Para aprovar medida de arrocho fiscal, governo
enquadra PT e promete cargos ao PMDB
Planalto
obteve êxito com a estratégia e aprovou o texto base da
medida que endurece as regras para seguro-desemprego e abono salarial
Para
garantir sua mais importante vitória no Congresso este ano, dando início à
aprovação do ajuste fiscal, o governo
enquadrou o PT e recorreu à negociação de cargos com os aliados que poderão
resultar até mesmo em trocas ministeriais. O Palácio do Planalto obteve êxito
com a estratégia e aprovou, na noite desta quarta-feira, o texto base da Medida
Provisória (MP) 665, que endurece as regras para concessão de seguro-desemprego
e abono salarial. O PT se viu
pressionado pelo Planalto e pelo PMDB, que ameaçou
não aprovar a medida se o principal partido do governo não se comprometesse com
o apoio. Para convencer os deputados da base, emissários do Planalto
avisaram que uma nova configuração do governo — incluindo o primeiro escalão — dependeria da atuação de cada
partido na votação.
Segundo
relatos de peemedebistas, o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), afirmou
na tarde de quarta-feira, em reunião com a bancada do partido, que o Planalto
estava aguardando a votação da medida para iniciar mudanças na disposição de
cargos do governo. A primeira alteração citada como exemplo por Guimarães, de
acordo com deputados do PMDB, seria no Ministério do Trabalho, atualmente
ocupado pelo PDT com o ministro Manoel Dias, que decidiu fechar posição
contrária à MP. No momento em que foi encaminhar o voto contrário do PDT, o líder do partido, André Figueiredo (CE),
rechaçou as ameaças: — O PDT não se
rende! O PDT não se vende por cargos. Se for para entregar cargos nos
ministérios, entregaremos de bom grado.
OPOSIÇÃO
IRONIZA PT
A
garantia de Guimarães foi dada aos deputados do PMDB no momento em que um deles
se queixou de que as reivindicações dos partidos aliados não estariam sendo
atendidas, apesar do articulador político do governo, o vice-presidente Michel
Temer, ter anunciado há cerca de um mês, quando assumiu a função, que o governo
começaria a nomear aliados para o segundo escalão. Minutos antes da votação
começar no plenário, Guimarães fez um último apelo, ainda mais explícito: — Vamos
votar a MP, porque o governo vai reconhecer os gestos de todos vocês —
disse.
Logo que
o resultado da votação foi anunciado, com 252 votos
favoráveis, 227 contrários e uma abstenção, deputados da oposição ironizaram o PT, com paródia do samba “Vou festejar”: — PT pagou com
traição, a quem sempre te deu a mão — bradavam carregando
cartazes com a imagem da carteira de trabalho.
Apesar de
terem dado um “voto de confiança” ao
governo na votação da MP 665, os parlamentares da base
avisaram que a MP 664, que dificulta o acesso a pensão e
auxílio-doença, não será apoiada sem que as nomeações sejam publicadas. A
medida foi aprovada pela comissão especial na terça-feira e está pronta para
ser apreciada em plenário. A votação, no entanto, só deve ocorrer semana que
vem, pois depende da decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
de proceder à sua leitura.
— Não andou nada desde que o Michel assumiu.
O Guimarães disse que as mudanças iam depender dessa votação e vamos acreditar.
Agora, a 664 o governo não consegue aprovar sem nomear — afirmou um
peemedebista da cúpula.
A
quarta-feira foi de intensas negociações das bancadas governistas pelos cargos
no segundo e terceiro escalões em troca de apoio à MP. Vários recados foram
mandados ao governo para que as nomeações fossem agilizadas. Os parlamentares do PP, que até
terça-feira se mantinham indecisos sobre as medidas de ajuste, passaram a pregar o voto contra a MP 665,
porque não estavam sendo contemplados. Um deputado afirmou ao GLOBO que as nomeações estão atrasadas e
que os pedidos do partido, de cargos em bancos públicos, não estão sendo
atendidos.
O PR, que também está às voltas com pedidos de emprego, decidiu
manter o apoio ao governo, na tentativa de mudar a estratégia habitualmente
adotada pelos aliados, do toma-lá-dá-cá, para ver se desta forma terá algum
novo cargo. Líderes do governo e aliados admitiram que
a falta de pragmatismo do governo em cumprir compromissos com os partidos
aliados prejudica as negociações. — Está demorando mais tempo que o razoável.
Se não houver mais pragmatismo e menos ideologia, o governo vai demorar para
entrar nos trilhos — disse o vice-líder do governo na Câmara, o deputado
Ricardo Barros (PP-PR).
PT
DEU UM VOTO CONTRA
Logo pela
manhã de quarta-feira, Michel Temer se reuniu com líderes aliados e ministros,
para reforçar a importância da votação do ajuste. Na reunião, o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), sinalizou que o
bloco do PMDB defenderia o adiamento da votação, a
menos que a bancada do PT fechasse questão a favor do ajuste.
A
pressão do PMDB levou o líder do PT, Sibá Machado (AC) a fazer nova reunião. Depois de
três horas de reunião, a bancada do PT continuou sem
fechar questão mas garantindo a maioria dos votos. Novamente, foi
descartada a punição de petistas que votassem contra as propostas. — Só não serão 64 deputados do PT porque
dois deles estão com problemas de saúde — disse o líder petista.
A realidade se mostrou diferente. Dos 64 deputados do PT, 55 estavam presentes e um deles, Wellington Prado (MG), votou contra a MP.
Logo depois da reunião do PT e do anúncio de apoio
à medida do ajuste, Picciani
anunciou que a maioria “esmagadora”
da bancada do PMDB daria um voto de confiança ao governo e votaria a favor da
MP 665. O líder, afirmou, no entanto, que novas conversas serão feitas para
definir a votação da MP 664.