros memes se seguiram, com Bolsonaro em cima de uma onça ao lado de Putin em cima de um urso, um vídeo com legenda mostrando Putin agradecendo Bolsonaro pela paz, os dois líderes sentados degustando um churrasco e por aí vai. 
Bolsonaro havia salvado o mundo, impedido a terceira guerra mundial, convencido Putin de recuar, usando seu leite condensado como arma!

E nossos jornalistas saíram em campo para... refutar piadas! Levaram a sério as brincadeiras, acionaram as agências de checagem para rebater as "Fake News", escreveram declarações constrangedores de quem prova não ter qualquer senso de humor.

A hashtag #BolsonaroEvitouAGuerra atingiu o topo de tendência no Twitter, com mais de cem mil menções. Os militantes das redações ficaram em pânico, desesperados, tentando "provar" que o recuo de Putin não teve ligação alguma com qualquer iniciativa de Bolsonaro. Eu mesmo não resisti à tentação e parti para as brincadeiras. Disse que se Bolsonaro for visitar a China, o Ursinho Pooh talvez possa renunciar e o PCC desistir do regime comunista e de tomar Taiwan. E também consegui meu "furo de reportagem":

Extra! Extra! Bolsonaro conseguiu "persuadir" Putin de recuar ameaçando exportar para a Rússia o curso de "homem sensível" ministrado pelo imitador de focas, e Putin reagiu alegando que perde a Ucrânia, mas jamais a masculinidade tóxica! Pode checar, Estadão!

A gente ri para não chorar, até porque teve mesmo gente na imprensa que "interpretou" a ida de Bolsonaro a Rússia como um esforço do presidente de exalar sua "masculinidade tóxica". Sim, a mídia chegou nesse nível. Basta ver o que disse uma chamada sobre a morte do cineasta Arnaldo Jabor:

Perderam o pudor de vez. É tudo torpe demais. A velha imprensa está perdida, mergulhada em seu ódio a Bolsonaro, histérica, sem qualquer senso de proporção, de prioridade e do ridículo. 
 Revolucionários não costumam ter senso de humor, pois são como missionários numa cruzada para "salvar o mundo", purifica-lo, e para isso precisam eliminar os "hereges", os "negacionistas". 
Nossos militantes de redação são revolucionários, são "woke", politicamente corretos, chatos, obcecados, deprimentes. 
São termos duros, eu sei, mas não dá para dourar a pílula aqui. 
Esse episódio da Rússia expôs de vez o papelão de nossa velha imprensa.

O problema, claro, é que isso tudo apresenta risco real de censura e perseguição, uma vez que há vários como esses jornalistas bobocas em instituições importantes. Adrilles Jorge resumiu bem o perigo: "A celeuma sobre os memes de Bolsonaro na Rússia traduz a origem perversa do inquérito das fake news: uma piada boba vira uma campanha  política de mentiras.Seria engraçada a falta de senso de humor da justiça se ela não perseguisse e prendesse pessoas por sua burrice articulada".

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Auxílio Brasil vai pagar R$ 415, mais que o dobro do Bolsa Família - Gazeta do Povo

Alexandre Garcia     

Orçamento de 2022

Congresso Nacional aprovou projeto de lei orçamentária para 2022, que prevê um Auxílio Brasil no valor de R$ 415

Como sempre, os congressistas deixaram para a última hora a votação do Orçamento do ano que vem. Aí é aquela correria e a gente nunca sabe se saiu um bom orçamento ou não. Mas o que se sabe é que a Comissão Mista do Orçamento aprovou uma redução de R$ 800 milhões no tal fundão eleitoral, que passou de R$ 5,7 bilhões para R$ 4,9 bilhões. E esses R$ 800 milhões de diferença vão para a educação, pelo menos isso. O fundo eleitoral de R$ 5,7 bi chegou a ser vetado pelo presidente da República, mas o Congresso Nacional derrubou o veto.

Os congressistas ainda deram um jeito de atender uma promessa do presidente Jair Bolsonaro de dar reajuste para policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes penitenciários federais. Para isso, reservaram R$ 1,7 bilhão. 
E também sobrou um pouquinho mais para o Auxílio Brasil, que em vez de R$ 400 vai pagar R$ 415 por mês, mais que o dobro do benefício médio que era pago pelo Bolsa Família. E vão poder aumentar também o salário mínimo em mais de 10%, coisa que não se via há mais de 6 anos. A partir de 1º de fevereiro será de R$ 1.210.

