O GLOBO já havia revelado, em 19 de
fevereiro, que o senador petista tinha feito acordo com a Procuradoria Geral da
República para contar o que sabe e ser libertado. Trechos da delação, ainda não
homologada no STF, foram divulgados hoje pela revista ‘IstoÉ’
Delcídio delatou envolvimento de Dilma e Lula em
tramas da Lava-Jato, diz revista
O GLOBO
já havia revelado, em 19 de fevereiro, que o senador petista tinha feito acordo
com a PGR; trechos da delação foram divulgadas pela revista ‘IstoÉ’
O
acordo de delação premiada feita pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS) com a Procuradoria-Geral
da República traz detalhes de como a presidente Dilma Rousseff e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teriam tentado interferir na condução
das investigações da Lava-Jato, segundo reportagem da revista “Isto É” publicada nesta quinta-feira. O
senador foi preso no dia 25 de novembro, por ordem do Supremo Tribunal Federal
(STF) após ser acusado de atrapalhar as investigações da força-tarefa.
O GLOBO já havia revelado no último dia 19
de fevereiro que o petista fez um acordo com a PGR antes de ser solto. Delcídio
vai responder as acusações contra ele na Operação Lava-Jato em prisão domiciliar e foi autorizado a trabalhar no Senado, mas
com a obrigação de se recolher em casa à noite e em
dias de folga.
Teor explosivo: Depoimento prestado
no STF por Delcídio do Amaral (PT-MS) aguarda a homologação.
Na parte inferior, o termo de acordo e os principais tópicos da delação
Na parte inferior, o termo de acordo e os principais tópicos da delação
O ministro Teori Zavascki decidirá se homologa ou não
a delação, de
acordo a
publicação. O acordo só não teria sido fechado
por conta de uma cláusula de confidencialidade de seis meses exigida por
Delcídio, condição imposta pelo
petista, mas não aceita por Zavascki, que devolveu o processo à
Procuradoria-Geral da República.
Segundo a reportagem, ele
concedeu um prazo até a próxima semana para exclusão da exigência.
O governo
reagiu às declarações de Delcídio por meio do ex-ministro da Justiça e novo
titular da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, empossado nesta
quinta-feira. Ele afirmou que o senador Delcídio Amaral
(PT-MS) “não tem credibilidade” e “não tem primado por dizer a verdade”. Segundo
Cardozo, a delação do ex-líder do governo no Senado seria uma retaliação. De
acordo com a revista, Delcído afirmou que Dilma sabia
das irregularidades envolvendo a refinaria de Pasadena, nos Estados
Unidos, e de que Lula
comprou o silêncio de Marcos Valério, um dos principais operadores do
Mensalão. O ex-presidente também
teria, segundo relatos do senador divulgados pela publicação, “pleno conhecimento
do propinoduto instalado na Petrobras” e agido pessoalmente para barrar as investigações.
Ainda de
acordo com a reportagem, Delcídio foi
detalhista em suas revelações, e afirmou que a
Presidente da República teria tido papel decisivo na permanência dos diretores
envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras, utilizando sua influência e poder para impedir a punição. Ele mesmo diz, de
acordo com a reportagem, ter participado de reuniões em
que decisões ilegais foram combinadas a mando de Dilma e Lula.
Segundo o senador petista, Dilma
teria tentado por três vezes interferir na Lava Jato, sempre com a ajuda do
ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido
de promover a soltura de réus presos na operação”, teria afirmado Delcídio
na delação.
Numa das tentativas,
segundo o senador teria afirmado na delação, a
presidente Dilma contou com o envolvimento pessoal do petista. A
reportagem traz uma cópia do anexo da delação, na qual Delcídio diz que, diante
do fracasso das duas manobras anteriores, entre elas o encontro em Portugal com
o presidente do STF, Ricardo Lewandowski,
“a solução” passava pela nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o
STJ. “Tal nomeação seria relevante para o
governo”, pois o nomeado cuidaria dos “habeas
corpus e recursos da Lava Jato no STJ”. Delcídio teria contado que esteve
com Dilma no Palácio da Alvorada para uma conversa privada.
O senador
relata uma conversa nos jardins do Alvorada na qual Dilma teria solicitado que
ele, na condição de líder do governo,
“conversasse com o desembargador Marcelo Navarro, a fim de que ele confirmasse
o compromisso de soltura de Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo”,
da Andrade Gutierrez. Delcídio então teria se encontrado com Navarro “no próprio Palácio do Planalto, no andar
térreo, em uma pequena sala de espera”. Ele diz que
a reunião pode ser comprovada pelas imagens das câmeras de segurança.
Nela, de acordo com a delação de Delcídio, Navarro
“ratificou seu compromisso, alegando inclusive que o dr. Falcão (presidente do
STJ, Francisco Falcão) já o havia alertado sobre o assunto”.
O acerto, então, teria sido
cumprido à risca. Em
recente julgamento dos habeas corpus impetrados no STJ, Navarro, na condição de relator, votou pela soltura dos dois executivos, mas foi voto vencido em placar de 4 a 1.
