Em vez de demonizar o Congresso e qualquer diálogo político, o presidente deveria batalhar pelos projetos que seu próprio governo defende
A manifestação de 26 de maio não alterou em nada a situação política.
Permanece a tensão entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional.
Houve um discreto apoio oficial aos atos, mas sem a participação direta
do presidente da República. Se o objetivo era o de emparedar o
Congresso, acabou fracassando. As ruas não ficaram tomadas pelo povo,
como nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff.
A questão central é a governabilidade. Algo que não será resolvido com
os apoiadores de Jair Bolsonaro nas ruas. Se nada mudou, então o governo
perdeu. Ficou demonstrado que o apoio popular está menor do que
estimado. Pode ser que o presidente tenha caído na armadilha das redes
sociais. O mundo virtual não é o melhor conselheiro político. E mais:
robôs não fazem história.
O Palácio do Planalto padece de um déficit de democracia. As constantes
diatribes de Bolsonaro contra o funcionamento do Congresso reforçam o
seu desinteresse pela negociação política, essência da democracia. A
demonização dos partidos e das principais lideranças políticas do
Parlamento compõe o receituário. Nesses cinco meses de presidência, ele
não deu nenhum sinal real de que pretende conviver com a independência
dos poderes. É provável que até desconheça o funcionamento de cada poder
consagrado na Constituição, apesar de ter permanecido 28 anos na Câmara
dos Deputados.
O governo não conseguiu apresentar um conjunto de medidas que possam
conduzir o País à recuperação econômica. O discurso monocórdio de que
tudo passa milagrosamente pela Reforma da Previdência produz uma
narrativa de que, a partir da sua aprovação, o Brasil vai entrar numa
rota de crescimento econômico em ritmo chinês. Que o capital estrangeiro
vai afluir aos bilhões de dólares. É uma falácia. São necessárias
diversas ações no campo macroeconômico, devidamente articuladas dentro
de um amplo projeto nacional, a fim de criar as condições para que o
País saia da crise criada a partir do início do segundo governo Dilma.
Isso não vai ocorrer espontaneamente, mas será produto de uma ação
governamental responsável.
E ao Presidente da República, o que caberia fazer? Coordenar os esforços
para que o Brasil tenha um rumo seguro. Para tanto, necessitaria ter
ciência dos principais projetos. Bolsonaro deveria entusiasmar o País.
Viajar, inaugurar obras, discursar apresentando as ações governamentais e
dialogar com os setores políticos.