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sábado, 14 de novembro de 2020

Primeira etapa, recessão vencida – O Estado de S. Paulo

Opinião

Banco Central confirma o fim da recessão, mas cenário de 2021 continua obscuro.

O Brasil saiu da recessão e a atividade cresceu 9,47% do segundo para o terceiro trimestre, segundo o Banco Central (BC). Esse crescimento foi insuficiente, no entanto, para anular a queda trimestral no período abril-junho (cerca de 10,1%). Com avanço de 1,29% em setembro, a economia completou cinco meses de recuperação, mas sem voltar ao nível de fevereiro, anterior aos grandes danos causados pela pandemia. Já apontado por números da indústria, dos serviços e do varejo, o cenário de retomada geral fica mais claro com a nova edição do Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br). Esse indicador, um sinalizador de tendência, é também conhecido como prévia do PIB, o Produto Interno Bruto.

O PIB do terceiro trimestre será informado em 3 de dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Será possível, então, saber com maior precisão como evoluíram as atividades produtivas, o consumo, o investimento em máquinas, equipamentos e obras, as trocas externas e as ações do setor público. Mas já se pode ter uma boa ideia do desempenho econômico recente e sondar o cenário provável neste fim de ano.

A forte retomada inicial e a perda gradual de impulso, depois de junho, são bem retratadas na série do IBC-Br. Em maio o indicador subiu 1,67%. Em junho, 5,38%. A partir daí as taxas mensais declinaram até atingir 1,29% em setembro. [não ficaram negativas, nem zeraram, permaneceram positivas, reduzindo apenas o ritmo - afinal o Brasil atravessou uma pandemia =  com mais de 150.000 mortes = ou quando é para criticar,  aceitam classificar a pandemia como uma gripezinha?] Movimento semelhante foi visto nos dados setoriais publicados mensalmente pelo IBGE.

Depois de forte reação inicial, indústria e varejo passaram a avançar mais lentamente, numa trajetória descrita como acomodação normal por técnicos da instituição. No caso dos serviços, a recuperação, iniciada só em junho, teve evolução diferente, mas também com sensível desaceleração em setembro.

Os números de outubro a dezembro devem mostrar sinais positivos próprios dessa época. Já se percebe um aumento sazonal do emprego, normalmente revertido em janeiro. Tem sido rotineira a preservação, no começo de cada ano, de uma pequena fração dos empregos criados na fase de expansão temporária. Mas é difícil dizer se isso ocorrerá no começo de 2021. Quando as vendas são boas na época de festas, há em seguida um movimento normal de recomposição de estoques. Isso atenua a redução de empregos, mas o cenário depois dos foguetes de fim de ano parece especialmente nebuloso.

Com a redução do auxílio emergencial, o poder de consumo de dezenas de milhões de famílias fica severamente diminuído nos meses finais de 2020. Quem continua empregado pode contar com o 13.º salário para reforçar, embora modestamente, sua capacidade de compra. Segundo alguns analistas, a poupança realizada na fase de isolamento por famílias de renda média e renda média alta poderá ser gasta, pelo menos em parte, neste fim de ano. Outra parte do dinheiro poderá voltar ao mercado em 2021.

Mas a disposição de gastar pode ser afetada pelas expectativas de emprego e de renda. Em outubro caiu, depois de cinco meses de alta, o Índice de Confiança do Consumidor medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O consumidor de menor renda se manteve como o menos confiante, mas houve retrocesso em todos os níveis econômicos. Pioraram as expectativas em relação às finanças familiares e voltou a recuar a intenção de compra de bens duráveis. A insegurança sobre a evolução da pandemia foi apontada como um dos fatores de inquietação.

Outra pesquisa mensal da FGV mostrou elevação do Indicador de Incerteza da Economia. Essa piora apareceu na prévia do índice de novembro, depois de seis meses de evolução favorável. A mudança, nesse caso, reflete a combinação de vários fatores, com destaque para as dúvidas sobre as contas públicas neste ano e no próximo e sobre os efeitos econômicos de uma nova onda de covid-19. O risco de uma segunda onda também no Brasil agrava as preocupações sobre o futuro, ainda muito indefinido, das finanças governamentais. A contenção do vírus é tão incerta, hoje, quanto o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal.

