Na noite de réveillon, ele matou a ex-mulher, o filho, João Victor, de 8, e mais dez pessoas que comemoravam o ano-novo na casa de parentes dela, em Campinas, no interior do Estado. Depois, Araújo se matou.
A técnica em contabilidade Isamara Filier, de 41 anos, registrou
cinco boletins de ocorrência contra o ex-marido Sidnei Ramis de Araújo,
de 46, por crimes de agressão e ameaça, além de denunciá-lo por abuso
sexual contra o filho na Justiça. As queixas na polícia começaram em
2005 e foram até 2015. Na noite de réveillon, ele matou a ex-mulher, o
filho, João Victor, de 8, e mais dez pessoas que comemoravam o ano-novo
na casa de parentes dela, em Campinas, no interior do Estado. Depois,
Araújo se matou.
Isamara ganhou a guarda do
filho depois de denunciar à Justiça que o menino teria sido abusado
sexualmente pelo pai. Segundo a polícia, a decisão judicial deixou
Araújo consternado e foi o principal motivo para que ele cometesse o
crime. A denúncia foi feita no início de 2012. No
Natal daquele ano, ela foi até a Delegacia da Mulher, em Campinas, e
afirmou que foi ameaçada pelo ex-marido por telefone Durante uma
discussão, ele teria dito "vou te matar". A queixa seguinte foi em
setembro de 2013. Segundo o boletim de ocorrência, Araújo estava
brincando com o filho durante uma visita monitorada e empurrou a mulher,
que caiu.
Em dezembro de 2014, a Polícia
Militar foi chamada até um clube da cidade. Lá, Araújo foi flagrado
descumprindo uma ordem judicial, que o proibia de se aproximar do filho
fora dos dias de visita monitorada. O menino estava jogando futebol e o
pai foi surpreendido na arquibancada por Isamara. Por último, em junho
de 2015, foi feita a ameaça mais grave. Isamara disse à polícia que o
ex-marido a ameaçou de morte: ele teria dito que "é melhor você ir
conversar com o diabo, porque nem Deus vai te ajudar! Porque você e a
vaca da sua mãe vão pagar!". Segundo a polícia, em nenhum dos casos Isamara quis receber medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha. [a triste realidade é que as tais medidas protetivas da Lei Maria da Penha são totalmente inúteis;
quando o agressor decide partir para o assassinato é extremamente impossível impedir - estando o agressor disposto a matar, ele tem quase 100% de chances de ter êxito, já que tem a oportunidade de escolher dia, hora e local para cumprir a ameaça.
A única forma de livrar a mulher do assassino é colocando sob proteção 24 horas por dia, o que quase sempre é impossível, pela necessidade que tem a ex de levar uma vida normal, portanto, exposta à sanha do assassino.]
Investigação.
O 3º DP de Campinas vai investigar o que motivou os 12 assassinatos e o suicídio de Araújo.
Os
policiais apreenderam uma gravação com o assassino no local do crime.
Nela, o atirador teria se justificado e pedido desculpas para amigos. O
material, junto com dez explosivos e cápsulas de pistola 9 milímetros
encontrados na casa foram encaminhados para a perícia. O
foco da investigação é descobrir quem vendeu a arma para Araújo. Nesta
semana, estão previstos os primeiros depoimentos de testemunhas e
parentes das vítimas e do atirador.
Conforme a
reportagem revelou nesta segunda, Araújo mandou um e-mail coletivo para
os amigos, programado antes do ataque, explicando os motivos que o
levaram a matar a ex-mulher e a família dela. O e-mail contém um arquivo
com áudios nos quais o atirador revela todo o ódio que sentia em
relação a Isamara.Ele diz também que
pretendia cometer o massacre na noite de Natal. "Eu tentei pegar a vadia
no almoço do Natal e dia da minha visita, assim pegaria o máximo de
vadias da família, mas, como não tenho prática, não consegui", disse o
atirador. A polícia ainda não tem esse documento.
Enterro
Dor
e comoção marcaram o enterro das 12 vítimas, na manhã desta
segunda-feira, 2, no Cemitério da Saudade. Cerca de 1 mil pessoas, entre
parentes, amigos e curiosos, acompanharam o final do velório e o
cortejo. Os sepultamentos começaram por volta
das 9h20, de dois em dois, por causa da quantidade de vítimas. Os
últimos corpos a serem sepultados foram de Isamara, João Victor e do
irmão dela, Rafael Filier, de 33 anos. Comovida, a família pediu para
que a imprensa se afastasse do túmulo.
O pai de
Isamara, Jovair Filier, acompanhou o cortejo com ajuda de um carrinho
elétrico. Segundo amigos, há dois anos ele perdeu a mulher. Agora, o
casal de filhos. "Ficou só", disse uma ex-empregada da família.
(Colaborou Alenita Ramirez, Especial Para o Estado)
Fonte: Correio Braziliense