Primeiro, é preciso saber quais são as propostas. Segundo, quando se sabe, qual prevalece. E terceiro, quem será nomeado para tocar as coisas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comanda reunião ministerial Cristiano Mariz/O Globo [circo agora mudou de nome?]
No início deste mês, dava-se como certo que a ministra do Turismo,
Daniela Carneiro, seria demitida nesta semana. Não foi.
Na próxima, o
presidente Lula
vai para a Europa, de modo que a ministra, também deputada federal pelo
Rio, pode ganhar mais alguns dias, se escapar neste final de semana.
Estaria o governo avaliando a política para o turismo?
Teria a ministra
fracassado em apenas cinco meses de governo? [se desonestidade fosse critério que impedisse alguém de ser ministro, certamente a reunião 'ministerial' não estaria sendo presidida pelo petista; o ilustre Sardenberg esqueceu que tinha um outro para ser demitido, aquele que gosta de cavalos.]
Ingenuidade.
Há uma intensa discussão sobre o futuro desse ministério, mas ninguém, entre amigos e adversários da deputada, fala sobre programas para desenvolver o turismo interno ou para atrair mais estrangeiros para este belo país.
Tem mais. Daniela Carneiro integra o grupo político liderado por seu
marido, prefeito de Belford Roxo, o Waguinho. O casal, com ligações à
direita, apoiou Lula nas últimas eleições — e o presidente é muito
grato. Logo, se a questão não tem nada a ver com turismo, tem muito a
ver com a compensação que se dará ao grupo de Waguinho.
Algo numa área
parecida? Algo a ver com viagens? Aeroportos? Nada. Especula-se que o
prefeito e sua mulher estejam interessados na gestão dos serviços de
saúde do Rio. Mais exatamente, nos grandes hospitais federais. São cinco
grandes. Problema: estão sob controle do PT.
De novo, não se fala de políticas para melhorar a eficiência dos
hospitais, reduzir as filas de espera, coisas assim. Nos bastidores da
disputa, comenta-se que essa área da saúde tem mais capilaridade e,
sobretudo, muito mais verbas, contratos de prestação de serviços, compra
de equipamentos e medicamentos. (Aliás, como registrou Bernardo Mello,
do GLOBO, dois diretores desses hospitais, indicados pelo PT, já foram
exonerados, depois de reportagens do jornal e da TV Globo, levantando
questões de administração.) Repararam?
A ministra tem apenas cinco meses
de gestão. Os diretores, nem isso. Não daria para avaliar nenhuma
política séria.
Na última reunião ministerial, Lula disse a seus auxiliares que não
queria mais saber de ideias novas, mas da aplicação de propostas já
definidas. Quem tem propostas? O ministro Fernando Haddad, certamente.
Tem conseguido desenvolver seus programas, mas não sem enfrentar
surpresas dentro do próprio governo. Ele vinha repetindo que seu
objetivo é reduzir os incentivos fiscais, quando o vice-presidente e
ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, anunciou um programa de
concessão de incentivos para a indústria automobilística.
Haddad ainda
se salvou de uma goleada feita de gols contra. Conseguiu limitar o
programa de Alckmin, mas teve de entregar algumas centenas de milhões de
reais.
- Falta consenso: PT do Rio reage à possibilidade de demissão de Daniela
A questão dos incentivos aparece em dois temas cruciais para o governo e
para o país: a reforma tributária e o arcabouço fiscal.
Qual linha
prevalecerá? É a pergunta que se fazem senadores e deputados. Na
verdade, uma questão mais ampla: o governo e suas bases apoiam que
projeto de reforma dos impostos?
São dilemas que prejudicam o
funcionamento do governo. Primeiro, saber quais são as propostas.
Segundo, quando se sabe, qual prevalece. E terceiro, o mais importante,
quem será nomeado para tocar as coisas.
Considerem a disputa aberta entre ambientalistas e desenvolvimentistas.
Estes querem os investimentos na indústria do petróleo, incluindo a
exploração do óleo na Margem Equatorial, ao longo da foz do Amazonas, e
na construção de ferrovias e estradas, de apoio ao agronegócio, que
passam pela Amazônia.
Ora, a preservação da floresta é compromisso firme
de Lula, local e internacional.
E os ambientalistas, liderados por
Marina Silva, demonstram muita firmeza. Parece que o presidente tentará
conciliar as posições.
Muitas escolhas precisam ser feitas, e logo. O governo está para
anunciar uma nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento —[PAC, mais conhecido como PACO em homenagem ao famoso conto do PACO - só que o PACO petista é mais nocivo que o PACO que dá nome ao conto.] e
ali deverão constar os investimentos e financiamentos prioritários. Aí
veremos.
Aliás, saberemos também o nome. PAC lembra Dilma. E está meio
queimado. É outro dilema. O de menos.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - Coluna Opinião publicada em O Globo