O Governo esqueceu de avisar distribuidoras e postos que têm de baixar o preço do combustível porque o presidente Temer mandou
“Subdesenvolvido” é o país que acredita que, repetindo cuidadosamente tudo aquilo que não deu certo, pode obter resultado diferente. No tempo de Sarney, o Governo congelava preços e usava seu “poder de polícia” para obrigar o mercado a obedecer. Foi a época em que carro usado custava mais caro que o novo; equipes do Governo frequentavam pastos para prender bois gordos (que, aliás, valiam menos que os bois magros) e, assim, assegurar o abastecimento de carne. Claro, não deu certo.
Agora, o Governo manda baixar em R$ 0,46, nos postos, o litro do óleo diesel. Mas o Governo não tem postos. E esqueceu de avisar distribuidoras e postos que têm de baixar o preço porque o presidente Temer mandou. O presidente Temer já não manda mais nem na temperatura do cafezinho que toma, vai mandar em enormes distribuidoras e postos espalhados por todo o país? Não mandaria nem se sua autoridade estivesse intacta: nenhuma lei obriga distribuidoras e postos a seguir tabelamentos. Quem fixa o preço é a concorrência (e, entre as distribuidoras, nem concorrência há). Os donos de postos? Todo dia vemos na TV algum deles envolvido em fraude na venda de combustíveis, fraudando a qualidade ou a quantidade. Que ganham ao vender o diesel R$ 0,46 mais barato? Poder de polícia, só se pretenderem o diesel. Mas como farão, escorregadio que é, para algemá-lo?
Como no tempo de Sarney. Pois ainda estamos no tempo de Sarney.
Como funciona
A promessa de Temer aos caminhoneiros só seria viável se a Petrobras
vendesse diesel R$ 0,46 mais barato, as distribuidoras se comprometessem
a dar o mesmo desconto aos postos, que se comprometeriam a repassar o
desconto aos clientes. Mas, lembrando Mané Garrincha, alguém combinou
com os russos? De 83 postos visitados pela Agência Nacional de Petróleo,
75 não tinham dado os R$ 0,46 de desconto até a noite de segunda-feira.
Uma ideia
Já que é para buscar lições no passado, que tal uma que por muito
tempo deu certo? O BNH cobrava correção monetária trimestral do
comprador de casa própria. Mas teve problemas: o salário dos financiados
subia uma vez por ano. O problema foi resolvido ao criar-se o Fundo de
Compensação das Variações Salariais. A questão dos aumentos quase
diários de combustíveis não poderia ter uma solução parecida? E envolver
o gás engarrafado, cujos preços sufocam muito mais gente, e mais pobre,
que os caminhoneiros?
A dança dos candidatos
Já decidiu em quem votar para a Presidência? Calma: muita coisa vai
mudar até outubro. A chance de Lula ser candidato é a mesma de Dilma
ganhar o Prêmio Nobel; e ele é um Boeing estacionado na pista, não
decola e não deixa nenhum aliado decolar. Os partidos bolivarianos irão
se unir em torno do poste que Lula indicar, apoiarão Ciro ou ficarão
cada um com seu candidato? Manuela D’Ávila, do PCdoB, disse que pode
desistir se houver união. Mas haverá? O PSDB insistirá em Alckmin, que
até agora não decolou? Fernando Henrique propõe uma união de centro e
nem cita o nome do hoje candidato de seu partido. Mas até agora ninguém
imagina um nome que aglutine o centro. Marina, como de quatro em quatro
anos, sai candidata, pela meia esquerda. Bolsonaro lidera as pesquisas,
mas resistirá sem tempo de TV? E dos novos, algum tem chance de repetir
Enéas?
Os votos de Lula
Domingo houve eleições para governador no Tocantins, para completar o
mandato dos governantes que perderam o cargo. A senadora Kátia Abreu,
do PDT, com apoio do PT, liderava as pesquisas, com 22 a 15 ─ acima da
margem de erro. Era a única que superava a soma de brancos e nulos.
No final da campanha, a
presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, gravou vídeo com carta de
Lula dando apoio expresso a Kátia Abreu. Pois não é que Kátia despencou?
Chegou em quarto lugar: à sua frente, disputando o segundo turno, Mauro
Carlesse, do PHS, e Vicentinho Alves, do PR. Carlos Amastha,
ex-prefeito da capital, Palmas, foi o terceiro.
Festança paulistana
Enquanto o país discute caminhoneiros e eleições, a Câmara Municipal
de São Paulo cuida do dia-a-dia ─ do dia-a-dia de seus integrantes. No
total, 145 funcionários top de linha terão aumento de até R$ 16 mil por
mês, o que eleva seus salários para algo próximo a R$ 40 mil mensais.
Lembra do dispositivo constitucional que coloca os vencimentos dos
ministros do STF como teto salarial do funcionalismo? Pois é, a Câmara
não lembra. Já que era jogo bruto, os vereadores aprovaram também R$
1.079 mensais para cada um, a título de auxílio-saúde. Valor da festa:
R$ 43,6 milhões por ano.
Bom livro
Vale a pena: acaba de sair o livro “A Vingança”, de Antônio Melo. Conta a vida de Dinha, menina que nunca existiu. Mas existe, ah se existe!