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quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A desistência da Ford - O Estado de S. Paulo

Celso Ming

As condições para esse desfecho vêm do excessivo protecionismo, da incapacidade de competir no mercado internacional e do alto custo Brasil

fechamento das três fábricas da montadora americana Ford, depois de mais de cem anos de presença no Brasil, é um Boeing que despenca. Outros desastres o precederam. Em outubro do ano passado, a mesma Ford fechou a fábrica de caminhões de São Bernardo do Campo. E, em dezembro, a alemã Mercedes-Benz encerrou as atividades de sua montadora de automóveis em Iracemápolis, interior de São Paulo.

A indústria automobilística do Brasil sofre ainda mais do mesmo mal de que sofrem as montadoras dos Estados Unidos. Ficaram para trás em tecnologia, enfrentam custos excessivos, são mal administradas e dependem demais do balão de oxigênio fornecido pelos governos.

Já em 1990, o então presidente Collor se referia ao setor no Brasil como “produtores de carroças”. Bolsonaro agora está dizendo que a Ford quer tetas por onde se dependurar. Pelas contas do Ministério da Economia, em dez anos, as montadoras do Brasil foram alimentadas pelo governo federal em nada menos que R$ 43,7 bilhões. A essa conta precisam ser acrescentados outros favores velhos de guerra: isenções e créditos de ICMS, doações em terrenos e infraestrutura, proteção alfandegária, acordos comerciais que atuam como reservas de mercado...

Vejam o que o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama escreveu no seu último livro (Uma terra prometida) sobre as matrizes das montadoras lá instaladas: “O mal que aflige as três principais fabricantes americanas de automóveis (Ford, GM e Chrysler) é má administração, produtos medíocres, concorrência estrangeira, planos de aposentadoria com mais passivos do que ativos, custos altíssimos com saúde, dependência excessiva na venda de SUVs, com alta margem de lucro e grande consumo de gasolina”. 

E não para por aí. Lá pelas tantas, deixa escapar um curto lamento: “Não consigo entender por que é que Detroit (capital da indústria de veículos nos Estados Unidos) não consegue produzir um maldito Corolla”. Se a situação por lá é essa, o que não dizer das filiais brasileiras?

Essas e outras razões explicam por que uma única montadora moderna, a Tesla, dos Estados Unidos, que só vendeu 500 mil carros elétricos em 2020, tem um valor de mercado superior ao de todas as montadoras do mundo reunidas, cálculo que inclui a japonesa Toyota, a sul-coreana Hyundai e também as três tradicionais americanas que se dedicam à tecnologia convencional de carro a combustão.

Não é a queda do consumo em consequência da covid-19 nem a concorrência agressiva dos modelos japoneses, chineses e sul-coreanos que derrubaram a Ford no Brasil. Esse é um enfarte programado há anos e que não vai parar apenas nesse caso. É de uma inutilidade atroz o que disse o vice-presidente Hamilton Mourão: que a Ford poderia esperar um pouco mais para tomar essa decisão. É pretender que a agonia seja prolongada. 

Tem razão o governador da BahiaRui Costa (PT), quando afirma que o Brasil está virando um fazendão, querendo com isso advertir que a indústria de transformação, e não só a de veículos, está ameaçada. Costa culpa a política industrial dos últimos cinco anos, querendo disso isentar o período petista no governo. Mas as condições para esse desfecho vêm de há mais tempo. Vêm do excessivo protecionismo, da incapacidade de competir no mercado internacional e, também, do alto custo Brasil: do sistema tributário escorchante, da infraestrutura insuficiente em rápido processo de sucateamento.

Se o diagnóstico é esse, o que teria de vir em seguida é claro. É preciso rumo. O País precisa saber o que quer. Se quer continuar a ter uma indústria que vive de espasmos graças a favores fiscais (estratégia que se mostrou fracassada); ou se quer uma indústria competitiva, capitalizada e independente. E têm de vir as reformas e a construção de um ambiente saudável, e não a artificialidade que está aí.

