É inútil tentar esconder a crise energética
A presidente parece relutante em descer do palanque. Os problemas no fornecimento de energia foram esconjurados em 2014, por óbvio. Mas agora trata-se de governar
Depois do apagão de segunda-feira, quando 11 estados e o Distrito
Federal ficaram às escuras, a tentativa do governo Dilma Rousseff de
negar a crise no setor elétrico, se já era risível, ficou patética.
Agora, cabe ao senador da vez no Ministério das Minas e Energia, Eduardo
Braga (PMDB-AM) — derrotado nas eleições estaduais, substituto de outro
senador na Pasta, Edison Lobão (PMDB-MA) — dar explicações
inverossímeis para a queda no fornecimento de energia.
Como sempre, foi seguido o script da “falha técnica” em alguma linha de transmissão, para se contrapor à ideia de que a geração de energia não consegue suprir a demanda em momentos de pico do consumo, num verão particularmente quente e seco, em que uma estiagem anormal afeta hidrelétricas e obriga usinas térmicas a operar de maneira contínua, fora das condições para as quais foram projetadas. A margem de risco de cortes no fornecimento aumentou bastante, como nessa segunda-feira particularmente quente, em especial na cidade de São Paulo, importante centro consumidor.
A explicação do ministro não resistiu à nota do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgada logo depois do apagão, segundo a qual houve as sempre alegadas falhas na transmissão, porém “aliadas à elevação de demanda na hora de pico”. Por suposto, há apagões quando ocorrem falhas de transmissão. O crucial é saber o porquê das falhas. Para desmentir de vez a versão oficial, informou-se que, no dia seguinte ao do apagão, o Brasil importou energia da Argentina e usou uma parcela maior da geração de Itaipu. Com isso, adicionou-se à carga colocada à disposição do Sudeste o equivalente ao consumo mensal de Curitiba, cidade de 1,8 milhão de habitantes.
A presidente Dilma parece relutante em descer do palanque. O termo “crise energética” foi esconjurado durante a campanha eleitoral, por óbvio. Mas agora trata-se de governar. E, no caso, a alternativa indicada é reconhecer a existência de uma crise e mobilizar a população para moderar o consumo. O fim da equivocada política de tarifa subsidiada deve conter desperdícios. Mas é pouco. O cenário está complicado: das 18 principais hidrelétricas do país, 17 estão com os reservatórios em situação pior do que em 2001, ano do racionamento de energia no segundo governo FH. Há um exemplo eloquente: o reservatório das usinas Ilha Solteira e Três Irmãos, em São Paulo, secou, enquanto, no verão de 2001, tinha água em 31,2% de sua capacidade.
O temor da falta de energia ajuda, ainda, a adiar investimentos, de que o país é carente. Tudo compele o governo a ter um programa consequente, com metas de curto, médios e longo prazos, para combater a crise. Um ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Edvaldo Alves, lembra que o governo FH rejeitou racionar em 2000. No ano a seguinte, foi obrigado a fazer um corte de 20% no fornecimento.
Como sempre, foi seguido o script da “falha técnica” em alguma linha de transmissão, para se contrapor à ideia de que a geração de energia não consegue suprir a demanda em momentos de pico do consumo, num verão particularmente quente e seco, em que uma estiagem anormal afeta hidrelétricas e obriga usinas térmicas a operar de maneira contínua, fora das condições para as quais foram projetadas. A margem de risco de cortes no fornecimento aumentou bastante, como nessa segunda-feira particularmente quente, em especial na cidade de São Paulo, importante centro consumidor.
A explicação do ministro não resistiu à nota do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgada logo depois do apagão, segundo a qual houve as sempre alegadas falhas na transmissão, porém “aliadas à elevação de demanda na hora de pico”. Por suposto, há apagões quando ocorrem falhas de transmissão. O crucial é saber o porquê das falhas. Para desmentir de vez a versão oficial, informou-se que, no dia seguinte ao do apagão, o Brasil importou energia da Argentina e usou uma parcela maior da geração de Itaipu. Com isso, adicionou-se à carga colocada à disposição do Sudeste o equivalente ao consumo mensal de Curitiba, cidade de 1,8 milhão de habitantes.
A presidente Dilma parece relutante em descer do palanque. O termo “crise energética” foi esconjurado durante a campanha eleitoral, por óbvio. Mas agora trata-se de governar. E, no caso, a alternativa indicada é reconhecer a existência de uma crise e mobilizar a população para moderar o consumo. O fim da equivocada política de tarifa subsidiada deve conter desperdícios. Mas é pouco. O cenário está complicado: das 18 principais hidrelétricas do país, 17 estão com os reservatórios em situação pior do que em 2001, ano do racionamento de energia no segundo governo FH. Há um exemplo eloquente: o reservatório das usinas Ilha Solteira e Três Irmãos, em São Paulo, secou, enquanto, no verão de 2001, tinha água em 31,2% de sua capacidade.
O temor da falta de energia ajuda, ainda, a adiar investimentos, de que o país é carente. Tudo compele o governo a ter um programa consequente, com metas de curto, médios e longo prazos, para combater a crise. Um ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Edvaldo Alves, lembra que o governo FH rejeitou racionar em 2000. No ano a seguinte, foi obrigado a fazer um corte de 20% no fornecimento.
Fonte: Editorial - O Globo