Advogado
de Fernando Pimentel agora diz que Bené, como é conhecido, pagou, em 2013,
despesas da viagem à Bahia
Juliana
Sabino Diniz de Souza, namorada do empresário Benedito Oliveira, o Bené, negou que tenha
pago as despesas do governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), e da mulher
dele, Carolina Oliveira, no resort Kiaroa, em Maraú, na Bahia. As
informações de Juliana, amiga de Carolina, contradizem
parte da defesa de Pimentel.
Há duas
semanas, quando o caso veio a público, o advogado do governador, Antônio Carlos
de Almeida Castro, disse que as despesas foram pagas a partir de uma combinação
entre Juliana e Carolina, que são amigas e não têm vínculos diretos com a
administração pública. A primeira informação do advogado de Pimentel, há 15
dias, foi de que Juliana teria coberto
parte das despesas da amiga e do governador com créditos de milhas.
Mas o
pai de Juliana, Augusto César Souza, contesta: — Não foi ela (Juliana) quem pagou as despesas. Ela não tinha crédito
nenhum. Quem tinha crédito era o Benedito. Foi ele quem pagou. Isso está até no
inquérito. Juliana e Carolina não tiveram conversa nenhuma sobre este assunto.
Em
entrevista ao GLOBO, o pai de Juliana
disse que a filha é vendedora numa loja de shopping em Brasília e, mesmo se quisesse, não teria renda
suficiente para bancar despesas de uma amiga num resort de luxo. Pimentel e
Carolina se hospedaram no Kiaroa entre 15 e 17 de novembro de 2013, período em
que o governador era ministro do Desenvolvimento. A estadia custou R$ 12,1 mil.
Segundo relatório da Operação Acrônimo, da Polícia Federal, a conta foi paga, na verdade, por Pedro
Augusto de Medeiros, a pedido de Benedito.
DESLOCAMENTO
É INVESTIGADO
A PF afirma ainda que o empresário pagou o
deslocamento aéreo de Carolina e Pimentel até a praia. No dia 25 do mês passado, logo
depois do início da segunda fase da Operação Acrônimo, o advogado do governador
negou que as despesas tinham sido pagas por Bené, amigo de Pimentel. Segundo o
advogado, tudo não passara de uma combinação entre duas amigas. O Código de Ética do serviço público não permite que
servidores recebam presentes acima de R$ 100.
Procurado
pelo GLOBO para comentar as declarações do pai
de Juliana, o advogado Almeida Castro mudou a explicação. Ele reconheceu que,
de fato, as despesas foram pagas por Benedito com créditos que ele tinha e não
por Juliana. Ainda assim, o advogado
tentou isentar Pimentel de responsabilidade no episódio. Afirmou que Benedito
teria tratado do assunto com Carolina, de quem também é amigo, e não
diretamente com o então ministro. — Todo o acerto sobre usar o crédito foi com
Bené e Carolina. A Carolina disse que queria ir (ao resort). O Bené disse que
tinha o crédito. Carolina é amiga dele — afirmou Almeida Castro. O caso está sendo investigado em inquérito aberto
pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). As investigações começaram em outubro
do ano passado, quando a PF apreendeu R$ 116 mil num avião de Bené no aeroporto
de Brasília. O empresário, que tinha atuado como fornecedor na campanha de
Pimentel, não soube explicar a origem do dinheiro.
CORRUPÇÃO
PASSIVA E LAVAGEM
Depois da
primeira etapa da apuração, a PF pediu abertura de
inquérito ao STJ para investigar relações de Pimentel com Benedito e outros
empresários no período em que ele era ministro do Desenvolvimento. No
relatório, base do pedido ao STJ, a PF
acusa o governador de corrupção passiva, participação em organização criminosa
e lavagem de dinheiro.
Há duas
semanas, a PF iniciou a segunda etapa da operação com
buscas em um escritório usado por Pimentel durante a campanha eleitoral
e em endereços de pessoas supostamente ligadas ao governador. A PF chegou a pedir para fazer busca no
Palácio da Liberdade, sede do governo de Minas. O pedido foi rejeitado pelo
ministro Herman Benjamin, relator do caso do STJ. Para o ministro, a polícia
não demonstrou a necessidade da busca na sede do governo.
Na mesma
operação, a PF apreendeu documentos em escritórios da Pepper, agência que
prestou serviços a campanhas eleitorais do PT ano passado, inclusive à da presidente
Dilma Rousseff. A PF investiga contratos de prestação
de serviço entre a Pepper e Carolina, que é jornalista. Antes de se
casar com Pimentel, Carolina foi assessora do BNDES, vinculado ao Ministério do
Desenvolvimento. A polícia também
descobriu indícios de subfaturamento de serviços
da Gráfica Brasil, da família de Benedito, para
a campanha de Pimentel.
Documentos apreendidos na gráfica apontavam a
produção de 2,5 milhões de santinhos,
mas a campanha teria declarado apenas 250 mil. O subfaturamento teria como
objetivo manter as contas de Pimentel abaixo do teto de gastos acertado com a
Justiça Eleitoral.
Fonte: O Globo