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segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

O fator Bolsonaro

Na análise da maioria dos políticos e dos comentaristas, entre os quais me incluo, a provável saída da disputa presidencial do ex-presidente Lula em decorrência da Lei da Ficha Limpa, devido à condenação em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal de Porto Alegre (TRF-4), vai afetar diretamente a candidatura do deputado Jair Bolsonaro, que se mantém há meses em segundo lugar nas pesquisas eleitorais.

Isso porque o apelo de Bolsonaro junto ao eleitorado seria muito mais o de antilula, a radicalização de um incentivando a do outro, polarizando a disputa entre os extremos, Lula pela esquerda, Bolsonaro pela direita. Além de reviver uma divisão para muitos superada na teoria política, a de direita e esquerda, as pesquisas demonstram ser anacrônica não apenas na teoria, mas na realidade, quando se analisa o eleitorado de um e outro.  A começar pelo fato de que uma parte dos eleitores de Lula se diz hoje disposta a ir para Bolsonaro, e vice-versa. Nas simulações em que Lula não aparece, 6% dos seus apoiadores afirmam que escolheriam o deputado federal Jair Bolsonaro. No sentido oposto, a mudança é ainda maior: até 13% dos eleitores que votariam no parlamentar responderam que poderiam apoiar o petista. É o voto Bolsolula, ou Lulanaro.

 Mas o perfil dos eleitores é diverso. A distribuição regional do eleitorado de Bolsonaro mostra que não é um fenômeno restrito ao Sudeste. Com exceção do Nordeste, onde Lula domina e ele tem apenas 10%, o deputado tem em um patamar de 15% a 17% nas outras quatro regiões.   Popular nas redes sociais, Bolsonaro pontua melhor entre os jovens. No cenário em que tem 15% no conjunto de eleitores, atinge 20% no grupo dos que têm entre 16 e 24 anos, sua melhor faixa etária. Segundo o Datafolha, sua popularidade decresce gradualmente conforme aumenta a idade do eleitor, até chegar a 7% de intenção de voto quando considerado apenas o grupo com 60 anos ou mais.

 Bolsonaro tem 60% de eleitores até 34 anos, 30% têm menos de 24 anos. O percentual é significativo quando comparado com a atração ao público jovem de seus principais concorrentes: 45% dos que disseram votar em Lula têm menos de 34 anos. Entre os que preferiram Marina, 49% estão nessa faixa etária.  A atuação nas redes sociais é a explicação mais provável. Bolsonaro tem no Facebook 4,7 milhões de seguidores. Entre seus adversários na corrida presidencial, Lula tem 3 milhões, João Doria, 2,9 milhões. Marina tem 2,3 milhões. Levantamento do Ibope mostra que 68% dos eleitores brasileiros têm acesso frequente à internet, mas entre os eleitores que preferem Bolsonaro o índice é muito maior, chega a 90%.

Assim como aconteceu com Trump nos Estrados Unidos, o eleitor de Bolsonaro relativiza suas declarações polêmicas, ou mesmo em parte gosta delas, como uma maneira de confrontar os políticos tradicionais, embora Bolsonaro esteja em seu sétimo mandato parlamentar.   Como aconteceu com Trump, que não sofreu grandes abalos durante a campanha mesmo quando um vídeo o mostrou na própria voz gabando-se de avanços sexuais explícitos, também Bolsonaro não se abala, mesmo condenado, quando surge declarando que não "estupraria" a deputada petista Maria do Rosário porque ela "não merecia". Prevalece a argumentação de que foi provocado. Seus eleitores alegam que as declarações estavam fora contexto e que há perseguição por parte de movimentos de esquerda e de grupos feministas e LGBT.
Segundo a análise presente entre seus assessores e apoiadores, Bolsonaro representaria um pensamento conservador típico do "cidadão de bem" brasileiro, que seria religioso, pai ou mãe de família que quer criar seus filhos em paz e em segurança, que é simples, mas honesto, que não concorda com os exageros do politicamente correto, com a liberdade exagerada nos costumes, que não suporta mais a violência desenfreada e a impunidade e que está pouco se lixando se o governo é civil, militar, de esquerda ou de direita, desde que seja honesto e que impeça a bagunça em que o pais está. [Bolsonaro é honesto e tem condições de impedir a bagunça que impera no Brasil.

Se Lula fosse eleito - não será sequer candidato e caso fosse não seria eleito  - o atraso e a bagunça seria de tal ordem no Brasil, que o lema da Bandeira Nacional teria que ser substituído por: DESORDEM e ATRASO.]
Na minha opinião, estão completamente equivocados na escolha de quem os representa. De qualquer maneira, dada a resiliência de seu apoio até o momento, talvez seus adversários devessem prestar mais atenção à motivação de seus eleitores, que em boa parte podem estar nessa posição por falta de um candidato de centro-direita que os represente.


Merval Pereira - O Globo