O Globo
Maioria dos governadores da Amazônia está se lixando para floresta
A reunião com governadores da Amazônia serviu para Bolsonaro
mostrar que não está só. A maioria dos convidados endossou seu discurso
contra a proteção ambiental
A Amazônia continua em chamas, mas Jair Bolsonaro conseguiu mostrar que
não está sozinho. Na reunião de ontem, a maioria dos governadores da
região deixou claro que também está se lixando para a floresta. O
encontro reuniu representantes de nove Estados. Sete deles apoiaram a
eleição do presidente e agora endossam o seu discurso antiambiental. “Hoje o Ibama chega e multa todo mundo, sem nenhum direito de defesa. A
Polícia Federal chega no porto e apreende todas as cargas de madeira”,
reclamou o governador de Roraima, Antonio Denarium (PSL), dublê de
político e porta-voz dos grileiros.
“As queimadas sempre existiram”, emendou o governador de Rondônia,
Marcos Rocha (PSL). Coronel da PM, ele buscou apresentar os ruralistas
como vítimas, e não responsáveis pelas queimadas. “O que eu vi foram
agricultores apagando incêndio. Existe uma distorção do que é falado no
exterior”, alegou.
Empenhados em bajular o capitão, alguns convidados repetiram seus
ataques ao presidente da França. “O seu Macron está surfando nas cinzas
da Amazônia”, discursou o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM).
Ele também endossou o lobby presidencial para liberar o garimpo em
terras indígenas. “Nós não queremos tirar terra de índio, não. Nós
queremos tirar as riquezas que lá estão!”, esclareceu.
Sob críticas de líderes do G7 e da imprensa internacional, Bolsonaro não
escondeu a alegria com os afagos. “Vamos sair todo mundo para tomar um
refrigerante aí fora, numa boa. Todo mundo amigo!”, empolgou-se, depois
que o aliado Denarium atacou as demarcações. O clima de camaradagem só foi quebrado por dois governadores. Helder
Barbalho (MDB), do Pará, argumentou que a crise diplomática pode
prejudicar as exportações brasileiras. Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão,
lembrou que as verbas do Fundo Amazônia estão fazendo falta no combate
às queimadas. Até aqui, Bolsonaro já esnobou R$ 288 milhões em doações. “Nós não podemos rasgar dinheiro, porque rasgar dinheiro não é algo
sensato”, afirmou Dino. O problema é que a sensatez anda em falta no
Planalto.
Bernardo Mello Franco, jornalista - O Globo