Não importa qual decisão que o TRF-4 adotará, ela tende a refundar a disputa eleitoral
Os
desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região terão o dever de
julgar o expresidente de acordo com o que está nos autos. Mas seja qual for a
decisão tomada, ela tende a provocar uma refundação da corrida eleitoral. Não é
exagero dizer que o dia 24 de janeiro definirá o ano de 2018, e possivelmente
os próximos anos da política brasileira.
O ex-presidente
Lula não é apenas o líder de uma disputa presidencial. As candidaturas à
sucessão do presidente Michel Temer vêm se delineando tendo o petista como uma
bússola: os candidatos são apresentados, desde o primeiro momento, como
adversários ou aliados de Lula. [uma grande bobagem a importância que estão dando a Lula.
É simples definir o destino político do estrupício:
- se condenado, preso não pode votar nem ser votado;
- se absolvido (algo improvável, mas, possível) perderá nas urnas - não terá votos suficientes nem para um segundo turno.
Insistem em valorizar Lula apenas para ter uma divergência a ser explorada nos noticiários.
Sem Lula, é Bolsonaro direto e candidato único não rende notícias.] Se o
ex-presidente for absolvido, o campo da esquerda tende a se unir em torno
daquele que quase indubitavelmente estará no segundo turno. Em uma eleição de
recursos escassos, é difícil acreditar que partidos como PCdoB, Psol e mesmo
PDT gastem de fato suas energias — e finanças — na luta inglória para crescer
sobre uma figura que monopoliza seu campo político.
No centro
e na direita, por outro lado, a tendência é que se intensifique imediatamente
uma corrida pelo voto útil anti-Lula. Ou seja, Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin,
Marina Silva, Henrique Meirelles e quem mais aparecer pela frente terão como
único caminho se apresentarem como o mais capacitado a derrotar o ex-presidente
no segundo turno.[Geraldo Alckmin, em eleições para presidente, é o candidato que já sai derrotado e ainda atrapalha eventuais aliados;
Marina Silva, dá partida e logo engasga;
Henrique Meirelles age como o arauto da 'desgraça', bradando: "se a reforma não for aprovada a economia encalha" - ele mesmo sabe que não será com a rapidez que alardeia. Haverá algum fôlego e a não votação da reforma em si não terá incidência imediata sobre o crescimento dos empregos.
O Previdência precisa de reforma, mas, o Brasil não afunda tão rápido.
Chato é que não fazer a reforma é deixar para Bolsonaro um problema a ser tratado logo após o Carnaval 2019.]
Se Lula,no entanto, for condenado — e consequentemente se tornar inelegível — a disputa
eleitoral deve partir para uma pulverização total, lembrando 1989. De acordo
com o último Datafolha, divulgado há dez dias, Jair Bolsonaro lideraria a
corrida, mas seguido de perto por Marina, e esta por Ciro e Alckmin. De acordo
com a mesma sondagem, 29% dos eleitores votariam no candidato apoiado por Lula.
Só que a saída dele tende a fragmentar o campo da esquerda. Ciro Gomes (PDT),
Manoela D’Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos e provavelmente outro nome do PT —
hoje são cotados Jaques Wagner e Fernando Haddad — lutariam pelo espólio. [a esquerda formada por chacais, hienas e urubus tem predileção por 'carniça' que é a classificação mais adequada para o aqui chamado espólio de lula.]
Quando
montou suas caravanas para propagar a ideia de que sua eventual condenação
significaria uma fraude eleitoral, o objetivo de Lula era pressionar os juízes.
A única coisa que já conseguiu, de fato, foi dar mais atenção à sua possível
saída da disputa eleitoral do que à hipótese de tornar-se o primeiro
expresidente brasileiro a ir para trás das grades.
Paulo Celso Pereira - O Globo