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domingo, 18 de setembro de 2022

A Falha e o Tubo - Guilherme Fiuza

Revista Oeste

Um dia esse jornal se encontrou com uma plataforma livre. Segue-se o diálogo travado entre os dois grandes veículos 
 
 
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Era uma vez um grande jornal isento chamado Falha de Sapê. Um dia esse jornal se encontrou com uma grande plataforma livre chamada O Tubo. O encontro se deu numa esquina escura da internet. Segue-se o diálogo travado entre os dois grandes veículos, a Falha e o Tubo, segundo uma fonte:

— Opa.

— Fala aí.

— Tô te esperando há um tempão.

— Desculpe. Perdi a hora censurando uns vídeos.

— Pelo menos fez o trabalho direito?

— Claro. Botei todos na sombra, pra ninguém encontrar.

— Isso é muito mais legal que remover, né?

— Muito mais. O autor fica com a ilusão de que tá falando pra um monte de gente e o vídeo dele não aparece pra ninguém ahahaha!

— Ahahaha!

E lá no jornal? Resolveram aquele problema dos especialistas?

— Totalmente resolvido.

— Que bom. Ninguém mais tava acreditando naquele “dizem especialistas”, né?

— Tem sempre uns trouxas que acreditam em tudo. Mas era hora de mudar.

Como é que vai ser agora?

— “Diz leitor”.

— Como assim?

— O “dizem especialistas” restringia muito, porque mal ou bem a coisa tinha que ser verossímil.

— Saquei. Genial!

— Não é? Com o “diz leitor” a gente pode falar qualquer barbaridade sem aquela chatice de ter que parecer fundamentado.

— Liberdade de expressão.

— No caso, liberdade de impressão.

— Perfeito. E ninguém reclamou que pra publicar o que o leitor diz não precisava do jornal?

— Ninguém. O pessoal recebeu como democratização do jornalismo.

Eles compram qualquer coisa, né?

— Qualquer coisa.

Falando em comprar: trouxe a muamba?

— Claro. Tá aqui.

— Mas não foi bem isso que a gente combinou.

— Foi o que deu pra arrumar.

Mas faz o mesmo efeito da outra?

— Praticamente. Esse veneno realmente não resolve na hora, mas asfixia aos poucos.

Ah, então por um lado é até melhor, né?

— Também acho. Você queria uma reportagem inventando um crime, pra poder riscar o fascista do mapa. Isso a gente não conseguiu fazer, estou com equipe reduzida.

Se eles mudarem pra Pingos nos Js acho que não teria o mesmo alcance, né?

Muita gente de férias?

— Não. No curso de checagem.

— É bom esse curso?

— Uma porcaria. Mas a gente ganha pra fazer essa “capacitação”, aí não dá pra reclamar.

— Depois é só repetir a cartilha do patrocinador nas matérias.

— Exatamente. Claro que não precisava de curso pra isso, mas não custa nada cumprir o ritual ahaha.

— Ahaha.

— Então o que eu te trouxe é o seguinte: uma reportagem mostrando que você favorece os fascistas.

— Eu??!!

— Sim, você.

— Logo eu que vivo cortando cabeça e silenciando essa gente?

— É. No início você vai parecer mal na foto, mas logo todo mundo vai entender o jogo e te elogiar.

— Por quê?

— Porque você vai aproveitar a reportagem que eu te trouxe como justificativa pra sabotar aquele elemento mais perigoso. Não é isso que você quer?

— É. Mas como eu vou explicar o meu “favorecimento” a ele?

— Não precisa explicar. Quando você travar o canal dele, a alegria na patrulha vai ser tão grande que ninguém vai se lembrar do motivo.

— Será?

— Bom, você me disse que estava com dificuldade de boicotar esse elemento perigoso pela audiência enorme dele, que ia dar na vista. Estou te trazendo o pretexto. O resto é contigo.

Tem razão. Obrigado. Mas posso te fazer mais um pedido?

— Manda.

— Será que algum daqueles intelectuais afetados que escrevem na Falha poderia fazer uma crítica ao alfabeto?

— Hein?

Nem seria criticar o alfabeto inteiro. Só fazer um ataque filosófico à letra “i”.

— Como assim?

Dizer que o “i” tem uma função subliminar de dominação das minorias pela elite branca e deveria ser banido da língua portuguesa.

— Acho que consigo sim. Posso saber pra quê?

Pra acabar de vez com o elemento perigoso. Se eles mudarem pra Pingos nos Js acho que não teria o mesmo alcance, né?

— Bem pensado. Com certeza não. E sem o “i” a palavra Pingos também ficaria inviável.

— Isso. Atacaríamos em duas frentes.

— Deixa comigo. Vou pedir aos intelectuais aqui da Falha que pensem também numa proposta revolucionária para a substituição do “i” nas outras palavras.

— Que tal um punho cerrado?

— Genial! Você também é um intelectual. Quer escrever na Falha?

Obrigado, não tenho tempo. Muito vídeo pra censurar.

— Imagino. Então boa sorte com a tesoura por um mundo melhor!

— Sucesso com as fake news de grife!

— É nóis!

— O certo é “nós”.

— Eu sei. É jeito de falar.

Tá, mas vai procurando outro jeito porque nós vamos acabar com o “i”.

Leia também Fake news por um mundo melhor”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste