Repasse a empresário pode ter relação com morte de Celso Daniel, diz Moro
Para juiz, chama atenção malabarismo para viabilizar dinheiro a empresário do ABC
O juiz Sérgio Moro afirmou, no despacho em que decretou a prisão temporária de Ronan Maria Pinto,
dono do jornal Diário do Grande ABC, que o esquema criminoso que levou o
empresário a receber cerca de R$ 6 milhões, a mando do PT, pode ter
alguma relação com o homicídio do prefeito de Santo André Celso Daniel,
ocorrido em 2002. Segundo o juiz, o caminho do dinheiro mostrou que
Ronan ficou com metade do empréstimo retirado do Banco Schahin pelo
pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, quitado
fraudulentamente com propina de contrato da Petrobras. "Chama a atenção o malabarismo financeiro para viabilizar a
transação, tendo o valor transferido do Banco Schahin para Ronan Maria
Pinto passado por três intermediários (José Carlos Bumlai, Bertin Ltda e
Remar Agenciamento)", afirmou Moro no despacho.
Assassinato sobre o prefeito Celso Daniel, que completa 14 anos, é cercado de dúvidas sobre a sua motivação - Vania Delpoio 20.01.2002
O juiz lembra que a operação financeira foi feita com a intermediação da S2 Participações, empresa de Marcos Valério, já condenado como operador do mensalão. Segundo ele, além de confirmar o fato, o publicitário afirmou que o motivo do empréstimo seria que integrantes do PT estavam sendo vítimas de "extorsão" da parte de Ronan. "Citou expressamente como envolvidos Sílvio José Pereira, José Dirceu de Oliveira e Silva, Gilberto Carvalho, Luiz Inácio Lula da Silva e Breno Altmann" diz.
Moro afirma ainda que Bruno Daniel, irmão de Celso Daniel, afirmou ter ouvido de Gilberto Carvalho e Miriam Belchior que existia um esquema criminoso em Santo André, que envolvia repasses de valores de extorsão ao PT e que o destinatário dos valores seria José Dirceu. Na época, Bruno Daniel afirmou que não tinha conhecimento de Ronan no episódio nem da prática de extorsão do empresário contra o PT. "É possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de 2002, do então prefeito de Santo André, Celso Daniel", escreveu Moro.
O empréstimo retirado em nome de José Carlos Bumlai no Banco Schahin, que teria sido feito a pedido do PT, foi de R$ 12 milhões. Metade do valor foi destinado a Ronan. O valor foi repassado a Bumlai, que repassou ao frigorífico Bertin. A empresa, por sua vez, repassou à Remar Agenciamento em oito parcelas pagas entre outubro e novembro de 2004, no total de R$ 6,028 milhões. A Remar se encarregou de fazer os repasses a Ronan, inclusive pagando fornecedores da Expresso Santo André, empresa de ônibus do empresário.
Ronan teria chantageado petistas, diz MPF
O assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, em 2002, voltou à tona com a nova fase da Operação Lava-Jato, deflagrada nesta sexta-feira. Embora a morte do prefeito não esteja dentro do objeto da investigação, segundo o Ministério Público Federal (MPF), os procuradores podem esbarrar no assunto ao apurar o motivo do empréstimo de R$ 6 milhões ao empresário Ronan Maria Pinto dois anos após o incidente.
Investigadores que trabalham no caso dizem que o Ronan deve ser investigado pelo crime de extorsão, já que, segundo o depoimento de Marcos Valério, ele teria chantageado políticos petistas. Para esses investigadores há duas hipóteses mais fortes para Ronan pedir um "cala-boca": ele denunciaria fatos sobre a morte de Celso Daniel ou falaria sobre um esquema de corrupção montado na prefeitura - e pelo qual, inclusive, ele foi condenado ano passado.
Oficialmente, porém, o discurso é que nenhuma hipótese está descartada. - Nossa investigação é centrada no crime federal de lavagem de dinheiro. Temos algumas hipóteses, mas ainda queremos descobrir por que o empresário Ronan pediu os R$ 6 milhões - disse o procurador Diogo Castor, que acrescentou: - Se surgirem evidências que liguem o caso à morte de Celso Daniel, haverá compartilhamento de provas
Fonte: O Globo