Celso Ming, colunista - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 19 de agosto de 2019

O que esperar da reforma tributária - Luiz Carlos Mendonça de Barros

Valor Econômico

Mesmo que se consiga simplificar os impostos, ainda teremos carga fiscal muito superior à dos países emergentes

Para a minha geração, que viveu com intensidade os trabalhos da Constituinte depois da redemocratização do Brasil em 1984, a reforma da Previdência é a primeira grande alteração no quadro de proteção social por ela criada e que vigorou quase imutável até hoje. Para os mais jovens entenderem a importância desta mudança, falta o conhecimento do clima de euforia que cercou os trabalhos dos constituintes antes de sua promulgação.O país vivia então uma espécie de "porre" democrático com o sucesso incrível que foi a volta da democracia, depois de mais de 20 anos, a partir de um movimento popular pacífico e dentro das regras constitucionais estabelecidas pela força das armas pela própria ditadura militar. [que, infelizmente, resultou na chamada Nova República, o passo inicial para a escalada de corrupção que dominou o Brasil, em todos os governos, sendo o ápice atingido nos governos lulopetistas - felizmente, tudo indica que estamos iniciando a descida.

Imaginava-se ser possível criar com a força representativa dos constituintes eleitos pelo povo uma sociedade igualitária ou pelo menos mais justa, ao fim dos trabalhos. Esta verdadeira Utopia que seria construída sob o comando de um Estado que estendesse aos mais pobres e necessitados um amplo e generoso cobertor de proteção social, dominava os discursos inflamados da grande maioria dos constituintes em Brasília. Eu vivia um dia a dia mais realista, como diretor do Banco Central em Brasília, na tentativa de controlar a inflação que já superava, à época, os 7% ao mês. Mas, mesmo assim, a euforia também podia ser sentida naquele prédio esquisito que havia sido construído pelos burocratas da ditadura. Prédio estranho visualmente, e que não podia ser ocupado totalmente porque descobriu-se depois de sua construção não ter em sua estrutura a resistência necessária para tal.

Mas tive a sorte de receber como hóspede na residência oficial a que tinha direito - outra herança da época militar - o constituinte José Serra, meu amigo de longa data. Em nossas conversas noturnas - Serra só dormia depois das 4 horas da manhã - ouvi dele as primeiras restrições ao projeto constitucional ainda em construção. Como economista, com visão fiscal bastante conservadora, estava assustado com a abrangência dos chamados direitos sociais pétreos do cidadão e que estariam garantidos pela nova Constituição. "Luiz Carlos", ele me dizia, "ninguém está fazendo as contas sobre como e onde vamos encontrar os recursos necessários para pagar tudo isto".

Lembro aqui ao leitor do Valor que a carga fiscal à época era de pouco mais do que 24% do PIB, o que permitia que tivéssemos uma estrutura de impostos simples, praticamente igual à da maioria das economias emergentes como a nossa. Mas Serra era uma voz minoritária - junto com poucos outros constituintes - e a vitória da euforia foi acachapante. Sobrou a este pequeno grupo de realistas fiscais uma cláusula, arrancada a muito custo, de revisão da Constituição, quatro anos depois - e com um quórum simples - para aprovar alterações que o tempo mostrasse necessárias. Mas a revisão chegou em um momento de crise política com o impeachment do presidente Collor e as cláusulas sociais remanesceram intocadas.

As previsões mais pessimistas feitas pelo constituinte José Serra só começaram a se tornar realidade após o sucesso do Plano Real, com a redução da arrecadação do chamado imposto inflacionário e a estabilidade da moeda que se seguiu. Outra razão para que nós brasileiros só acordássemos mais tarde para os problemas fiscais criados pela euforia democrática da Constituinte de 1988 foi a demora natural na aprovação de leis infraconstitucionais e pela defasagem no tempo das decisões judiciais sobre a implementação das novas responsabilidades sociais do estado brasileiro. Entre 1991 e 2017, a carga fiscal brasileira progressivamente passou dos antigos 24 % para 32% do PIB, mostrando de forma clara o verdadeiro impacto da Constituição de 1988 sobre os gastos sociais do governo.

