O debate
havido ontem no SBT indica que o PT está com o foco ajustado. Aqui e ali
se lê que a estratégia foi desenhada por Lula lá na cadeia, em
Curitiba. Não descarto porque, como se nota, burros são apenas aqueles
que apostaram em sua burrice. A mim, parece apenas questão de bom senso.
O PT sabe que joga duas partidas distintas. Uma é a do primeiro turno;
outra, a do segundo. E cada uma requer um estilo de jogo. Notem: a
vitória, na primeira partida, não está em chegar à frente de Jair
Bolsonaro (PSL), mas em ocupar um dos dois lugares no segundo turno. E,
no caso, talvez o melhor seja ficar em segundo lugar. Isso desestimula
movimentos de voto útil já na primeira partida. Volto ao ponto daqui a
pouco. Antes, algumas considerações.
Assisti ao
debate nesta madrugada. Explica-se: ele se deu enquanto eu ancorava o
programa “O É da Coisa”, na BandNews FM. A fala mais reveladora destes
dias deve ter sido a de Marina Silva (Rede). Segundo a candidata, se
houver uma disputa final entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad
(PT), ela não apoiará nem um nem outro. Não está claro se acha que se
equivalem ou se trata uma eventual recomendação de voto como chancela ao
governo que virá. Bem, nesses casos, a questão é sempre saber o que
farão os eleitores. Dá para supor que os de Marina transitam em
territórios mais próximos do petista do que do peesselista.[integra do debate - clique aqui]
Sem
Bolsonaro, com 27% das intenções de voto no Ibope, o alvo principal,
como se esperava, foi mesmo Haddad, segundo colocado, com 21%. O ataque
mais virulento partiu da direita: Álvaro Dias (Podemos) o acusou o
partido de ser uma “organização criminosa” e lembrou as mortes dos então
prefeitos de Santo André e Campinas, Celso Daniel e Toninho do PT,
respectivamente. Na prática, tentou responsabilizar a legenda pelos
assassinatos, ainda que o tenha feito de modo indireto. Na sublinha de
sua fala, percebe-se o intuito de se colocar como uma espécie de
porta-voz da Lava Jato. Parece que os fanáticos pela operação já têm seu
líder. E não é ele. Nem00 nesse debate nem nos que o antecederam, Dias
esboçou qualquer sombra de crítica ao candidato do PSL.
Ciro
afirmou que, “se puder — notem a condicional —, governa sem o PT”. Na
hipótese de ser eleito, pois, não descarta a possibilidade. O candidato
do PDT insistiu na tese de que a polarização entre petistas e
bolsonaristas está empurrado o país para a violência e acusou o petismo,
reconhecendo méritos nos governos dos companheiros, de ter erigido uma
“estrutura de poder odienta, que criou essa figura horrorosa que é o
Bolsonaro”. Haddad pegou leve com seus críticos. Reagiu aos ataques
afirmando ser preciso buscar saídas para os problemas do país. E eis o
ponto que interessa.
O que se
viu ali foi o “Haddadinho Paz & Amor”. Depois do embate, afirmou que
espera, sim, contar com o apoio de Ciro e Marina se chegar ao segundo
turno. Em encontro posterior, com artistas, deu a entender que é preciso
buscar compreender, sem visões apocalípticas, mesmo o eleitorado de
Bolsonaro. Observem: nesta fase, ainda que com escoriações decorrentes
do embate e até a eventual perda um ponto ou outro, cumpre apenas
assegurar um lugar no segundo jogo.
Aí, quero
crer, estando no segundo turno, desenha-se, por força dos fatos, o
cenário para o Armagedom, para a luta entre forças absolutamente
opostas. [caso haja segundo turno e este seja entre o PT = poste-laranja de Lula x BOLSONARO , é preciso ter presente que PT, Lula, seu poste laranja e toda a corja lulopetista se somam e representam o MAL, o 'satanás', as forças satânicas, tanto que a cada dia cresce mais a designação de PT = Partigo das Trevas = inferno, forças demoníacas.] O horário eleitoral do partido certamente mudará de tom. E o
próprio Haddad deverá falar mais duro. Mas prestem atenção a uma coisa:
quem é visceralmente antipetista não vai mudar de ideia se o candidato
falar mais grosso. Quem é antibolsonarista já não precisa do discurso
virulento. Na hipótese de um embate entre os dois, acho que vencerá a
disputa quem assustar menos o eleitor que não está nos extremos. E, de
saída, digo: isso nada tem a ver com os tais mercados. Esse eleitorado
de que falo sofre os efeitos da disparada do dólar, mas não especula com
dólar.
Numa campanha de falas tão duras, a vitória pode ser determinada pela fala mansa.
Blog do Reinaldo Azevedo