O Orçamento de 2022 destinou ainda R$ 16 bilhões para as emendas do relator. A metade disso vai praticamente para a saúde: R$ 7,3 bilhões.
 
Arrecadação recorde
E a propósito, a arrecadação federal, graças a nós, pagadores de impostos, registrou mais um recorde em novembro: R$ 157 bilhões. A arrecadação no ano de 2021 já é recorde, ainda sem contar dezembro, que é o mês de grande movimento comercial e que gera imposto. Até 30 de novembro, o governo da União arrecadou R$ 1,684 trilhão. É muito dinheiro, graças a nós, porque é parte do nosso trabalho. São os nossos impostos.

Comitê anti-Covid do Rio quer carnaval
O Comitê Especial de Enfrentamento à Covid do município do Rio de Janeiro aprovou duas medidas. A primeira é fazer o carnaval (?!?!), e a segunda é vacinar as crianças. 
Diz que o comitê é composto de médicos, cientistas, professores universitários, especialistas em saúde, integrantes da prefeitura municipal e o secretário de Saúde.

Ameaça a técnicos da Anvisa
A Polícia Federal já sabe quem foi que ameaçou o pessoal da Anvisa. O sujeito mandou um e-mail para lá dizendo que iria tirar o filho da escola se tentassem inocular nele essa "vacina experimental", e "quem atentar contra a segurança física do meu filho será morto. Isso não é uma ameaça, é um estabelecimento". Inclusive, vacina experimental é palavras dele, do e-mail.

A PF não pode indiciá-lo porque há uma orientação de 2016 que diz que em crime de menor potencial não há indiciamento.  
O crime de ameaça não é simplesmente ameaçar, dizer uma coisa para outra pessoa. 
Tem que comprovar que pode, que tem instrumento para isso e que tinha um objetivo nisso, de tirar uma vantagem disso.
(Nota do editor: A Procuradoria da República no Distrito Federal decidiu denunciar o suspeito à Justiça pelo crime de ameaça.)
 
Mortes estranhas
Cada vez mais jovens estão aparecendo com problemas que a gente nunca viu antes. Um menino de 10 anos em Igarapé (MG), perto de Belo Horizonte, foi arrancar um dente e morreu na cadeira do dentista.

Em Jaraguá do Sul (SC), que tem um belo corpo de bombeiros voluntário, um jovem de 25 anos, que era voluntário num hospital, foi receber a farda de bombeiro, porque tinha passado no concurso, e teve um ataque cardíaco.

Até um atleta olímpico, de Jogos Panamericanos, com 32 anos, e que praticava saltos ornamentais, morreu no Rio de Janeiro, depois de ficar internado um tempo, por causa de uma infecção pulmonar que começou com uma dor de garganta. São coisas chocantes.

Na torcida por Jabor
Ao mesmo tempo, estou na torcida para que se recupere o meu amigo e colega Arnaldo Jabor, que está internado no Hospital Sírio-Libanês, para se livrar de um coágulo que apareceu no cérebro. Ele, que é meu contemporâneo e ex-colega de televisão, já está sendo muito bem tratado.
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

sábado, 28 de janeiro de 2017

Eike Batista, nem santo nem diabo



Eike hoje paga pela ostentação, pelos carrões, jatinhos, barcos e botox. O povo não perdoa ricos exibidos 

Eike Batista uma hora vai delatar. Não por maldade ou vingança. Não para crucificar a enorme lista de políticos que ele beneficiou, à vista de todos ou por baixo da mesa. Vai delatar porque nenhum empresário famoso consegue se manter “foragido da Interpol” por muito tempo, mesmo com passaporte alemão.  Vai delatar porque o ex-homem mais rico do Brasil, pai de Thor e Olin, ex-marido de Luma, se recusará a ser trancafiado em cela comum de presídio. Eike não concluiu o ensino superior de engenharia na Alemanha e, por isso, sem diploma, não tem direito a regalias. É o X do problema. Falência financeira, tudo bem, Eike já se reergueu com saídas mirabolantes. Falência moral é outra coisa para o filho do nonagenário Eliezer Batista.