Mais recentemente, a deterioração das contas da previdência social veio apenas somar-se a esta realidade e colocar uma nova pressão sobre a carga de impostos necessários para estabilizar a dívida pública federal. E, portanto, continuaremos a depender de uma arrecadação de impostos e tributos da ordem de 34% para estabilizar a situação fiscal de hoje. E não será através de uma reforma dos impostos que chegaremos - como é a expectativa da maioria da população hoje - a uma carga fiscal menor. Além disto, a reforma fiscal que começa a ser analisada pelo Congresso tem uma dificuldade adicional para sua aprovação representada pelos conflitos de interesse muito mais difusos - e de difícil conciliação na sociedade - do que foi o caso da reforma da Previdência.

Mesmo que se consiga um sucesso relativo na simplificação e racionalização de nossos impostos, ainda teremos uma carga fiscal muito superior à dos países emergentes e próxima dos países desenvolvidos e social-democratas da Europa. Ou seja, seremos ainda um ponto fora da curva e, por esta razão, vamos continuar a ter um limite estrutural ao nosso crescimento potencial no futuro. Podemos nos preparar para fortes decepções com o texto final.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista - Valor Econômico
 

quarta-feira, 16 de março de 2016

Desemprego expressa o drama humano na crise - Só após a deposição de Dilma, a situação vai começar a melhorar, ou pelo menos parar de piorar

O IBGE aponta um crescimento no número de desempregados em quase dois milhões de pessoas no ano passado, a face econômica e social do imbróglio político

Enquanto Brasília ferve com a homologação e divulgação da denúncia de Delcídio Amaral, com as incertezas sobre o futuro imediato de Lula, entre muitos outros assuntos —, transcorre, em todo o país, a tragédia do desemprego, vivida de maneira crescente por milhares de famílias. 

No mundo político e do poder, procura-se estimar a capacidade de resistência da presidente Dilma, sondam-se os próximos lances do processo de impeachment, que pode voltar a tramitar hoje, a depender de decisões do STF. Já no Brasil do cidadão comum, angustia milhões de desempregados como continuar a pagar as contas com o dinheiro limitado do FGTS e ou a partir do esgotamento do seguro. Um drama que não era vivenciado no Brasil, nessas dimensões, desde o início da década de 90, com o sequestro da poupança decretado pelo presidente Collor.

Os dados apurados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, indicam que, no último trimestre do ano passado, a taxa de desemprego chegou a 8,5%, contra 6,5% no mesmo período de 2014. Pelas médias anuais, o contingente de desocupados passou de 6,7 milhões de pessoas em 2014 para 8,6 milhões no ano passado, quase dois milhões de desempregados a mais.

A Pesquisa Mensal de Empregos, também do IBGE, mais restrita, por abranger apenas as seis maiores regiões metropolitanas — a Pnad monitora o mercado de trabalho em 3.500 cidades espalhadas pelo país —, detecta o crescimento da participação dessas capitais e seu entorno (Rio, São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre) no total de desempregados. Em janeiro de 2015, a parcela de 12,7% dos desocupados estava nessas seis regiões metropolitanas. Em janeiro último, 14,9%.

Cresce também, à medida que persiste a recessão, a dificuldade para se encontrar novo emprego. Hoje, 20% dos que buscam ocupação esperam mais de um ano para voltar ao mercado de trabalho formal. No início de 2014, eram 14,7% dos desempregados.
Para piorar, as perspectivas não são boas. O Índice de Atividade Econômica, do Banco Central, o IBC-Br, fechou janeiro com uma retração de 0,6%, confirmando a persistência do mergulho da economia. Vai-se confirmando que o Brasil completará em 2016 dois anos em recessão, com queda na renda e demais mazelas características deste quadro.

A deterioração da economia e do quadro político ocorre no mesmo universo. Os sinais de desestabilização do governo Dilma, os cuidados do PT e do Planalto com um Lula sob investigação são questões turbinadas por uma crise econômica construída a partir do segundo governo Lula e consolidada no primeiro mandato de Dilma. O desemprego, o drama social e o rebuliço brasiliense são capítulos da mesma história.

Fonte: Editorial - O Globo