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segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Conheça as frotas milionárias dos carrões oficiais do Judiciário - Blog Lúcio Vaz

Gazeta do Povo  - VOZES

Em Brasília, São Paulo ou nos sertões do país, veículos oficiais dos tribunais têm custo acima de R$ 200 mil.  
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) contam com 14 veículos blindados com preço unitário de R$ 200 mil – no valor total de R$ 2,8 milhões. 
No TJSP, são 345 carros para desembargadores, incluindo 138 Renault/Fluence e 112 GM/Astra. Ao todo, o tribunal conta com 1.158 veículos
O TJRJ tem 178 carros de representação no modelo VW Jetta. Custaram R$ 24 milhões. 
Nos tribunais do Nordeste, há carros luxuosos ou robustos como Hilux, Trailblazer, Pajero, Triton, Corolla.

Cada veículo do STF custou R$ 138 mil, Hilux, Trailblazer, Pajero, Triton, Corolla.mas a blindagem adicionou uma despesa extra de R$ 61 mil. O contrato, assinado em 2018, previa a aquisição de veículos oficiais de representação, com proteção balística (blindados), tipo sedan de grande porte. A lista de veículos do tribunal revela que são veículos Hiunday/Azera. A frota completa, incluindo carros de representação, institucionais e de serviço, chega a 87 unidades.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) conta com 24 veículos de representação para seus ministros, com valor total de R$ 3 milhões. São modelos Ford/Fusion, ano 2018, com preço unitário de R$ 126 mil. O tribunal utiliza ainda 12 veículos institucionais Nissan/Sentra, ano 2019, ao custo unitário de R$ 87 mil, totalizando R$ 1 milhão. A frota completa conta com 153 carros oficiais.

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) conta com 32 veículos de representação, modelo Ford/Fusion. Na última compra, foram adquiridos 22 carros 2017/2018 por R$ 2,6 milhões – no valor de R$ 119 mil a unidade. O tribunal conta ainda com 13 veículos de transporte institucional, a maioria modelo Renault/Fluence. Neste ano, foram adquiridos cinco Toyota/Corolla. E o tribunal está em processo de aquisição de mais cinco unidades. A frota total chega a 63 carros oficiais.

Justiça dos estados tem mais carros

No maior tribunal do país, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), que conta com 360 desembargadores, são 340 veículos institucionais, incluindo 138 Fluence e 112 Astra, e cinco de representação – modelo Honda Accord, ano 2020, com valor de mercado em R$ 260 mil. Entre os 813 veículos de serviço, há quatro Mitsubischi Pajero e mais quatro Toyota Hilux. Ao todo, o tribunal conta com 1.158 veículos.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) tem 178 carros de representação no modelo VW/Jetta. Custaram R$ 24 milhões. Entre os veículos de serviço, há mais 80 Jetta de modelos mais antigos. São 693 veículos em uso atualmente.

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) conta com 189 veículos. Entre os institucionais há 35 Renault/Fluence, sendo quatro Fluence Privilege. A última aquisição aconteceu em 2019. Foi adquirido um veículo de representação, modelo Kia Sorento, no valor de R$ 236 mil.

Carrões chegam aos sertões

Como mostrou reportagem do blog, as mordomias oferecidas a magistrados em Brasília ou nas grandes capitais chegam também aos tribunais instalados nos sertões do país. Os desembargadores também querem conforto, luxo e segurança.

A última aquisição de veículos feita pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN) foi em junho de 2020. Foram comprados seis veículos blindados utilizados para o transporte de magistrados. Segundo o tribunal, em função das suas atribuições, eles foram ameaçados e trabalham com escolta. Foram adquiridos seis Toyota/Corolla, com custo unitário de R$ 202 mil, num total de R$ 1,2 milhão. O Tribunal de Justiça de Sergipe (TJSE) comprou um Ford/Focus blindado para o seu presidente e um Renault/Fluence blindado de reserva.

No Amapá, os ocupantes de cargos de direção utilizam duas Hilux e um Fiat/Essence. Há mais três Hilux e 27 Triton na frota de serviço. A maioria está lotada em comarcas do interior, mas 13 Triton e 2 Hilux ficam em Macapá.

O Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJMT) tem duas Hilux e duas Pajero Outdoor à disposição da cúpula do tribunal. Na frota de carros de serviço, há mais 6 Hilux, 10 VW/Amarok e 19 GM/S10.

Assistência no Pantanal

Questionado pelo blog sobre a farta utilização de veículos 4X4, o tribunal respondeu que algumas comarcas ficam situadas em regiões não pavimentas. “Em períodos de chuva é necessário a utilização de veículos com essas características. Esses veículos também são utilizados em ações de assistência jurídica e de saúde às localidades mais distantes da capital, como na região do Pantanal”, diz nota do TJMT.