Opinião - O Estado de S. Paulo

 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Como começa a bagunça - Nas entrelinhas

“As declarações do general Heleno nos trazem à memória as “quarteladas” que caracterizaram a indisciplina nos quartéis e a presença dos militares na política“ 

O que têm a ver as declarações contra o Congresso do general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e o tiro disparado por policiais militares grevistas, encapuzados, contra o senador Cid Gomes (PDT-CE), em Sobral? Aparentemente, nada; em sua essência, porém, tudo: a bagunça. O ex-governador cearense tentou negociar e,  depois, conduzindo uma retroescavadeira, enfrentou os grevistas de forma exaltada, imprudente e voluntarista, sendo baleado no peito e na clavícula. [o que o ex-governador desejava era simplesmente aparecer, tumultuar. ] O episódio, no entanto, também é uma demonstração da anarquia que começa a vicejar nas polícias militares, pois as greves são ilegais e estão sendo preparadas em outros estados. [aos poucos todos vão reconhecer - infelizmente, ao custo de muitas vidas - que com a bagunça que está em crescente no Brasil, o desrespeito a tudo e a todos, especialmente aos VALORES que são os ALICERCES para o vicejamento dos princípios de ORDEM e PROGRESSO. A tendência é se estabelecer a desordem, o caos, a práticas de atos sexuais bizarros, de golden shower, tudo decorrente da escravidão a sempre falada LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DIREITOS INDIVIDUAIS, levando a prevalecer a anomia.]

As declarações do general são incompatíveis com o cargo que ocupa no governo e nos trazem à memória as “quarteladas” que caracterizaram a indisciplina nos quartéis e a presença dos militares na política durante o século passado, inclusive durante o regime militar, só encerradas no governo Ernesto Geisel, com a demissão do então ministro do Exército, general Sílvio Frota, do qual Augusto Heleno foi ajudante de ordens. Ainda que minimizadas pelo presidente Jair Bolsonaro — diga-se de passagem, o responsável pela sua divulgação —, as declarações afrontam um poder constituído, que está no pleno exercício de suas prerrogativas.

A fala do ministro foi transmitida ao vivo, via internet, pelo perfil do presidente Jair Bolsonaro em uma rede social, na terça-feira. No evento de hasteamento da bandeira em frente ao Palácio da Alvorada, Heleno conversava com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. No diálogo, disse que o governo não pode “aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo”. Ontem, em uma rede social, Heleno tentou minimizar as declarações, mas a emenda foi pior do que o soneto: argumentou que, na conversa com os ministros, estava expondo sua visão pessoal sobre “insaciáveis reivindicações de alguns parlamentares por fatias do Orçamento Impositivo”.

As declarações provocaram reações no Congresso, que discute os vetos do presidente Bolsonaro às regras que dão a deputados e senadores maior controle sobre o Orçamento da União. Manter ou derrubar os vetos presidenciais é prerrogativa do parlamento. O que todos os governos democráticos procuram fazer é articular uma base sólida, que garanta a aprovação do que interessa ao Executivo. O Palácio do Planalto, porém, não se empenha muito para garantir que isso aconteça.

Reações
A reação mais forte foi do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que fez duras críticas ao general: “Geralmente na vida, quando a gente vai ficando mais velho, a gente vai ganhando equilíbrio, experiência e paciência. O ministro, pelo jeito, está ficando mais velho e está falando como um jovem estudante no auge da sua idade, da sua juventude”, disse. Maia também ironizou: “Eu não ouvi da parte dele nenhum tipo de ataque ao parlamento quando a gente estava votando o aumento do salário dele como militar da reserva (…) Talvez ele estivesse melhor em um gabinete de rede social, tuitando, agredindo, como muitos fazem, como ele tem feito ao parlamento nos últimos meses”, concluiu o presidente da Câmara. [a reação do deputado Maia foi a esperada;
afinal, ele é, de fato e de direito, deputado federal e ainda presidente da Câmara, mas, em sua megalomania, também se auto empossou 'primeiro-ministro' e 'corregedor-geral' do Poderes da República.]


O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também se manifestou sobre a fala de Heleno. Em nota, disse que “nenhum ataque à democracia será tolerado pelo parlamento” e que “o momento, mais do que nunca, é de defesa da democracia, independência e harmonia dos poderes para trabalhar pelo país”. Contra todas as expectativas, às vésperas do carnaval, o esgarçamento das relações do Palácio do Planalto com o Congresso aumenta as incertezas em relação à economia.

