Por Ricardo Noblat
Frase do dia - Polícia Militar
[brados, gritos de guerra, refrões, lemas, são necessários para incentivar à tropa, estimular o brio e até mesmo uma 'disputa sadia' ]
“Arranca a cabeça e deixa pendurada/É a Rotam patrulhando a noite inteira/pena de morte à moda brasileira”.
(Versos
gritados em coro pela unidade de elite da Polícia Militar do Pará
diante do governador Helder Barbalho, que se recusou a comentar o que
ouviu)
Eduardo Collier: amigo cristão que sumiu com Fernando Santa Cruz - A derrapagem além da curva do presidente Jair Bolsonaro
Praticamente impossível imaginar um motivo de guerra maior, entre a direita – à qual Bolsonaro agradece sua eleição e em nome de cujo pensamento afirma exercer seu mandato – e esquerda, a cujas fileiras o presidente da OAB dá sinais claros de pertencer, ao eleger cerrados ataques ao governo como uma das bandeiras de sua gestão. Chamou até de “chefe de quadrilha”, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, ex-juiz condutor da Lava Jato, maior ação de combate à corrupção na história do país.
Este embate da semana, além disso, me conduziu a memória ao tempo de grandes lutas acadêmicas e no jornalismo para mim. Na vida estudantil e na profissão nas redações que percorri – A Tarde, Jornal do Brasil, VEJA – não conheci Fernando Santa Cruz. Quanto a Felipe Santa Cruz só recentemente ouvi falar dele, em razão de sua controvertida atuação à frente da entidade representativa dos advogados, na qual não parece estabelecer diferença entre o governo democraticamente eleito de Bolsonaro – quase 60 milhões de votos – com os militares do regime implantado em 1964, no golpe que depôs o governo legítimo de João Goulart. [cujo objetivo principal era implantar o comunismo no Brasil, intento que graças a ação pronta e corajosa dos militares, mais uma vez fracassou e fracassará quantas vezes tentarem.]
Conheci e fui contemporâneo de faculdade do outro pernambucano, Eduardo Collier, citado “en passant” pelo presidente, como integrante de facção de “sanguinários terroristas” que desapareceu com Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e que Bolsonaro diz agora que foi morto em “justiçamento” por seus companheiros de AP. Com o perfil do colega desaparecido, Collier, “Cristão” ou “Burguês” como era chamado em Salvador, nos Anos 60, as palavras do mandatário não batem.
Na faculdade de Direito da UFBA, nas assembléias e passeatas, em Salvador, Collier era chamado de “Cristão”, por ser filiado a Ação Popular, grupo de esquerda, de origem católica. Nascido de tradicional família pernambucana, vestido em folgadas calças e camisas de puro linho , o moço grandalhão, afável, de fina estampa era para mim uma simpática contradição ambulante. Morou um tempo na Residência Universitária-2, colada à Igreja da Vitória, cujas missas freqüentava.
Conseguiu a vaga graças ao apoio do meu amigo (depois saudoso compadre) Pedro Milton de Brito, um dos mais brilhantes e admirados alunos de Direito. Depois presidiu por duas vezes a OAB Bahia e foi conselheiro federal da OAB dos mais destacados.
Um dia, Eduardo Collier sumiu, para nunca mais. Agora, com o caso Fernando Santa Cruz, seu nome volta à baila no meio deste conflito ideológico feroz. E da busca da verdade, enquanto os dois lados parecem mais interessados em obscurecer do que lançar luz sobre os fatos. Infelizmente.
Vitor Hugo Soares é jornalista - E-mail: vitors.h.@uol.com.br
Editor do site blog Bahia em Pauta.