Eike não se enxerga como chefe de quadrilha criminosa. Seus amigos e ex-funcionários tampouco o viam assim. Muitos ganharam e perderam dinheiro embarcando em seus delírios. Louco, visionário, audacioso, megalômano, empreendedor, místico e generoso – e até cafona e ingênuo – são adjetivos mais associados a Eike do que “bandido” ou “mau-caráter”, segundo quem o conhece bem. Era “mão-aberta”, não só em troca de incentivos fiscais. Não fazia segredo de sua carência maior: ser amado, especialmente no Rio.

Acusado de repassar e ajudar a esconder propina de US$ 16,5 milhões – um pingo no oceano que inundou as finanças do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral –, Eike é o alvo da hora da Operação Lava Jato. Mesmo antes de ter mandado de prisão preventiva contra ele, Eike já despertava misto de ódio e inveja. Era o 171 mais bajulado e contraditório do Brasil, recebido como Midas por banqueiros do mundo. Hoje paga pela ostentação, pelos carrões na sala de sua casa no bairro do Jardim Botânico, os jatinhos, os barcos de corrida, os implantes de cabelo e Botox. Paga pela insistência em prever, com seu riso estranho, que se tornaria o homem mais rico do mundo. O povo não perdoa ricos exibidos. 


O que me surpreende é que seus amigos não tenham coragem de vir a público defender seu outro lado. Uma vez testemunhei, no restaurante chinês Mr Lam, de sua propriedade, os efeitos de sua personalidade. O trabalho parecia ser sua maior diversão. Seus convidados, um bando de empresários orientais, só faltavam beijar seus pés. Ao longo de sua ascensão, vimos alguns admiradores ferrenhos de Eike.

“O Eike é nosso padrão, nossa expectativa e orgulho do Brasil”, afirmou a então presidente Dilma Rousseff na inauguração do Porto do Açu, em São João da Barra, Norte Fluminense. Para Dilma, Eike tinha “capacidade de trabalho”, buscava “as melhores práticas”, queria  “tecnologia de última geração”, percebia “os interesses do País” e merecia “o nosso respeito”.   Eike arrematou por R$ 500 mil o terno usado por Lula na primeira posse de janeiro de 2003. Era um leilão beneficente promovido pelo cabeleireiro da então primeira-dama, Dona Marisa, para arrecadar dinheiro para crianças do projeto Escola do Povo, na favela de Paraisópolis, em São Paulo.

Eike fez Madonna chorar,
num jantar íntimo no Rio em sua casa, ao dar R$ 12 milhões para a Fundação SFK (Success for Kids), que ajudaria crianças brasileiras e suas mães vítimas de violência. Eike deu para a Santa Casa da Misericórdia um aparelho de ressonância magnética que custou quase US$ 2 milhões. “Todo mundo pede socorro ao Eike. Daqui a pouco vão ter de fazer uma estátua dele de braços abertos no alto de um morro”, afirmou o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho.

Uma vez, caminhando no Morro do Borel com o ex-secretário de Segurança José Mariano Beltrame, perguntei sobre o acordo entre o governo do estado e sete grandes empresários que criaria um fundo para infraestrutura nas favelas ocupadas. “Só o Eike Batista honrou esse acordo”, disse Beltrame. “Ele contribui com R$ 20 milhões por ano.” A sede azul e branca da UPP exibia carros reluzentes. “Viu as camionetes?”, perguntou Beltrame. “Todas compradas com a ajuda do Eike. As motos para coleta de lixo também.”


O ator Rodrigo Santoro disse que o apoio financeiro de Eike foi “o fator decisivo” para que o filme Heleno de Freitas acontecesse. Eike ajudou Arnaldo Jabor a financiar A suprema felicidade, ajudou Cacá Diegues a realizar Cinco vezes favela. Nunca vimos antes no Brasil um pilantra com essas conexões.  Eike começou comprando ouro no Xingu aos 22 anos, magrelo, com botas e chapéu. Terminou vendendo ilusões e pasta de dentes – seu negócio mais recente. Dizia, no auge, que seu sonho era nadar “numa Lagoa Rodrigo de Freitas limpa” e por isso deu milhões para a despoluição-fantasma. Seu pesadelo agora é a cela comum de Bangu.

Fonte: Ruth de Aquino - Época

 

 

terça-feira, 20 de setembro de 2016

O militante imaginário

Ele se considera superior a todos nós, reacionários e caretas

O que é o “militante imaginário?” O filósofo José Arthur Giannotti criou essa expressão e eu a achei perfeita. O “militante imaginário” é o sujeito que se acha revolucionário, mas nunca fez nada pelo povo. Chamemo-lo de MI. É-se militante imaginário como se é Flamengo ou Corinthians. Agora, nesta grande crise de mutação que vivemos, pululam militantes imaginários.

O MI se julga em ação, só que não se mexe. Ele é a favor de um Bem que não conhece bem. O que é o “Bem” para ele, o nosso militante imaginário? Para o MI de hoje o “Bem” é uma mistura de crenças ideológicas que nos levariam a um futuro de felicidade. A mente de um MI é um sarapatel de leninismo vulgar, socialismo populista, subperonismo, vagos ecos getulistas e um desenvolvimentismo tosco.

Eles gostam de ser militantes porque é bonito ser de uma vaga esquerda enobrecedora; ela abriga, como uma igreja, muitos tipos de oportunismo ideológico. São professores universitários, intelectuais sem assunto, jovens sem cultura política e até mesmo os black blocs que já são tolerados e viraram uma espécie de “guarda revolucionária” dos militantes.
Existem vários tipos de militantes imaginários.  Há o militante de cervejaria, de estrebaria e de enfermaria. Bêbados, burros e loucos.  O MI é um revolucionário que não gosta de acordar cedo. É muito chato ir para porta de fábrica panfletar.

O militante verdadeiro, puro, escocês, só gosta de teorias. A chamada “realidade” atrapalha muito com suas vielas e becos sem saída. Os MIs odeiam a complexidade da realidade brasileira, porque eles aspiram a um absoluto social num mundo relativo; eles querem um Brasil decifrado por três ou quatro slogans. A grande paixão do MI é a certeza. “Dúvida é coisa de burguês reacionário, frescura social-democrata ou neoliberal. O MI só pensa no futuro; odeia o presente com suas complicações, idas e vindas. O militante odeia meios; só tem fins.

Para o MI, o presente é chato. O futuro é melhor porque justifica qualquer fracasso: “falhamos hoje, mas isso é apenas uma contradição passageira na marcha para a grande harmonia que virá!” E, quanto mais fracassos, mais fé. O MI perde o poder, mas não perde a pose e a fé. A cada uma de suas frequentes derrotas, mais brilha sua solidão de “vítima” do capitalismo. Aliás, ser “contra” o capitalismo justifica tudo e garante uma respeitabilidade reflexiva. E hoje, como o comunismo está inviável, os MIs lutam pela avacalhação do que já existe, pois não têm nada para botar no lugar.

O MI é uma espécie de herói masoquista, pois tem o charme invencível do derrotado que não desiste.  Os MIs são em geral românticos, são até bons sujeitos, mas são meio burros.
Há até MIs cultíssimos, eruditos; porém, burros. Eles não veem o óbvio, porque o óbvio é muito óbvio. Acham que a verdade só existe escondida nas nervuras do real.  Depois de 13 anos de erros sucessivos, quando o PT abriu as portas para o presidencialismo de corrupção, houve o impeachment. Foram longos meses de cuidados constitucionais até a conclusão. O STF, o Congresso, a OAB, a PGR, todos consagraram rituais institucionais corretos.

Mas não adianta; depois de pixulecos e panelaços, começou a gritaria de “golpe, golpe” e refloriu a primavera dos militantes imaginários que estavam meio arredios, acuados. A desgraça é que eles insistem nas dualidades ideológicas, quando o problema do Brasil é contábil. É a economia, estúpidos! — como disse Carville.  Hoje eles estão pululando e gritando “Fora Temer”; até sem saber por quê.  Não importa se dilmistas e petistas tenham arrasado o país, jogando-o na maior depressão da história; o que importa para os MIs é que, mesmo arrebentando tudo, eles portavam a bandeira mágica da revolução imaginária que tudo justifica. Espanta-me a frivolidade desses protestos abstratos. Os MIs não se permitem nem alguns meses da esperança de que se consertem as contas públicas; destruíram-nas e não deixam consertá-las.

O militante imaginário se considera superior a todos nós, reacionários e caretas. O MI é uma alegoria de si mesmo; ele não é apenas um indivíduo — ele é mais do que isso, ele é o autodeclarado embaixador do povo. O militante imaginário se considera o sujeito da História, o cara que vai mudar o rumo do erro; enquanto isso, a direita sabe que a História não tem sujeito; só objeto (no caso o lucro).  Eles lutam pelo passado. São regressistas com toques sebastianistas de paz no futuro e glória no passado. Eles têm uma espécie de saudade de um mundo que já foi bom. Quando foi bom? Durante as duas guerras, no stalinismo, quando?
Ou seja, eles têm saudade de um tempo em que se achava que o mundo poderia vir a ser bom... É a saudade de uma saudade.

O MI acha que o mundo se divide em esquerda e direita — em opressores e oprimidos. Qualquer outra categoria é instrumento dos reacionários. O MI detesta contas, safras de grãos, estatísticas, tudo aquilo que interessa à velha direita. Por isso, ela ganha sempre.  O militante imaginário não pode ser confundido com o patrulheiro ideológico. Esse vigia os desvios dos outros. O MI brilha como um exemplo a ser seguido. O MI só ama o todo.
Enquanto a direita só ama a “parte” (sua, claro), o MI nunca leu “O Capital”; a direita também não, mas conhece o enredo. O MI vive falando em “democracia”, mas não acredita nela. Como sempre, os MIs só defendem a democracia como estratégia (“a gente apoia e depois esquece...”) .
Ultimamente, os MIs andam eufóricos — não precisam mais governar e outras chateações administrativas. Agora, estão na doce condição de vítimas. E por aí vão, se enganando, se sentindo maravilhosos guerreiros com “boa consciência”, enquanto contribuem para a paralisia brasileira. É isso aí...
O MI me lembra uma frase de Woody Allen que adoro:
“A realidade não tem sentido, mas ainda é o único lugar onde ainda se pode comer um bom bife”.
O MI não quer bife.

Fonte: Arnaldo Jabor - O Globo
 

quarta-feira, 20 de julho de 2016

UA: Melania Trump e a perfídia da imprensa pró-Hillary



A partir de amanhã, a internet será invadida por notícias e tiradinhas sobre o plágio, ou suposto plágio, cometido pelos speechwriters da Melania Trump em um discurso feito por ela na primeira noite da Convenção Nacional Republicana.  Isso ocorrerá porque o primeiro dia do evento foi um grande sucesso, cheio de momentos memoráveis e repleto de denúncias sérias e pertinentes que colocam em risco a candidatura de Hillary Clinton. 

A grande mídia, desavergonhadamente democrata, sabe que precisa dar um jeito de abafar o discurso eletrizante do ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani e também os depoimentos comoventes de pessoas como Patricia Smith, mãe de uma das vítimas do atentado de Benghazi, causado pela negligência da então Secretária de Estado Hillary Clinton. Por isso, quer você goste ou não do candidato republicano, não se deixe levar pela narrativa midiática e aproveite a ocasião para expor e denunciar o aparelhamento da grande mídia americana pelo Partido Democrata e o comprometimento do jornalismo mainstream com a esquerda em geral. 

E estou dizendo isto porque não poderia haver oportunidade melhor do que esta. A MSNBC, a CNN e o New York Times estão tratando a semelhança entre um pequeno trecho do discurso feito por Melania, esposa de Donald Trump, e algumas palavras ditas em 2008 pela esposa de Obama como um grande escândalo, mas, quando surgiram provas de que o então candidato Barack Hussein Obama havia plagiado dois ou três discursos feitos pelo Governador de Massachusetts Deval Patrick (algo muito mais grave, por se tratar de um ato do próprio candidato e não de sua esposa), esses mesmo órgãos de mídia não apenas não se empenharam em noticiar o assunto, como fizeram de tudo para ocultá-lo, chegando ao limite de chamar de racista qualquer pessoa que ousasse mencioná-lo

Com uma demonstração tão claro do padrão duplo desses jornais, nem mesmo seus maiores puxa-sacos — pensem no Arnaldo Jabor ou no Caio Blinder terão como negar aquilo que os conservadores denunciam há anos: o total compromisso da grande mídia com a agenda esquerdista.