Um comentário do presidente da República, em cerimônia oficial, sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, gerou ainda mais insegurança no mercado, pois deixou no ar que Guedes estaria demissionário do cargo e sofre uma fritura interna. Seu prazo de validade estaria próximo do fim. O que alimenta essas especulações é o vai-não-vai da economia, cujo crescimento está sendo medíocre, apesar dos juros baixos e da inflação controlada.

O IBC-BR, índice do Banco Central, aponta alta de 0,5% no último trimestre do ano e de 0,9% no ano de 2019. Em 2018, quando o PIB teve alta de 1,3%, o IBC-BR também subiu 1,3%: se o padrão se repetir, o que não é garantido, o PIB em 2019 terá tido pior desempenho que no biênio 2017-18. Nesse ritmo, só em 2022 voltaremos ao PIB de 2014. Levar oito anos para completar a recuperação de uma recessão em qualquer época e em qualquer lugar é um fracasso. Essa situação tem ampliado os questionamentos à política de Guedes, um ultraliberal, por parte de setores do governo que têm formação desenvolvimentista, entre os quais, os militares. O próprio Bolsonaro é um recém-convertido ao liberalismo e vem adotando postura cada vez mais populista, como no caso dos combustíveis e da reforma administrativa, e não perde oportunidade de abrir novas frentes de conflito, como a queda de braço com os governadores.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense


sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Indicador do Banco Central sinaliza para a aceleração da economia - Correio Braziliense

Indicador do Banco Central que mede a atividade econômica sobe 0,44% em setembro e acumula elevação de 0,91% no terceiro trimestre. Resultado melhora expectativa sobre comportamento do PIB no período, mas analistas ainda mostram cautela

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou alta de 0,44% em setembro ante o mês anterior. Foi o segundo resultado positivo consecutivo, o que levou o indicador a terminar o terceiro trimestre com uma forte alta — de 0,91% — em relação ao período de abril a junho. Os dados ajudaram a melhorar as expectativas dos economistas em relação ao crescimento da economia, uma vez que o IBC-Br é considerado uma prévia do comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em relação a setembro de 2018, a expansão do IBC-Br foi de 2,11% e, no acumulado de 12 meses, ficou em 0,99%. Nos nove primeiros meses do ano, a alta é de 0,8%. Para André Perfeito, economista-chefe da Conector Investimentos, o índice do BC aponta forte expansão da atividade no 3º trimestre. “A variação trimestral sugere que teremos forte avanço em relação ao trimestre anterior nos componentes da oferta. Se confirmado esse cenário, teremos um crescimento no 2º semestre de 2019 igual ao crescimento médio por trimestre de 2017. Contudo a variação média do ano ainda será baixa, de apenas 0,36%”, ponderou.

Perfeito explica que os dados sugerem que o país passou por um ponto de inflexão no 2º trimestre de 2019 e que a recuperação tende a ser mais firme com o avanço da iniciativa privada em alguns segmentos. “A questão ainda se centra na recuperação do mercado de trabalho, já que a demanda do governo tende a ficar reprimida pelos próximos anos”, complementou.

Apesar das indicações de avanço na economia, o ritmo de crescimento segue lento em 2019. A previsão do Banco Central é de que o ano terminará com avanço de 0,92% em relação a 2018. Já a projeção do governo federal para o crescimento do PIB em 2019 está em 0,9%. O Conselho de Política Monetária (Copom) já avaliou que, após setembro, haverá leve aceleração da economia, reforçada pelos estímulos decorrentes da liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS-Pasep.

Para o 3º trimestre, a equipe econômica do governo espera crescimento de 0,87% em relação ao mesmo período de 2018 e de 0,33% ante o trimestre anterior. A aposta é de que o setor agropecuário, com alta de 2,80% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e expansão de 2% na comparação com o segundo trimestre de 2019, será o maior responsável por esse avanço.

Recuperação
Para os outros setores, indústria e serviços, a estimativa é de variação positiva de 0,17% e 0,87%, respectivamente, ante o mesmo período de 2018. Já em relação ao trimestre anterior, a previsão é de avanços de 0,16% e 0,19%. De acordo com o calendário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado do PIB do trimestre encerrado em setembro será divulgado em 3 de dezembro.