O TJMA conta com três GM/Trailblazer para a cúpula do tribunal. Os demais desembargadores têm à disposição 30 Toyota/Corolla. Entre os 205 carros de serviço, há 18 Hilux, 16 Mitsubischi/Triton e 4 Nissan/Frointier para atender as comarcas no interior. No Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL), a cúpula do tribunal conta com 1 Hilux, 1 Accord, 1 Trailblazer e 5 Honda Civic.

O Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE), após realizar estudo de análise de viabilidade, optou por ter sua frota ativa por meio de locação de veículo. A última aquisição de veículos foi realizada pelo TJCE em 2014, quando comprou duas Triton, no valor unitário de R$ 113 mil, e duas Pajero Dakar, no valor de R$ 156 mil.

Blog Lúcio Vaz - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A desistência da Ford - O Estado de S. Paulo

Celso Ming

As condições para esse desfecho vêm do excessivo protecionismo, da incapacidade de competir no mercado internacional e do alto custo Brasil

fechamento das três fábricas da montadora americana Ford, depois de mais de cem anos de presença no Brasil, é um Boeing que despenca. Outros desastres o precederam. Em outubro do ano passado, a mesma Ford fechou a fábrica de caminhões de São Bernardo do Campo. E, em dezembro, a alemã Mercedes-Benz encerrou as atividades de sua montadora de automóveis em Iracemápolis, interior de São Paulo.

A indústria automobilística do Brasil sofre ainda mais do mesmo mal de que sofrem as montadoras dos Estados Unidos. Ficaram para trás em tecnologia, enfrentam custos excessivos, são mal administradas e dependem demais do balão de oxigênio fornecido pelos governos.

Já em 1990, o então presidente Collor se referia ao setor no Brasil como “produtores de carroças”. Bolsonaro agora está dizendo que a Ford quer tetas por onde se dependurar. Pelas contas do Ministério da Economia, em dez anos, as montadoras do Brasil foram alimentadas pelo governo federal em nada menos que R$ 43,7 bilhões. A essa conta precisam ser acrescentados outros favores velhos de guerra: isenções e créditos de ICMS, doações em terrenos e infraestrutura, proteção alfandegária, acordos comerciais que atuam como reservas de mercado...

Vejam o que o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama escreveu no seu último livro (Uma terra prometida) sobre as matrizes das montadoras lá instaladas: “O mal que aflige as três principais fabricantes americanas de automóveis (Ford, GM e Chrysler) é má administração, produtos medíocres, concorrência estrangeira, planos de aposentadoria com mais passivos do que ativos, custos altíssimos com saúde, dependência excessiva na venda de SUVs, com alta margem de lucro e grande consumo de gasolina”. 

E não para por aí. Lá pelas tantas, deixa escapar um curto lamento: “Não consigo entender por que é que Detroit (capital da indústria de veículos nos Estados Unidos) não consegue produzir um maldito Corolla”. Se a situação por lá é essa, o que não dizer das filiais brasileiras?

Essas e outras razões explicam por que uma única montadora moderna, a Tesla, dos Estados Unidos, que só vendeu 500 mil carros elétricos em 2020, tem um valor de mercado superior ao de todas as montadoras do mundo reunidas, cálculo que inclui a japonesa Toyota, a sul-coreana Hyundai e também as três tradicionais americanas que se dedicam à tecnologia convencional de carro a combustão.

Não é a queda do consumo em consequência da covid-19 nem a concorrência agressiva dos modelos japoneses, chineses e sul-coreanos que derrubaram a Ford no Brasil. Esse é um enfarte programado há anos e que não vai parar apenas nesse caso. É de uma inutilidade atroz o que disse o vice-presidente Hamilton Mourão: que a Ford poderia esperar um pouco mais para tomar essa decisão. É pretender que a agonia seja prolongada. 

Tem razão o governador da BahiaRui Costa (PT), quando afirma que o Brasil está virando um fazendão, querendo com isso advertir que a indústria de transformação, e não só a de veículos, está ameaçada. Costa culpa a política industrial dos últimos cinco anos, querendo disso isentar o período petista no governo. Mas as condições para esse desfecho vêm de há mais tempo. Vêm do excessivo protecionismo, da incapacidade de competir no mercado internacional e, também, do alto custo Brasil: do sistema tributário escorchante, da infraestrutura insuficiente em rápido processo de sucateamento.

Se o diagnóstico é esse, o que teria de vir em seguida é claro. É preciso rumo. O País precisa saber o que quer. Se quer continuar a ter uma indústria que vive de espasmos graças a favores fiscais (estratégia que se mostrou fracassada); ou se quer uma indústria competitiva, capitalizada e independente. E têm de vir as reformas e a construção de um ambiente saudável, e não a artificialidade que está aí.

Celso Ming, colunista - O Estado de S. Paulo