Espalhem esta informação junto com os links abaixo, que comprovam o que eu estou dizendo aqui:
1) Vídeo que prova o plágio de Obama: https://www.youtube.com/watch?v=8M6x1H08aFc
2) Outro trecho plagiado por Obama: https://www.youtube.com/watch?v=FgctsioisJg
3) Um terceiro trecho plagiado por Obama, agora do Senador John Edwards: https://www.youtube.com/watch?v=Pqutz5ASDSA
4) Vídeo que prova que o atual vice-presidente americano também plagiou pelo menos um de seus discursos: https://www.youtube.com/watch?v=0Rkoqglq9dU
5) "Media Malpractice", documentário que mostra como a mídia americana construiu toda a mitologia em torno de Obama enquanto fazia de tudo para espalhar mentiras sobre a Sarah Palin, então candidata a vice-presidente dos EUA pelo Partido Republicano: https://archive.org/…/MediaMalpracticeHowObamaGotElectedAnd…
6) "Os EUA vistos da Bruzundanga", um dos muitos textos em que o professor Olavo de Carvalho denuncia o fato de que "a quase totalidade das informações publicadas neste país sobre os EUA vem de fontes ostensivamente clintonianas": http://www.olavodecarvalho.org/semana/031108globo.htm

Escrito por Filipe G. Martins | 19 Julho 2016 

terça-feira, 19 de julho de 2016

O 'suicídio' da América





A possibilidade de o Trump ser presidente já é um filme de horror
A realidade está mais louca do que a ficção. Assim sendo, a ficção tem de ser muito mais louca do que a realidade. A destruição ambiental, a sordidez mercantil, a estupidez no poder, o fanatismo do terror, em suma, toda a tempestade de bosta que nos ronda está muito além de qualquer crítica. O mal é tão profundo que denunciá-lo ficou inútil.

Essa anomalia da vida atual aumenta a tradicional paranoia ocidental, principalmente nos Estados Unidos. E aí surge um estranho fenômeno que tento entender: a vontade de salvar o país e um desejo simultâneo de destruí-lo. A América parece querer suicidar-se. Por exemplo, a possibilidade de o Trump ser presidente já é um filme de horror. Se esse rato for eleito, aí sim, o mundo pode acabar. [quem desmoralizou a América foi a eleição e reeleição do Obama, que prestigiou a desmoralização da família, incentivou a proliferação da praga gay, da famigerada ideologia de gênero e tudo o mais que conspira contra os valores tradicionais da cultura ocidental.]

Também na cultura americana, são impressionantes os filmes de ação e catástrofe que destroem o país ou o mundo, produzidos por Hollywood. É estranho; imaginem o cinema francês destruindo Paris sem parar, invadido por alienígenas (aliás, como os terroristas) ou o cinema brasileiro

arrebentando o Pão de Açúcar e o Corcovado! Eles acham isso normal. E lucrativo. Vejam os filmes dos últimos anos: “Independence Day 1”, “Godzilla”, “Armagedom”, “Terremoto — A falha de San Andreas”, “2012”, “Impacto profundo” e tantos outros.
Por que esse amor e ódio? Creio que vêm de uma insatisfação da vida americana atual, uma grande angústia nacional. A América não sabe mais o que dizer sobre si mesma. Os Estados Unidos eram a “cultura da certeza”. O paraíso americano era a perfeição do funcionamento. Com o 11 de Setembro, junto com as torres, caíram também a arrogância e o orgulho da eficiência. Será que esta é a causa desse ataque doentio contra si mesmos?