Flávio Serrano, economista-chefe do Haitong Banco de Investimentos, explica que o país ainda está em um início da recuperação econômica. “Vínhamos caminhando e nos acomodamos, agora começa a retomada do movimento. O ritmo não é forte o suficiente para um crescimento vigoroso. O avanço é contido pelo desemprego e pela redução de gastos do governo”, diz. Ele destaca, ainda, que o cenário externo, de desaceleração, também dificulta o quadro. “A economia brasileira quer reagir, mas tem sido bombardeada por fatores exógenos”, avaliou.

O BC entende que uma aceleração do ritmo de retomada da economia em patamares mais robustos dependerá do aumento de produtividade, de ganhos de eficiência, de maior flexibilidade da economia e da melhora do ambiente de negócios. Para a instituição, com recursos para investimentos públicos escassos, ganha importância a continuidade do processo de reformas e ajustes que gerem sustentabilidade das contas públicas.

Economia - Correio Braziliense 


 

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Um ano de crescimento fraco - Míriam Leitão



A atividade finalmente cresceu em maio, após quatro meses de quedas. A alta do IBC-Br, um indicador do Banco Central, foi de 0,54% na comparação com abril. O dado positivo corrige um pouco a queda dos últimos meses nesse indicador. O IBC-Br tem fórmula diferente do cálculo do PIB, feito pelo IBGE. Mas o que já se sabe é que esse é um ano de crescimento mais fraco que em 2018 ou 2017.

Estacionamento de shopping vazio

A economia não está em recessão, mas não sai do ponto-morto. Infelizmente, a alta do IBC-Br não é o reinício da retomada. Os dados estão oscilantes, às vezes negativos, outras vezes positivos. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, me disse semana passada que no segundo semestre haverá um ponto de inflexão.

A economia deve crescer mais, mas não será suficiente para garantir um crescimento robusto em 2019. O governo, também na semana passada, cortou sua projeção para o PIB de alta de 1,6% para 0,81%, em 2019. É o mesmo nível da mediana das projeções no relatório Focus, com expectativas de especialistas. Há 20 semanas seguidas essa estimativa sofre quedas. Os novos números do segundo semestre poderão confirmar se a expectativa de Campos Neto.

O Globo - Coluna da Miriam Leitão


domingo, 19 de maio de 2019

A recessão e a ameaça

Sem as reformas, mais cedo ou mais tarde estarão todos, em Brasília ou no Twitter, brigando apenas pelos escombros de um país falido

Na terça-feira, dia 14, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu pela manutenção da taxa Selic em 6,5%, fez um alerta grave: a retomada da atividade econômica parou. Para piorar a situação, é possível que o Produto Interno Bruto do primeiro trimestre de 2019 tenha recuado na comparação com o último trimestre de 2018 – o aviso que constava da ata foi reforçado pelo dado do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), do Banco Central, divulgado um dia depois do texto do Copom e que apontou retração de 0,68%. Se o recuo for confirmado pelo IBGE em 30 de maio, seria o primeiro desde o quarto trimestre de 2016 e, se houver nova retração neste segundo trimestre de 2019, estaríamos mais uma vez em recessão.
Antes da divulgação da ata do Copom e do IBC-Br, o mercado financeiro já havia reduzido mais uma vez suas expectativas para o crescimento da economia brasileira em 2019. O mais recente Relatório Focus, divulgado às segundas-feiras e que registra as previsões de dezenas de instituições financeiras, estima um crescimento de 1,45% para o PIB deste ano – é a 11.ª redução seguida na previsão, que superava os 2,5% em janeiro deste ano, durante os primeiros dias do governo Bolsonaro. Os números preocupantes da economia nacional não deixam muitas dúvidas sobre qual é a grande ameaça para o Brasil de hoje. Não são os tuítes agressivos e desbocados do filósofo Olavo de Carvalho; nem a sanha da ala militar do governo, que busca ampliar sua influência (que já não é pequena) avançando sobre pastas como o MEC e o Itamaraty, como no caso recente das mudanças na Apex; nem a incontinência verbal dos filhos de Jair Bolsonaro; nem mesmo a esquerda, que mantém seu poder de mobilização – seria ingenuidade pensar o contrário –, mas não consegue esconder o fato de que seus protestos usam plataformas relevantes, a exemplo da educação, como mero pretexto para retomar o “Lula livre”. Todos esses elementos servem, sim, para causar e alimentar instabilidade, mas nada será tão fatal para o país quanto a paralisação total da economia.

Para tentar destravar a atividade econômica e estimular a geração de emprego, Bolsonaro tem feito o possível, como no caso da MP da Liberdade Econômica. As mudanças que o governo quer implantar nas normas de segurança do trabalho, se forem bem feitas, também podem tirar cargas desnecessárias das costas do setor produtivo, especialmente do microempresário. Mas o Executivo só pode agir por conta própria até certo ponto. As grandes mudanças dependem do Congresso, e não é segredo para ninguém que os investidores internos e externos continuam esperando o desfecho das reformas, especialmente a previdenciária.

No Legislativo, podemos até apontar a fraqueza de um PSL que, embora tenha a maior bancada na Câmara, não consegue se impor como bloco político coeso em defesa das plataformas de Bolsonaro. Mas o grande risco atende pelo nome de Centrão, aquele bloco difuso de legendas cuja única ideologia é o “farinha pouca, meu pirão primeiro”, e que tem número suficiente para bloquear o programa econômico de Bolsonaro e Paulo Guedes. Insatisfeito por não ver sua sede de cargos saciada pelo Planalto, o Centrão já fez uma demonstração de força – talvez “chantagem” seja uma palavra mais adequada – durante a tramitação da MP da reforma que mudava a estrutura do governo. O grupo impôs derrotas a Bolsonaro, forçando o retorno de alguns ministérios que tinham sido extintos e incluindo no texto mudanças que dificultam o combate à corrupção, em evidente retaliação contra o ministro Sergio Moro.

E o Centrão já deu mostras de que pode repetir a dose, impedindo o enxugamento do Estado, a pauta de privatizações e as reformas. Em 1.º de maio, o deputado e líder sindical Paulinho da Força (SD-SP) disse para quem quisesse ouvir que o objetivo era desidratar a reforma da Previdência de forma a impedir a reeleição de Bolsonaro em 2022 – em outras palavras, a reforma não poderia ser tão boa a ponto de gerar um crescimento econômico que rendesse dividendos eleitorais ao presidente. Por mais que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tivesse rapidamente afirmado que a opinião de Paulinho não é majoritária no Centrão, só a tramitação da reforma na Comissão Especial e no plenário mostrará quem tem razão – e o sindicalista nem precisa convencer a maioria dos colegas; basta que traga para seu lado deputados suficientes para negar ao governo os votos de que ele necessita. E talvez nem seja preciso esperar tanto: a notícia, divulgada na tarde de sexta-feira, de que os deputados pretendem enviar um projeto alternativo de reforma da Previdência já entrega o jogo do Centrão.

É preciso trazer à luz a irresponsabilidade de quem se mostra disposto a sacrificar o país em nome dos próprios interesses. E o governo tem um desafio hercúleo, o de não abrir mão de seus princípios enquanto supera suas dificuldades de articulação e aprende a negociar com quem parece só entender a linguagem do fisiologismo – pois negociar é preciso, pelo simples fato de que hoje o governo não tem 308 votos na Câmara, nem 49 no Senado. Certo é que, sem as reformas, mais cedo ou mais tarde estarão todos, em Brasília ou no Twitter, brigando apenas pelos escombros de um país falido e pelas mentes de dezenas de milhões de desempregados que terão preocupações muito mais urgentes que qualquer guerra cultural que porventura esteja em curso.


Editorial - Gazeta do Povo

 


terça-feira, 17 de julho de 2018

Com impacto da paralisação dos caminhoneiros, economia encolhe 3,34% em maio, aponta Banco Central

Expectativa de analistas era de queda de 3,45% 

Após expansão em abril, a economia brasileira teve recuo no mês de maio de 2018, segundo dados do Banco Central.  O IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), espécie de sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), caiu 3,34% em maio, na comparação com o mês anterior, divulgou o Banco Central nesta segunda-feira (16).
A expectativa em pesquisa da Reuters era de uma queda de 3,45% para o mês, marcado pela paralisação dos caminhoneiros, conforme projeções de especialistas consultados.

Na comparação com maio de 2017, o IBC-Br recuou 2,90%, e no acumulado em 12 meses registrou alta de 1,13%, de acordo com o BC, nos dois casos em dados observados.  Os impactos da paralisação dos caminhoneiros já foram sentidos em diversos setores da atividade e ajudaram a derrubar ainda mais as previsões de crescimento do PIB neste ano, inclusive dentro do governo.

Em maio, a produção industrial despencou 10,9%, ritmo mais forte de contração em quase uma década e desde a crise financeira mundial, enquanto que as vendas no varejo tiveram a primeira contração no ano e o volume de serviços a maior queda em sete anos.
Pesquisa Focus do BC divulgada nesta segunda (16) mostrou que a projeção de crescimento do PIB em 2018 agora é de 1,5%, metade dos 3% indicados há alguns meses.

O Ministério da Fazenda, que também chegou a falar em crescimento de 3% neste ano, agora calcula expansão de 1,6%, mesmo cenário do Banco Central.  O IBC-Br incorpora projeções para a produção nos setores de serviços, indústria e agropecuária, bem como o impacto dos impostos sobre os produtos.

Folha de S. Paulo



 

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Os primeiros sinais

Os primeiros sinais

A forte alta do IBC-Br, registrado pelo Banco Central, em fevereiro, de 1,3%, não é ainda a retomada do crescimento. O país está tentando neste começo de ano sair da recessão e está conseguindo, mas a recuperação do PIB perdido nos dois últimos anos será lenta. O que começa agora a aparecer são os primeiros sinais de que o pior está passando. O IBC-Br foi o dado mais eloquente.

O Banco Central não apenas registrou essa alta de fevereiro, em relação a janeiro, como revisou janeiro, de negativo em 0,26% para positivo em 0,62%. Uma mudança e tanto. Mais forte ainda foi a revisão que o IBGE fez com as vendas de varejo de janeiro, que saíram de 0,7% de retração para um crescimento de 5,5% em comparação com dezembro. A  diferença tão grande é explicada pelo IBGE como sendo resultado de mudança metodológica. O setor de serviços também teve o índice revisto de queda de 2,2% para alta de 0,2%.

A conversa com executivos e empresários mostra sinais mistos de recuperação. O presidente da General Eletric (GE) no Brasil, Gilberto Peralta, ainda enxerga um cenário de fraqueza na economia, mas diz que o grupo cresceu 3,8% no ano passado e pode chegar a 5% este ano. O grande problema, segundo ele, é que além da crise fiscal o país enfrenta uma forte incerteza política, que afeta os investimentos.  — Estamos vendo o país andando de lado, mas a tendência mesmo é de estabilizar. A retomada está demorando porque nós temos uma crise fiscal e uma política. Isso está dificultando. Se não houver surpresas no lado político, começa a recuperar este ano — afirmou.

Peralta explica que a GE produz bens de capital e as empresas do país já seguraram demais os investimentos. Agora, as encomendas estão voltando, lentamente, até em grandes empresas, como a Petrobras. O que precisa acontecer para que a recuperação seja mais rápida é o governo conseguir destravar as grandes obras de infraestrutura. — As concessões dos aeroportos foram boas, mas ainda é muito pouco. As possibilidades de investimento são enormes, na ordem de US$ 200 bilhões, em ferrovias, hidrovias, saneamento. A questão é que, hoje, se o grande investidor internacional tiver um projeto com 3% de retorno em Cingapura, e com 10% no Brasil, ele vai para Cingapura. Isso, por causa da insegurança política — afirmou.

Os números do Banco Central reforçaram as projeções de um primeiro trimestre positivo, e isso terá efeito sobre a confiança dos empresários e dos consumidores. Depois de oito trimestres consecutivos de queda, será um alívio ter novamente números do PIB no azul. Ontem, a bolsa teve a maior alta diária desde janeiro e o dólar fechou abaixo de R$ 3,10.

Por outro lado, o quadro político piorou sensivelmente. Uma coisa é viver a expectativa de revelações a serem feitas pela maior empreiteira do país, outra diferente é ter a informação concreta de que oito ministros do governo, inclusive o chefe da Casa Civil, serão investigados por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). E que uma centena de políticos serão também investigados.

O governo fez reunião até durante o feriado de Páscoa para estabelecer uma estratégia que evite que a tramitação das reformas seja afetada. Como as expectativas na economia dependem do andamento das reformas, é fundamental que o governo faça esse esforço. 

Mas, na verdade, a reforma da Previdência já foi afetada pelo novo clima em Brasília. As concessões que estão sendo feitas vão reduzir a força das mudanças e elas são o resultado do enfraquecimento político do governo e de sua base. Quanto mais fraco estiver, mais suscetível à pressão por concessões, quanto mais vulneráveis estiverem os políticos, menos interessados estarão de votar pela aprovação de uma reforma impopular, ainda que necessária.


Fonte: Coluna da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

IBC-Br e a lógica do rebaixamento



A divulgação do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), do Banco Central, ontem, em linha com outros índices de desempenho econômico, ofereceu mais argumentos em favor da decisão de rebaixar a nota de risco de títulos brasileiros, anunciada um dia antes pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s.

A agência, que já havia tirado, em setembro, o “grau de investimento” concedido ao país em 2008, retirou agora o “+" da classificação brasileira BB+, a mais alta do “grau especulativo”, e acomodou o Brasil no grupo BB, ao lado de Bolívia, Guatemala e Costa Rica.  Quanto ao indicador do BC, ele não só confirmou a perspectiva de um recuo próximo a 4% na variação do PIB de 2015, como ajudou a reforçar as projeções que apontam contração da economia em 2016 na mesma e amarga dosagem. 

 Não é difícil entender o que as notas de riscos das agências como a S&P têm a ver com o desempenho da economia e a variação do PIB. Quando avaliam os títulos emitidos por governos, essas agências fixam a atenção no tamanho da dívida pública em relação ao tamanho do PIB e, mais precisamente, na dinâmica dessa relação. Seus funcionários reúnem, organizam e analisam informações que permitam projetar a expansão ou a contração da dívida, proporcionalmente à expansão ou contração do PIB, ao longo do tempo.

No caso do Brasil, não há a menor dúvida de que a relação entre a dívida pública e o PIB se encontra em franco processo de deterioração. A dívida está em expansão porque o governo tem sido incapaz de evitar déficits nas contas públicas primárias e, assim, ao gastar mais do que arrecada, é obrigado a financiar a diferença com emissão de títulos, o que, na volta do parafuso, eleva a dívida.

Quando a isso se adiciona um encolhimento continuado do PIB, como tem ocorrido, a piora da relação dívida/PIB se acelera. São, portanto, dois movimentos concomitantes e na mesma direção negativa que determinam uma dinâmica adversa para o indicador chave da capacidade de pagamento de dívidas.

Saindo de 53% do PIB, em 2010, a relação dívida bruta/PIB escalou daí em diante até bater em 66%, no ano passado. No ritmo em que avança, logo a dívida brasileira ultrapassará 70% do PIB — uma fronteira de resistência a partir da qual as desconfianças dos investidores sobre a capacidade de pagamento de um governo de país emergente passam a convergir para um perigoso consenso.

 De olho nessa dinâmica, a S&P não só rebaixou mais uma vez a nota brasileira, em curto espaço de tempo, como colocou a classificação da dívida brasileira em perspectiva negativa. No jargão das agências de risco, isso significa que seus analistas desconfiam que a situação possa piorar no curto prazo e, por isso, mantém novos rebaixamentos no radar.

A realidade, infelizmente, não parece contrariar a avaliação da S & P. Especialistas calculam que, para pelo menos estabilizar a dívida nos níveis elevados em que se encontra, o governo teria de obter, por alguns anos, superávits primários em torno de 2,5% do PIB. Nas atuais circunstâncias, este seria um objetivo virtualmente impossível de se alcançar.

Em razão da recessão forte e prolongada, as receitas públicas são cadentes, ao mesmo tempo em que as despesas, engessadas por vinculações legais e reajustes automáticos, dificilmente são passíveis de cortes no volume exigido. Depois dos déficits primários dos dois últimos anos, novos rombos são esperados para 2016, apesar de a meta oficial ainda prometer um modesto superávit de 0,5% do PIB.

Apesar das perspectivas pessimistas, o novo rebaixamento da nota de crédito brasileira ainda não deve provocar muitas alterações no atual quadro dos investimentos no país. Sem falar na liquidez financeira abundante no mundo, já eram tão evidentes as dificuldades para obter superávits primários e estancar a expansão da dívida que fica difícil acreditar na hipótese de que os investidores estariam esperando o sinal de uma agência de rating antes de redefinir suas estratégias de investimento no país.

Por: José Paulo Kupfer, jornalista