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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

BALBÚRDIA NA EDUCAÇÃO -Lambança no Enem expõe arrogância e despreparo de Weintraub - O Globo


A última do Seu Creysson

É “imprecionante”. Na sexta-feira, o ministro Abraham Weintraub disse ter comandado o “melhor Enem de todos os tempos”. Horas depois, foi desmentido por quem fez o exame. Pelas redes sociais, estudantes denunciaram erros na correção e no lançamento das notas.  “O aluno respondeu a prova cinza e veio o gabarito da prova amarela”, resumiu o presidente do Inep. Alexandre Lopes é o quarto burocrata a ocupar o cargo em apenas um ano. A alta rotatividade expõe a falta de rumos do MEC no governo Bolsonaro.
 

[atualização sobre competência institucional:

a confusão do Enem, resultante de falhas no processo de impressão e/ou correção das provas, não é um ato que possa ser atribuído ao titular da Pasta da Educação.

Por duas razões: 

- corrigir provas não é atribuição de um Ministro de Estado - ainda que da Educação. A correção de provas é um ato realizados por equipamentos de informática adequados para o trabalho, sento tal ajuste de competência de técnicos especializados e todo o processo acompanhado profissionais do mesmo quilate. 

Jamais pode ser um ato orientado/comandado por uma única pessoa, ainda que seja o titular do Ministério da Educação;

- a função de Ministro de Estado consiste da gestão e mesmo da instituição de políticas para a pasta - o que exclui, mesmo no Ministério da Educação, a tarefa de corrigir provas ou fiscalizar a impressão.

Assim, o que ocorre no MEC, buscando atingir o Weintraub, é um processo de sabotagem e que deve ser investigado, identificado seus autores e punidos - seja na parte de impressão e revisão, ou na parte de correção.

É necessário parar com a vinculação da 'cultura' que ainda está fora da Educação com o ministro Weintraub.

Quando o presidente Bolsonaro decidir juntar a Secretaria de Cultura ao organograma do MEC, aí sim, tudo ficará sobre o controle do atual ministro ou de outro que o suceda.]                                                                                                                                                    


A lambança no Enem é a cara de Weintraub. Ao atacar as universidades públicas, o ministro ofendeu professores e mostrou desprezo pelo ensino superior. Ao escrever coisas como “imprecionante”, “paralização” e “suspenção”, agrediu o idioma e virou piada entre alunos do ensino fundamental. Weintraub se tornou uma espécie de Seu Creysson do bolsonarismo. O personagem do Casseta & Planeta também combinava o ar pretensioso com os erros de português. A diferença entre os dois é que o ministro não tem a menor graça. A cada aparição circense, com ou sem guarda-chuva, só deixa claro que não tem condições para exercer o cargo. O economista não foi escolhido por sua capacidade de gestão. Chegou lá porque jurou lealdade à cartilha olavista. Até a semana passada, ele competia em sectarismo e agressividade com Roberto Alvim. Só não cometeu o erro de plagiar o ideólogo da turma.

Há 34 anos, Celso Furtado assumia o Ministério da Cultura no embalo da redemocratização. “A primeira condição para que exista uma política cultural é que a cidadania desfrute de um clima de liberdade”, afirmou, em discurso contra o dirigismo e a censura.  Ontem a viúva do economista disse ter sentido “dor e tristeza” ao ouvir as palavras de Regina Duarte. Prestes a herdar o que restou da pasta, a atriz se  Bolsonaro. “Parece que ela aceitou o convite para fazer o que o mestre mandar. Estou arrasada”, desabafou Rosa Freire d’Aguiar, jornalista e tradutora premiada.

Bernardo M. Franco, colunista - O Globo