Pensando nessas coisas deprimentes, fui ver o novo “Independence Day”. Não gostei e concordei com críticos que dizem que o filme é tolo. Um deles diz: “assistir a alienígenas explodindo de forma espetacular não é desculpa para passar duas horas no ar condicionado”. Tenho visto muitos filmes de ação. Já sou entendido nas missões impossíveis, nas porradas, nas cidades destruídas, nas armas assassinas. Nunca o cinema foi tão útil para esquecermos o mundo atual e nunca os filmes foram tão brutais para, pelo avesso, exorcizar o medo da morte.

Na sala de cinema, sinto-me dentro de uma máquina de sensações programadas. Não há mais tempo para um filme ser visto, refletido, com choro, risos, vida. No escuro, mergulho em suspense, em prazeres sádicos, em assassinatos explosivos, em vinganças sem fim, narrados como uma ventania, como uma tempestade de “planos” (cenas) curtos, nunca mais longos do que 4 segundos, tudo tocado por orquestras sinfônicas plagiando Ravel para cenas românticas ou Stravinsky para violências e guerras.

O conflito é permanente, de modo a impedir o espectador de ver seus conflitos internos. Não podemos desgrudar os olhos da tela. O desejo dos produtores é justamente apagar o drama humano dentro de nossas cabeças. Os filmes comerciais antigos apelavam para a comoção das plateias, estórias onde o “bem” era recompensado, onde o amor movia personagens, onde chorávamos ou riamos desde o Gordo e o Magro até Hitchcock. Logo depois da Guerra Fria, os filmes mostravam uma América em “frenética lua de mel” consigo mesma. Obras-primas como “Cantando na chuva” foram feitas por razões comerciais. Os musicais da Metro eram a felicidade democrática.

Hoje, passamos por emoções que nos exaurem como se fossemos personagens dentro daqueles mundos em 3D, de pedras e balas que voam e nos fazem em pedaços espalhados pela sala, junto com os copos de Coca-Cola e sacos de pipocas. Somos pipocas nesses filmes. É uma nova dramaturgia de Hollywood: a estética do videogame, onde a personagem principal não é mais o “outro”, mas nós mesmos, com o “joystick” na mão e nenhuma ideia na cabeça.

Os roteiros são feitos em computador, de modo a encher cada buraco, para que nada se infiltre na atenção absoluta. E mais importantes que as personagens são as “coisas” em volta. Sim, as coisas. Personagem é só um pretexto para mostrar o décor. E o décor é um grande showroom dos produtos americanos: maravilhosos aviões, supercomputadores, a genialidade técnica lutando por algum “bem” inexplicável , porque a ideia de “futuro” esmaeceu. Assim, não importam mais nem o enredo, nem o roteiro; só o gozo da cena.

Antigamente, sofríamos durante a trama, esperando que os heróis fossem felizes no final. Hoje, sabemos que tudo vai acabar bem, mas nos fascinam mais os infernos que eles terão de atravessar, para chegar a um desfecho fatalmente bom. A catarse chegará, mas antes temos amputações, bazucas estourando peitos, bombas, rios de sangue. Na vida americana, como nos filmes, perdeu-se a ideia de sentido. O happy end é coisa dos anos quarenta.

No entanto, acho novidades nisso tudo. Num mundo sem rumo, na América dividida, a tecnologia está criando uma nova estética. Acabou a linearidade narrativa e, com a visão de mundo desencantada, em meio à avalanche brutal de informações, está surgindo uma nova forma de profundidade “superficial”. Uma espantosa nova linguagem não linear, polissêmica, surgiu e cresce como um “transformer”, nas telas do mundo. Parece até uma vanguarda tecnológica emergindo entre os efeitos especiais cada vez mais audaciosos. Talvez, daqui para a frente, só essa língua dará conta de nossa solidão, de nossa fome de ilusão.

Agora, mesmo falando essas coisas, confesso que adoro os filmes da Marvel. Já vi alguns “blockbusters” de extraordinária imaginação “wagneriana”. “Avatar”, por exemplo, “Batman”, ou a obra-prima “Thor” já fazem parte de uma nova “escola” estética. Não falo de “nova arte” ou uma nova cultura, pois isso já denotaria a ideia de “finalidade”, de meta a ser atingida. Falo de um caos maravilhoso que nos submerja para sempre num “presente” inexplicável.

Fonte: Arnaldo Jabor – O Globo