Sérgio Cabral: conheça a nova casa do ex-governador-presidiário
Longe das mordomias do Leblon, de sua mansão em Mangaratiba e dos jantares caros em Paris, ex-governador será obrigado a acordar às 8 horas
Por vezes, quando chegava cansado e com fome, Sérgio Cabral gostava de
pedir um prato do Antiquarius, um dos mais requintados restaurantes da
cidade e vizinho do prédio em que vivia, no Leblon. Quando foi dormir em
seu confortável quarto do apartamento 401, ontem à noite, o
ex-governador de gosto refinado não imaginava, nem em seus piores
pesadelos, que o jantar desta quinta-feira seria dentro de uma cela do
Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu 8), no Complexo de Gericinó. E
nada de bacalhau. A quentinha desta quinta-feira serviu arroz, feijão,
macarrão e um punhado de carne moída.
Todos os dias, pontualmente às 8 horas da manhã, um agente penitenciário
abre a portão principal de acesso às galerias. A tranca bate forte e o
som ecoa pelas galerias. É neste momento que o preso mais antigo dentro
do sistema se levanta e dá um grito: ‘Confere!’.
Neste momento, todos os
detentos são obrigados a levantar da cama, vestir uma camisa, baixar a
cabeça e colocar as mãos para trás. Com uma prancheta nas mãos, o
‘guarda’ vai conferindo um a um, cela por cela. Desde a manhã desta
sexta-feira, esta é a nova rotina do ex-governador Sergio Cabral Filho
em sua nova casa, no Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu
8, uma das unidades prisionais do Complexo de Gericinó, na Zona Oeste
da cidade.
Com duas prisões preventivas decretadas pelas justiças do Rio de Janeiro
e do Paraná, o homem mais poderoso do Rio de Janeiro nos últimos dez
anos terá de se habituar a uma nova rotina, bem longe da vida nababesca
que levava entre o Leblon, sua mansão em Mangaratiba e restaurantes e
hotéis de luxo pelo mundo afora. Uma rotina que, normalmente, deveria
coloca-lo no convívio com outros detentos da Galeria D, reservada aos
presos com diploma universitário, chamados ‘especiais’. Cabral, Hudson
Braga, seu ex-secretário de Obras, e outros quatro integrantes da
quadrilha foram para a galeria C6, virada para a horta e uma região onde
há mais sombras, ou seja, é menos calor numa região normalmente
escaldante.
Além do ex-governador, foram para Bangu 8 seu ex-secretário de Obras, Hudson Braga, seu assessor Carlos Miranda, Paulo Fernando Magalhães Pinto, apontado como um de seus principais ‘laranjas’, Luiz Paulo Reis (operador financeiro) e José Orlando Rabelo (assessor do gabinete do deputado estadual Jorge Picciani). Todos têm curso superior. Outros três detentos, Alex Sardinha da Veiga, Wagner Jordão, que movimentava as propinas pagas a Hudson, e Carlos Bezerra, que pagava até as contas pessoais de Cabral, foram mantidos na unidade de triagem, já que não têm diploma. O outro ilustre preso nesta semana, o também ex-governador Anthony Garotinho, é mais um que tem presença confirmada no presídio de Bangu 8, para onde será transferido a qualquer momento.
À exceção de comida crua familiares podem levar as iguarias que o ex-governador desejar. Os detentos têm a opção de comprar na cantina da unidade também. A mulher, Adriana Ancelmo, terá direito a uma visita antes de sua carteirinha ficar pronta, já que o marido está com a prisão preventiva decretada. Depois dessa primeira visita, só com a carteirinha de visitante devidamente cadastrada pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), o que em casos de presos comuns leva até dois meses para ficar pronta. Às 18 horas, o grito de ‘Confere!’ ecoa novamente nas cadeias. É hora de voltar pra cela. Pensar na vida. E esperar a Justiça.
Fonte: Revista VEJA