Julianna Sofia
Um exército de 112 mil servidores federais encontra-se afastado do local de trabalho devido aos impactos da pandemia
Um exército de 112 mil servidores federais encontra-se afastado do local
de trabalho devido aos impactos da pandemia. Dentre eles, o mais alto
integrante da administração pública, o próprio presidente Jair
Bolsonaro. Infectado, isolou-se desde o último dia 7 no Palácio da
Alvorada, apesar da retórica trevosa e negacionista sobre os efeitos da
doença e em prol do relaxamento das regras de quarentena. Levantamento feito por esta Folha aponta que, se considerados os quase
280 mil funcionários das universidades e institutos enclausurados em
casa em razão da suspensão das aulas presenciais, quase 70% da mão de
obra federal mantém-se ausente do front.
Cumpre destacar que o isolamento social é medida fundamental para o
controle do contágio – enquanto não há tratamento comprovado para a cura
da doença ou vacina disponível. São várias as experiências auspiciosas
de países que adotaram restrições rígidas à circulação de pessoas para
achatar as curvas de infecção. Inevitável comparar os números de afastamento dos servidores federais
com a realidade laboral do restante do país. Dados do IBGE mostram que
apenas 12,5% da população ocupada no Brasil (o equivalente a 10,3
milhões de trabalhadores) continua em casa por causa do distanciamento.
Em relação ao início de maio – quando a medição Pnad Covid-19 teve
início–, 5,5 milhões de brasileiros voltaram às suas atividades, embora
haja transmissão acelerada do vírus em 60% das grandes cidades.
Para a maioria dos servidores federais não há prazo para o retorno às
repartições, e entidades representativas das categorias atuam para
garantir na Justiça extensão do trabalho remoto pelo tempo que durar a
pandemia. Em que pese o anacronismo de um Estado corporativista perpetuador de
mordomias indefensáveis ao funcionalismo, não há aqui que se falar em
privilégio. Trata-se de direito, a que todos deveriam fazer jus. [PARABÉNS à articulista; Raro se encontrar um profissional de imprensa que tenha a sensatez e honestidade de não considerar "privilégio descabido e injusto" o que é um direito do servidor público - é bem mais fácil alcançar a igualdade entre todos reduzindo direitos, do que propor a igualdade estendendo direitos.]