PASADENA
Delcídio
afirmou, segundo a publicação, que Dilma tinha "pleno
conhecimento do processo de aquisição da refinaria (Pasadena)", fechado
quando ela estava à frente do Conselho de Administração da Petrobras. A
presidente havia afirmado anteriormente que não tinha conhecimento das
cláusulas desfavoráveis à estatal, que trouxeram um prejuízo
de US$ 792 milhões, de acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU).
Segundo Dilma, a decisão do Conselho havia sido tomada com base em um resumo
técnico "falho e incompleto". Delcídio
disse que "a aquisição foi feita com
conhecimento de todos, sem exceção".
O
senador afirmou também que Dilma teria tido "ingerência" na nomeação de Nestor Cerveró para uma
diretoria da BR Distribuidora, contrariando a versão da presidente. Delcídio diz que Dilma ligou para
ele duas vezes para tratar da indicação. Na
primeira ocasião, perguntou se Cerveró já havia sido convidado para o
cargo. Na segunda vez, telefonou
para confirmar a nomeação.
MESADA
PARA CERVERÓ
No
depoimento aos procuradores, Delcídio teria afirmado
que o pagamento a Cerveró - um dos
motivos para a prisão do senador foi a oferta de uma mesada para o ex-diretor
da Petrobras - teria sido feito a pedido de Lula. De
acordo com a reportagem, Delcídio disse
que o ex-presidente pediu "expressamente"
para que ele ajudasse o pecuarista José
Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente e também preso na Lava-Jato, porque
Bumlai seria citado nas delações premiadas do lobista Fernando Baiano e de
Cerveró. Segundo Delcídio, Bumlai tinha "total intimidade" com Lula e
exercia o papel de "consigliere"
da família.
De acordo
com a revista, Delcídio seria o responsável por
intermediar os pagamentos à família de Cerveró. O senador disse ainda
que acertou os detalhes com o filho do pecuarista, Maurício Bumlai. Ao todo,
teriam sido pagos R$ 250 mil a Cerveró, em remessas de
R$ 50 mil, entregues por meio do advogado Edson Ribeiro e por Diogo
Ferreira, assessor de Delcídio.
Segundo a
reportagem, os procuradores que tomaram o depoimento
consideram que a revelação pode
justificar um pedido de prisão de Lula.
MARCOS
VALÉRIO E PALOCCI
A
reportagem diz ainda que Delcídio afirmou que, em 2006, Lula e o ex-ministro Antonio Palocci
articularam um pagamento de R$ 220 milhões a Marcos Valério, para evitar
que o publicitário se manifestasse sobre o mensalão. Na ocasião, o dinheiro teria sido prometido por Paulo Okamotto, hoje
presidente do Instituto Lula. No depoimento, Delcídio relatou o teor de
uma conversa em que teria alertado Lula, naquela ocasião: "Acabei de sair do gabinete daquele que o senhor enviou a Belo
Horizonte (Okamotto). Corra, presidente, senão as coisas ficarão piores do que
já estão".
O senador relatou ainda que,
depois, recebeu uma ligação de Palocci, que disse a ele que Lula
estava "injuriado" com o teor da conversa. O ex-ministro teria afirmado que
"assumiria a responsabilidade pelo
pagamento da dívida (com Valério)". Segundo a revista, os procuradores
afirmam na delação que "a história
mostrou a contrapartida: Marcos Valério silenciou". Delcídio, que
presidiu a CPI dos Correios, disse ainda que presenciou "tratativas ilícitas para a retirada do relatório (final da
CPI) dos nomes de Lula e do filho Fábio
Luís Lula da Silva em um acordão com a oposição".
CPI
DOS BINGOS
Delcídio,
de acordo com a "Istoé", relatou
que integrantes da CPI dos Bingos, encerrada em
2006, teriam agido para proteger Dilma. O
senador afirmou que "uma das maiores
operações de caixa dois para a campanha de Dilma em 2010 foi feita através do
empresário Adir Assad", condenado por ser um dos operadores do esquema
de desvios na Petrobras. Segundo o depoimento, a orientação do tesoureiro da
campanha, José Di Filippi, era para que os empresários fizessem contratos de
serviços com as empresas de Assad, que repassava os recursos para a campanha. O senador disse que a CPI foi encerrada prematuramente "quando o governo percebeu que as
várias quebras de sigilo levariam à campanha de Dilma em 2010".
SÍTIO
DE ATIBAIA
O senador afirmou que Bumlai teria contratado um
arquiteto e um engenheiro para realizar obras no sítio de Atibaia, usado por Lula e seus familiares. De
acordo com Delcídio, a operação foi abortada pelo então presidente da OAS, Léo
Pinheiro, que se dispôs a fazer o serviço por meio da empreiteira.
Delcídio
disse ainda que os senadores Gim Argello
(PTB-DF) e Vital do Rego (PMDB-PB) e os deputados Marco Maia (PT-RS) e Fernando
Francischini (SD-PR) cobravam propina de
empreiteiros para não serem convocados a depor na CPI da Petrobras. De
acordo com a delação premiada, "a
CPI obrigava Léo Pinheiro, Júlio Camargo e Ricardo Pessoa a jantarem todas as
segundas-feiras em Brasília", com o "objetivo de evitar que os empresários fossem convocados a
depor"
Fonte: O Globo