Os primeiros sinais
A forte alta do IBC-Br, registrado pelo Banco Central, em fevereiro, de 1,3%, não é ainda a retomada do crescimento. O país está tentando neste começo de ano sair da recessão e está conseguindo, mas a recuperação do PIB perdido nos dois últimos anos será lenta. O que começa agora a aparecer são os primeiros sinais de que o pior está passando. O IBC-Br foi o dado mais eloquente.O Banco Central não apenas registrou essa alta de fevereiro, em relação a janeiro, como revisou janeiro, de negativo em 0,26% para positivo em 0,62%. Uma mudança e tanto. Mais forte ainda foi a revisão que o IBGE fez com as vendas de varejo de janeiro, que saíram de 0,7% de retração para um crescimento de 5,5% em comparação com dezembro. A diferença tão grande é explicada pelo IBGE como sendo resultado de mudança metodológica. O setor de serviços também teve o índice revisto de queda de 2,2% para alta de 0,2%.
A conversa com executivos e empresários mostra sinais mistos de recuperação. O presidente da General Eletric (GE) no Brasil, Gilberto Peralta, ainda enxerga um cenário de fraqueza na economia, mas diz que o grupo cresceu 3,8% no ano passado e pode chegar a 5% este ano. O grande problema, segundo ele, é que além da crise fiscal o país enfrenta uma forte incerteza política, que afeta os investimentos. — Estamos vendo o país andando de lado, mas a tendência mesmo é de estabilizar. A retomada está demorando porque nós temos uma crise fiscal e uma política. Isso está dificultando. Se não houver surpresas no lado político, começa a recuperar este ano — afirmou.
Peralta explica que a GE produz bens de capital e as empresas do país já seguraram demais os investimentos. Agora, as encomendas estão voltando, lentamente, até em grandes empresas, como a Petrobras. O que precisa acontecer para que a recuperação seja mais rápida é o governo conseguir destravar as grandes obras de infraestrutura. — As concessões dos aeroportos foram boas, mas ainda é muito pouco. As possibilidades de investimento são enormes, na ordem de US$ 200 bilhões, em ferrovias, hidrovias, saneamento. A questão é que, hoje, se o grande investidor internacional tiver um projeto com 3% de retorno em Cingapura, e com 10% no Brasil, ele vai para Cingapura. Isso, por causa da insegurança política — afirmou.
Os números do Banco Central reforçaram as projeções de um primeiro trimestre positivo, e isso terá efeito sobre a confiança dos empresários e dos consumidores. Depois de oito trimestres consecutivos de queda, será um alívio ter novamente números do PIB no azul. Ontem, a bolsa teve a maior alta diária desde janeiro e o dólar fechou abaixo de R$ 3,10.
Por outro lado, o quadro político piorou sensivelmente. Uma coisa é viver a expectativa de revelações a serem feitas pela maior empreiteira do país, outra diferente é ter a informação concreta de que oito ministros do governo, inclusive o chefe da Casa Civil, serão investigados por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). E que uma centena de políticos serão também investigados.
O governo fez reunião até durante o feriado de Páscoa para estabelecer uma estratégia que evite que a tramitação das reformas seja afetada. Como as expectativas na economia dependem do andamento das reformas, é fundamental que o governo faça esse esforço.
Mas, na verdade, a reforma da Previdência já foi afetada pelo novo clima em Brasília. As concessões que estão sendo feitas vão reduzir a força das mudanças e elas são o resultado do enfraquecimento político do governo e de sua base. Quanto mais fraco estiver, mais suscetível à pressão por concessões, quanto mais vulneráveis estiverem os políticos, menos interessados estarão de votar pela aprovação de uma reforma impopular, ainda que necessária.
Fonte: Coluna da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo