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quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

ELES ESTÃO AQUI... - Cmdt. Luciano Pimentel Jorge de Souza

Nesta última noite vivi um momento "Mar da China" em pleno Atlântico Sul, cerca de 220 milhas náuticas da costa argentina, mais precisamente do Golfo de San Jorge, portanto, em águas internacionais.

Mais de cem navios oceânicos de pesca chineses apareceram no radar bem na nossa proa.
Quem já navegou no Mar da China sabe a que estou me referindo. 
Nota do Editor: a imagem é ilustrativa (Mundo Militar) e mostra um desses "cardumes" de pesqueiros chineses atuando no sul da América do Sul.

Principalmente no Estreito de Taiwan, além da parte leste da ilha Taiwanesa e na parte norte deste mar do extremo-oriente. Já passei madrugadas inteiras no passadiço me desviando das embarcações pesqueiras chinesas, que surgem como uma chuva de gafanhotos nos mares da China, como aquela narrada pelo profeta Joel na tradição bíblica. Se bem que pelo simbolismo bíblico, a "chuva de gafanhotos” pode ser entendida pela chave simbólica de leitura como a manifestação do espírito, com a devida vênia aos literalistas, enquanto que os "gafanhotos" a que me refiro no extremo-oriente são navios de pesca literais e concretos. As noites no Mar da China são iluminadas não pela Lua, e sim pelas centenas de milhares de luzes desses pesqueiros. Assim como foi a noite de ontem no Atlântico Sul.

Não são embarcações artesanais não. São navios de pesca modernos, de cerca de 50 a 70 metros de comprimento, devidamente equipados com AIS, dois radares, cartas eletrônicas, e tudo que se possa imaginar de equipamentos modernos de navegação. Em relação aos pesqueiros encontrados na noite de ontem, presumo que tenham vindo para essas águas através do Cabo Horn, e não pelo Estreito, principalmente pelo custo envolvido.

O que não é capaz de fazer uma demanda de 1,3 bilhões de bocas 
para se alimentar, não é mesmo?
Os pesqueiros chineses hoje são como os navios baleeiros americanos do século XIX, imortalizados na literatura universal através de um marinheiro que navegou nesses navios. Herman Melville nos deixou "Moby Dick" como testemunho da luta do homem contra os elementos, ou de um capitão (Ahab) enlouquecido contra seus monstros interiores expressados pelo cetáceo mitológico..

Transcrito site Percival Puggina - *O autor é Comandante da Marinha Mercante.