Um dia os doutores acordam e sentem a comichão: “Vamos tentar quebrar o país de vez. Eu também quero ser Sergio Moro. Eu também quero ser Deltan Dallagnol"
Pois é… É claro que a coisa não seria
sem consequências. Existem protocolos a respeito, não é? Apesar da
rápida reação do governo brasileiro, sabia-se que os países importadores
de carne brasileira tomariam medidas. Uma coisa é embaixador cair de
boca na picanha; outra, distinta, são os respectivos órgãos reguladores
ignorarem o que a própria Polícia Federal anunciou ao mundo: papelão
misturado à carne, uso de lotes putrefatos, emprego de substância
cancerígena, partes do corpo dos animais impróprias para consumo humano
(cabeça de porco) sorrateiramente metidas no produto final.
Mentiras grotescas.
Bem, já sabemos, a esta altura, que os
gênios da PF não entenderam nada do que ouviram. Já sabemos que eles
analisaram a carne de um único lugar de processamento, dos 4.837 que
existem no país. Já sabemos que todo o resto da narrativa foi montada
com chutes e ilações a partir de gravações autorizadas pela Justiça. Aliás, tomem nota: em todo o mundo
desenvolvido, a quebra de um sigilo telefônico costuma ser uma das
últimas etapas da investigação. No Brasil, tudo começa e termina com a
escuta. Somos tão sofisticados nisso que um bandido como Sérgio Machado
só se livrou da cana, e do resto, porque topou gravar seus
interlocutores. Mas volto ao ponto.
A União Europeia não suspendeu toda a
importação, a exemplo do que fez a China. Oh, não! Só aquela oriunda de
frigoríficos citados. Bem, no grupo, estão a BRF e a JBS. Dá
praticamente na mesma. A Coreia do Sul anunciou o aumento da
fiscalização sobre o produto brasileiro e suspendeu frangos da BRF, o
maior exportador mundial dessa carne. Por enquanto, nada de carne
brasileira, de qualquer uma, no Chile.
Eis aí as consequências práticas da
irresponsabilidade da Polícia Federal, do seu açodamento, do seu gosto
pelo espalhafato… Quem vai pagar por todas essas bobagens? Ninguém. Um
dia, um doutor acorda de veneta, fica com carência de refletores,
resolve que tem de ser o assunto das mesas de bar, sente aquele
faniquito da celebridade e bate o porrete na mesa: “É hoje!”. E 1.100
homens vão a campo para provar que o setor da economia em que o país
atingiu a excelência — as ligações políticas da JBS são outro assunto,
que merece ser discutido, sim — não passa de uma fraude de alcance
mundial. Na verdade, são todos uns malvadões, capazes de fraudar até
salsicha de merenda escolar.
E tudo isso, reitere-se, fazendo o exame
de amostras de UM entre 4.837 postos de abastecimento. Alguma evidência
material do papelão misturado à maçaroca de carne? Não! Isso veio de
escuta. Alguma evidência do uso sistemático de “carne podre”? Não! Isso
veio da escuta. Algum estudo científico provando que ácidos normalmente
usados na indústria de alimentos são cancerígenos? Não! Isso saiu da
mente divinal de um delegado.
Então ficamos assim. Um dia os doutores
acordam e sentem aquela comichão incontrolável: “Vamos tentar quebrar o
país de vez? O que temos aí ainda não é o suficiente! Vamos fazer
sucesso. Vamos mobilizar a população! Eu também quero ser Sergio Moro.
Eu também quero ser Deltan Dallagnol. Se eles podem ignorar as regras
elementares, por que não a gente? Vamos nessa! E ainda teremos o apoio
de manifestantes. Que se dane o setor!”.
Sabem como é: a carne da demagogia é fraca, não é mesmo? Mas por favor! Não falemos em punições
para o espetáculo de abuso de autoridade a que se assistiu. Nem mesmo há
como punir os responsáveis. [a "barriga" da PF, objeto desta matéria, é mais uma prova da necessidade de que policiais federais, promotores e até mesmo juízes estejam sujeitos a uma lei que proteja não só os brasileiros, mas o próprio Brasil, dos efeitos nocivos do abuso de autoridade.
Todo e qualquer crime deve ser investigado; suspeitas devem ser investigadas. Mas, tudo de forma responsável, sem ações espalhafatosas, nas quais todos querem aparecer.
Defendemos investigação séria contra a corrupção, contra o mau uso do dinheiro público, contra ações que 'queimem' a imagem do Brasil e de seus produtos,mas, sempre com responsabilidade.
Defendemos que os culpados sejam punidos com rigor, sem misericórdia e tenham tratamento igual ou pior do que os aplicados a sequestradores, latrocidas, estupradores, etc, independente da idade e da cor do colarinho.
Mas, sempre com responsabilidade.
Investigar corrupção, assalto aos cofres públicos é uma coisa; investigar alimentos é bem diferente, além de exigir amplos conhecimentos técnicos demanda também celeridade.
Uma Lava-jato pode durar dois, três ou mais anos; já injvestigar se um alimento, ou um medicamento, está adulterado, exige rapidez e precisão sob pena de que sérios danos sejam causados aos que consomem aquele produto ou utilizam aquele medicamento.]
Enganos, vejam que coisa, todos cometem. É uma pena que alguns custem alguns bilhões e condenem o país ao atraso.
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...
Corregedoria já!!!
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo