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domingo, 11 de junho de 2023

Promotor do Paraná descumpre 101 vezes medida protetiva concedida à ex-mulher: 'Não tenho mais vida social', diz ela - O Globo

Pâmela Dias

Quase sem esperança de voltar a viver sem medo, a servidora pública Fernanda Barbieri hoje se sente refém da morosidade da Justiça em punir o ex-marido, um promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná. As agressões físicas, verbais, patrimoniais e até sexual começaram há seis anos. 
 Desde então, a medida protetiva que a justiça lhe concedeu já foi descumprida 101 vezes por parte do ex-companheiro.  
Fernanda também se vê silenciada pelo sigilo do processo, mas resolve quebrá-lo como única forma de fazer com que alguém a ouça.

Ela adotou de vez o home office porque não pode sequer sair de casa. A mulher detalhou à Justiça uma série de violências que sofreu desde 2017. Fernanda conta que, em momentos de descontrole, Bruno Vagaes, que já atuou na área de violência doméstica, ameaçava lhe dar socos, jogou água quente nela e repetia que “poderia acordar e não ver mais a filha”.

Segundo laudos médicos judiciais, o acusado tem transtorno bipolar e sofre de alcoolismo. Procurado através de seu advogado, Marcos Ticianelli, Bruno não quis se pronunciar. — Os ataques começaram em 2017 quando a nossa filha nasceu. Demorei para denunciar porque achava que ele ia mudar. Mas a situação foi se tornando mais grave, ele bebia e colocava a vida da minha filha em risco, e eu comecei nessa missão de denunciar as violências. Hoje eu vivo vendo atualizações do processo, esperando Justiça. Não tenho mais vida social, não posso ir trabalhar, nem ficar na minha própria casa em Londrina porque ele alugou um apartamento perto — relata ela.

A importunação sexual foi em 19 de outubro de 2019. 
 Bruno foi condenado a três anos e seis meses de reclusão por ter tocado partes íntimas de Fernanda enquanto ela dirigia. 
O abuso aconteceu na frente da filha, na época com dois anos, e de um amigo dele que estava no carro.

Com medo de um fim trágico, Fernanda foi à polícia e, no fim daquele ano, pediu medida protetiva para afastar o ex-marido do lar e mantê-lo a 200 metros ao menos dela e de seus familiares. Mas uma quebra de sigilo no próprio telefone da vítima e de seus parentes revelou que Bruno tinha mandado pelo menos 49 mensagens, algumas delas com insultos.

No ano seguinte, novos avanços de sinais aconteceram, de acordo com a mulher, inclusive com ameaças. Em uma das mensagens, conta, Bruno afirmou que a faria sofrer na “modalidade sangria” no processo de guarda da filha e de divórcio, que até hoje não foi concluído.

— Chegou a me oferecer R$ 30 mil para que eu retirasse a denúncia. Ele me levou até Curitiba para mudar o depoimento, dizendo que senão eu sofreria um processo desgastante. Retirei a queixa e depois fiz outro pedido de medida protetiva, até que ele foi condenado — relata a vítima, acrescentando que o ex-companheiro continua solto.

Prisão revogada
Bruno não foi afastado de suas funções na Promotoria de Justiça em Ibiporã, no Paraná. Ele recebeu duas advertências institucionais. Em julho de 2020, o promotor teve a prisão preventiva decretada pelo crime de importunação sexual, e a pena foi elevada para quatro anos devido aos descumprimentos de medidas. 
A defesa dele pediu prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica, e foi atendida. 
No período, Bruno teve direito a 30 dias de férias.

Em setembro de 2020, o MP pediu a revogação da prisão, mesmo descrevendo Bruno como “rebelde” e “indisciplinado”. A decisão partiu do argumento de que o acusado percebeu “quão censurável tem sido seu comportamento em relação à ex-mulher”.

A prisão, segundo o MPPR, seria restabelecida em caso de fatos novos. Ao todo, Fernanda alega que outras 52 violações foram cometidas, das quais duas são investigadas. Procurado, o MPPR disse que não responderia à denúncia devido ao “sigilo”, mas garantiu que acompanha o caso por intermédio da Subprocuradoria- Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos. Em nota, o escritório Alves e Faria Advocacia, que representa a vítima, disse que o agressor é Promotor de Justiça e a reprovabilidade dos fatos demanda o rigor das instituições”.

Brasil - O Globo

 


quarta-feira, 29 de abril de 2020

A caneta fatal - Nas entrelinhas

Desde que assumiu, Bolsonaro tenta centralizar e verticalizar o poder, o que é uma fonte de conflitos, mas também de equívocos políticos e administrativos”

A caneta Bic é um “case”” de qualidade e produtividade, funciona muito bem e custa relativamente barato. Do ponto de vista da sua finalidade, não fica nada a dever a uma Mont Blanc, objeto de desejo de muitos empresários e executivos vaidosos, como símbolo de riqueza e/ou poder. Lembro de um velho conhecido recém-chegado ao poder que exibiu a sua Mont Blanc na hora de pagarmos o almoço, ficou bravo comigo porque lhe disse, ironicamente, que era caneta de rico. Lascou-se depois, porque a caneta havia lhe sido presenteada por Marcos Valério, aquele publicitário carequinha do escândalo do “mensalão”do PT. Seu nome estava na lista de mimos em poder da secretária, havia ganho a caneta de presente, como brinde de ano-novo.

Secretárias podem ser protagonistas da grande política, assim como a ex-mulher, o motorista ou o caseiro. A política deixou de ser monopólio dos políticos, dos diplomatas e dos militares, como era antigamente. Quando exibe a sua Bic, o presidente Jair Bolsonaro sinaliza para a sociedade que é um homem austero, simples, que não se deixou deslumbrar pelo poder. É um recado que passa para preservar a sua imagem de presidente da República eleito contra o “sistema de poder” e a “velha política”. Será? No seu caso, isso é falso; o problema não é a caneta, é a tinta. Não existe caneta mais poderosa e endinheirada do que a sua Bic. Haja vista a negociação em curso com o Centrão.

Ontem houve a nova troca de cadeiras na Esplanada. Bolsonaro nomeou dois novos ministros: André Mendonça na Justiça e José Levi na Advocacia-Geral da União. Ambos foram elogiados pela competência técnica por Gilmar Mendes e Luís Barroso, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro desistiu de nomear o atual secretário-geral da Presidência, ministro Jorge Oliveira, que trata como afilhado, para o lugar que era ocupado por Sergio Moro, por pressão dos ministros militares e a pedido do próprio Oliveira. Mas ninguém se iluda, a causa da dança nas cadeiras foi a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da Polícia Federal, no lugar de Maurício Valeixo, pivô da crise entre Bolsonaro e o ex-ministro Sérgio Moro. [nomeação suspensa por ato do ministro do STF, Alexandre de Moraes, atendendo mandado de segurança fundamentado em informações do ex-juiz e ex-ministro Moro,  em entrevista recente.]O novo diretor-geral chefiava a Agência Brasileira de Informações (Abin).

O juiz federal Francisco Alexandre Ribeiro, de Brasília, deu prazo de 72 horas para a União prestar informações sobre a exoneração de Maurício Valeixo da direção-geral da Polícia Federal. Ele é relator de três ações populares que buscam impedir a nomeação de Alexandre Ramagem por desvio de finalidade. O fato é importante para se ter a dimensão do problema criado pelo presidente Bolsonaro para si próprio, supostamente com objetivo de obter informações confidenciais sobre investigações criminais e relatórios de inteligência. Embora subordinada administrativamente ao Executivo, a Polícia Federal é técnica e judiciária, tem sua própria autonomia, que se traduz na competência dos delegados para presidir os inquéritos policiais.

A Polícia Federal é um órgão de excelência, com pessoal concursado e altamente qualificado, recrutado entre os melhores com vocação para esse tipo de atividade. De certa forma, foi blindada pela Constituição para não cumprir o papel de polícia política, [tais características tornam impossível ao diretor-geral influenciar no andamento de inquéritos, sejam quais forem as suas motivações.] como aconteceu durante o regime militar, quando complementou e legitimou a atuação de órgãos clandestinos de repressão política das Forças Armadas. Esse trauma fez com que os constituintes atribuíssem claramente à PF o papel de um órgão de coerção do Estado, e não do governo. A nomeação de Ramagem, um delegado de carreira, resgata esse trauma, não por causa de sua competência técnica, mas devido à motivação da mudança. Além disso, sendo mais novo na carreira, fura a fila das promoções, o que sempre deixa sequelas, haja vista a situação no Itamaraty.

Inércia continental
Vivemos numa democracia de massas, o Estado brasileiro é ampliado, não no sentido da quantidade de servidores ou da intervenção na economia, mas de sua relação com os demais Poderes e entes federados, com a sociedade e suas instituições. Desde que assumiu, Bolsonaro tenta centralizar e verticalizar o poder, o que é uma fonte de conflitos, mas também de equívocos políticos e administrativos. Num país de dimensões continentais, a força de inércia das decisões do governo federal é imensa, como a de um grande navio cargueiro na hora de manobrar e de parar. Por isso mesmo, uma decisão equivocada pode se tornar um desastre irreversível. O fato de termos um Executivo que interage com outros poderes e esferas de governo, permeável à sociedade e que se relaciona com suas instituições, reduz a margem de erro e amplia a de soluções.


Agora mesmo, na epidemia de coronavírus, estamos sofrendo as consequências da mudança de postura do governo federal em relação ao distanciamento social. Ultrapassamos a China em número de mortos — mais de cinco mil — e estamos no limiar da barreira das 500 mortes por dia, em consequência do relaxamento da quarentena estimulado por Bolsonaro. É patético ver o ministro da Saúde, Nelson Teich, com cara de mareado no navio; o general encarregado da logística, não se dar conta de que o número de novos contaminados que precisam de UTI é muito maior do que o de respiradores que consegue distribuir; e o principal sanitarista do MS guardar o colete do SUS no armário e, de paletó e gravata, esquecer o bordão que disseminou por todo o país: “Fiquem em casa”. Depois dos Estados Unidos e Reino Unido, somos o terceiro em número de mortos por dia. [considerando os três primeiros colocados nessa estatística macabra, não podemos deixar de lembrar: "excesso de democracia", muitos dando pitacos - que mais atrapalham, que ajudam - impede ações centralizadas e de maior eficácia.] Ou seja, estamos virando o epicentro da pandemia.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense






quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Juiz é inocentado pelo CNJ após se ausentar do trabalho para ir ao... motel - O Globo

Ancelmo Gois

Após denúncia da ex-mulher

O Conselho Nacional de Justiça julgou uma denúncia feita pela ex-mulher de um juiz federal cobrando uma punição ao ex-marido por... infidelidade. Alegou que o magistrado “se ausentou injustificadamente do seu local de trabalho para ir a um motel na companhia de outra pessoa”. 

Humberto Martins, corregedor nacional de Justiça, concluiu que, por mais doloroso que seja a traição para a ex, ela não resultou em negligência à atividade jurídica. Há controvérsia.

Ancelmo.com - Blog em O Globo

sábado, 25 de maio de 2019

O STF entre o feminicídio e o ciúme masculino

Um marido supostamente traído ouve da mulher um pedido de separação e perde o controle. Com o revólver em punho, alardeia: “se você não me quer mais, ninguém vai ter você também”. Encosta o cano do revólver no queixo da vítima e faz um disparo. O crime aconteceu no fim da tarde de 6 de dezembro de 2002, em uma residência de classe média alta do município de Valinhos, no interior de São Paulo.  

Por incrível que pareça, a mulher não morreu, embora tenha ficado com cicatrizes profundas no rosto. Mais impressionante ainda foi o destino do marido — que, diga-se, é promotor de Justiça. Foi condenado a módicos cinco anos de prisão, em regime semiaberto. Aguardou em liberdade até outubro do ano passado. Daqui dois meses, terá cumprido o mínimo previsto em lei e poderá ser transferido para o regime aberto. 


Ainda assim, inconformada, a defesa entrou com um habeas corpus no STF para reduzir a pena do réu. Passados 17 anos do crime, o pedido foi julgado na última terça-feira pela Primeira Turma, formada por cinco dos onze ministros da Corte. Com a oratória teatral dos tribunais do júri, o criminalista Alberto Toron, um dos mais requisitados do país, argumentou que seu cliente, na verdade, salvou a ex-mulher.
“O réu foi promotor de Justiça no interior do estado de São Paulo, professor de cursinho preparatório para a magistratura, para o Ministério Público, e ele teve a desventura de ter um litígio conjugal. Brigou com a mulher, arma empunhada, e acabou disparando. E, pela mão de Deus, e dele, essa mulher não morreu. O tiro entrou na boca dela, parou aqui pertinho da cervical, ela não ficou paraplégica ou tetraplégica”, contou Toron da tribuna. 


O advogado continuou o relato dizendo que a vítima pediu ao algoz para ser salva. “Ele, que havia sido seminarista, dá um clique na cabeça dele, ele sai daquele surto e pega ela, põe no carro e leva para o hospital”. O promotor foi acusado primeiro de tentativa de homicídio. Em seguida, Toron conseguiu anular a denúncia e o Ministério Público de São Paulo o acusou de lesão corporal gravíssima – um crime com pena mais branda. O advogado pediu no Supremo para os agravantes considerados no cálculo da pena serem retirados. Afinal, seu cliente salvou a ex-mulher. A pena foi calculada levando em conta o motivo torpe (a vontade da vítima de se separar) e a dificuldade de defesa da vítima (que estava acuada pelo ex-marido armado). Não colou. A decisão foi unânime pela manutenção da pena.
“Falar que a sustentação do doutor Alberto Zacharias Toron foi brilhante é eufemismo, ele é sempre brilhante. Não foi o marido que salvou a mulher, foi vossa senhoria que salvou o marido”, concluiu o ministro Luiz Fux, arrancando risos dos presentes. 

Fux comparou o processo com o caso Doca Street, que comoveu o país em 1976, quando Raul do Amaral Street matou a namorada, a socialite Ângela Diniz, com tiros no rosto. O motivo também foi ciúme e rejeição. No julgamento, quatro anos depois, o advogado Evandro Lins e Silva fez sustentação oral no tribunal do júri em defesa da legítima defesa da honra do réu. Doca Street se safou. Depois esse julgamento foi cancelado e o réu acabou condenado por homicídio.   “No caso Doca Street, houve uma perícia médico legal que constatou que normalmente, nessas situações passionais, os tiros desferidos no rosto são no afã de destruir a imagem da própria vítima, e isso sucedeu depois que ela disse que não queria mais proceder no relacionamento”, lembrou Fux.  
“O doutor Toron salvou seu cliente de um homicídio qualificado, sujeito ao tribunal do júri. Hoje em dia, é absolutamente inadmissível, não há nada que possa justificar o estado depressivo de um homem que se sinta rejeitado de dar um tiro no rosto, isso é inaceitável. Queria parabeniza-lo, mas se tivesse caído aqui (na Primeira Turma) antes, o seu cliente estaria no tribunal do júri”, completou Fux. 

Luís Roberto Barroso concordou: “Ouvi com interesse a sustentação brilhante. O problema são os fatos, não a sustentação”. Rosa Weber votou no mesmo sentido. “Cumprimento o doutor Toron, que consegue tornar um caso terrível em algo que chega a gerar uma certa simpatia pelo promotor que dá o tiro e ainda salva aquela mulher em quem aquele atirou”, declarou, dando um risinho irônico ao final. Marco Aurélio Mello, o relator do habeas corpus, também negou o pedido da defesa. 

Na tentativa de vitimizar o agressor, Toron ainda relatou o sofrimento de seu cliente. Argumentou que qualquer homem está sujeito a uma crise de ciúme. “Quando ela disse que queria se separar, ele passou a ter choros compulsivos, não fazia barba, não comia, ele começou a se decompor. E a circunstância de ser promotor levou ele a ter uma pena pior. Como se o fato de ser promotor, doutor em Direito, ministro do Supremo ou entregador de pizza implicasse em um ciúme maior ou menor”, declarou. 

 Para tentar ganhar empatia dos ministros o advogado disse era casado há mais de 20 anos e, dia desses, ela chegou em casa dizendo que tinha encontrado Barroso na rua. “Eu falei: encontrou aonde? Ciúmes. Ciúmes pode dar em qualquer um”, concluiu. No julgamento, Marco Aurélio perguntou há quanto tempo Toron era casado. Da tribuna, ele respondeu, meio em dúvida: “Minha mulher me mataria agora, mas acho que 23 anos”. 

Carolina Brígido - Revista Época

sábado, 22 de setembro de 2018

Ciro diz que vai se vingar nas urnas de fake news envolvendo Patrícia Pillar

Candidato debochou de carta de Fernando Henrique: 'mais fácil um boi voar de costas'

O candidato à Presidência do PDT, Ciro Gomes, voltou a agradecer nesta sexta-feira à ex-mulher Patrícia Pillar por ter o defendido nas redes sociais diante de fake news em que ela aparecia em uma foto dizendo que tinha apanhado dele. O presidenciável disse que vai se vingar desse episódio protegendo a sociedade do "nazifascismo" que o Jair Bolsonaro (PSL) representa. 
 "O povo brasileiro precisa se vacinar, porque esse é o momento em que parte da sociedade brasileira está infelizmente sendo vitimizada e ao mesmo tempo sendo algoz. É uma coisa extremamente vergonhosa que você pegue uma senhora, apesar de muito jovem, e a envolva. Tendo sido minha ex-mulher, uma pessoa que tem toda a respeitabilidade do Brasil inteiro e de quem sou separado e em quem me transformei num melhor amigo há mais de 15 anos, e desrespeitá-la na sua vida pessoal, que nada tem a ver com a política — disse Ciro, que continuou:Eu vou resolver isso, eu vou me vingar disso protegendo o povo brasileiro, especialmente as mulheres, contra o nazifascismo que o senhor Bolsonaro representa.

Nessa semana, Patrícia Pillar destacou em suas redes sociais que teve a imagem usada para divulgar notícias falsas e favorecer um candidato em quem "jamais" votaria, em referência a Bolsonaro. A atriz frisou que nunca foi alvo de qualquer tipo de violência. Em outro vídeo, Patrícia também declarou voto no ex-marido. Em ato de campanha no Núcleo Bandeirante, região administrativa do Distrito Federal, Ciro ainda debochou da carta de Fernando Henrique Cardoso, em que o ex-presidente defende unidade contra partidos, dizendo que é "mais fácil um boi voar de costas do que Geraldo Alckmin receber o apoio dos demais candidatos" em prol de um caminho conciliatório nas eleições, como sugeriu o ex-presidente tucano em carta, ontem. Para Ciro, FH está na verdade já se preparando para votar em Fernando Haddad (PT), com quem mantém relação amistosa.
"— É muito mais fácil um boi voar de costas. O FHC não percebe que ele já passou. A minha sugestão para ele, que ele merece, é que troque aquele pijama de de bolinhas que está meio estranho por um pijama de estrelinhas. Porque, na verdade, ele está preparando o voto no Haddad, porque ele não tem respeito a nada e a ninguém, a não ser ao seu próprio ego —" disse aos jornalistas.


Ciro também aproveitou para alfinetar outros dois oponentes: Haddad e Jair Bolsonaro (PSL), líderes das pesquisas. Sobre Bolsonaro, o presidenciável afirmou que tem que ser muito inocente para acreditar que, se o ex-capitão do Exército for eleito, ouvirá o economista Paulo Guedes — principal conselheiro de Bolsonaro na área econômica — por mais de 15 dias.  — Tinha uma propaganda no interior do Ceará que era feita pelo Nezinho do Jegue que dizia assim: só burro não toma Castaniodo. Só uma pessoa muito inocente, doida pra ser enganada, acredita que o Bolsonaro vai dar 15 dias de atenção ao Paulo Guedes. Paulo Guedes é um ultraliberal, entreguista completo, e não é que o Bolsonaro não seja também. O Bolsonaro simplesmente não tem coragem para confrontar a onda de repulsa que a sociedade brasileira levantaria contra a entrega aos estrangeiros da Petrobras — afirmou.


Em seguida, quando perguntado por um jornalista sobre sua estratégia para tentar "roubar" os votos de Haddad, brincou que essa era uma palavra "forte" em se tratando do PT. Ciro se posiciona no mesmo campo político de Haddad, mas no último Datafolha apareceu em terceiro lugar, com 13%, atrás de Bolsonaro, com 28% e Haddad, com 16%. O candidato pontuou que quer se apresentar ao eleitorado como alguém que pode "salvar o Brasil" da "radicalização odienta".
— Olha, roubar é uma palavra muito forte, especialmente falando do PT, então eu não posso concordar com essa sua palavra. Fiz uma ironiazinha legal aqui. Foi danadinha, né? Porque eu botei na sua boca e tal. Agora, francamente eu não acho que o voto pertença a ninguém. Eu estou tentando mostrar para as pessoas que aquele que acumulou a experiencia, a ficha limpa a proposta e o projeto e a condição de encerrar essa radicalização odienta que não deixa o Brasil trabalhar e machuca os mais pobres sou eu — disse.

Em seu discurso na praça central do Núcleo Bandeirante, onde se aglomeraram militantes, Ciro também foi nessa linha, afirmando que entende os que sentem ódio e revolta, mas se apresentando como um ficha limpa que quer encerrar o ciclo de brigas entre amigos e familiares. Em contraponto com as opções que representam o extremismo. Dessa vez ele não citou o nome de nenhum oponente.
— Revolta sem causa só gera ódio, só gera violência e isso é o que temos assistido no Brasil. Amizades se desfazendo, jovens brigando, famílias se desunindo e isso não podemos aceitar a resposta da radicalização, do militarismo, da segregação das mulheres, do preconceito contra os negros, ou com quem tem outro tipo de religião. Vamos oferecer ao Brasil, com alegria, com entusiasmo, uma saída que liberte o nosso povo dessa dança perigosa que os extremistas estão nos convidando a dançar na beira do abismo — discursou.

Ele estava acompanhado do governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), que tenta a reeleição. [Rollemberg, o pior governador que o DF já teve = acabou com a Segurança Pública, com a Educação, com a Saúde Pública, transporte, trânsito e tudo o que ainda existia no DF, que se transformo, no governo Rollemberg na única cidade do Brasil - que vale sempre lembrar é também a Capital da República - em que as delegacias (com raras exceções) funcionam em horário comercial = segunda  a sexta, das 8h as 12h e das 14h as 118h - por falta de efetivo.

Rollemberg é o campeão em simular realização de concurso público, porém, os aprovados nunca são contratados.
O efetivo da Polícia Civil e também da Militar, é menor do que o dos anos 90.]

O Globo
 

terça-feira, 28 de março de 2017

Convém não ver Ciro Gomes só como louco; pode ser, mas tem método

Em entrevista, o homem sugere que sua política econômica estaria à esquerda do PT... E o que pretende quando diz que Trump não é de direita?

Escrevi um pequeno post endossando uma consideração de um amigo médico, Felipe Nogueira, segundo quem é Ciro Gomes, não Jair Bolsonaro, o candidato a ser o Donald Trump brasileiro. A observação é arguta e absolutamente compatível com a reveladora entrevista publicada ontem pela Folha. Aliás, convém que aqueles que consideram que o homem é apenas louco comecem a desconfiar de que ele também tem método.

Começo por essa questão momentosa porque vejo, no Brasil, alguns tontinhos de direita à procura do “nosso Trump”. Pois é… Mas o que fez o já decadente Trump presidente dos EUA? Eu resumiria assim: fastio de amplas camadas com a prevalência da agenda politicamente correta que Obama abraçou, sobretudo no segundo mandato, e, atenção!, a mobilização daqueles que não se julgam beneficiados pelo mundo moderno. Supor que Bolsonaro é o Trump só porque é o mais reacionário que a política brasileira pode oferecer é evidência de análise rasa.

Até porque, resta provado, e Ciro acerta ao fazer esta consideração à Folha, Trump é um populista, sim, mas será mesmo “de direita”, da “direita liberal”? Acho que não. Tanto é assim que esquerdistas brasileiros viram com bons olhos quando o Malucão anunciou que pretendem proteger as empresas americanas da concorrência para preservar empregos.  

Ciro tem aquele jeito de doidão, reitero, mas tem método. Afirmou sobre o presidente americano: “Por que o Trump é de direita? Populista, sim, ok. Mas a vitória dele foi importante. Ele representa a negação da perversão neoliberal. E, no Brasil, o problema não é de direita e esquerda. A política econômica do Lula é igual à do FHC”.

E, claro, ele elogiou também o que considera a franqueza do americano, similar, então, à sua: “Em tempos bicudos, as pessoas procuram franqueza”. Antes ainda: “[Uma especialista] sempre me estimulou a manter minha linguagem, meu sotaque, meu jeito de ser. Só tenho como ferramenta minha língua”. Quando o pré-candidato diz que receberia os homens de Moro a bala caso tentassem prendê-lo de modo injusto, não está falando sem querer. Ele sabe que os fanáticos do morismo não votarão num candidato de esquerda.

E é esse o espaço que está buscando consolidar, junto com Lula, com quem ele anuncia uma aliança. É claro que não pode se descolar também do eleitorado de centro e de centro-direita. Notem: ele receberia os homens de Moro a bala, mas, sozinho, o sujeito se comporta como polícia, Ministério Público e juiz. Atira contra tudo e todos. Fica-se com a impressão de que resta um honesto na República. Adivinhem quem.

Ele está se posicionando para a guerra. Tanto é que a maior saraivada para o prefeito João Doria, de São Paulo (PSDB), em quem vê um potencial candidato. Então pespega: é farsante; deixou um rastro de irregularidades na Embratur; fez propaganda que estimulou o turismo sexual e ficou milionário com a ajuda de governos tucanos. Levou um troco: tem de cuidar de sua saúde mental; não tem moral para falar em defesa das mulheres porque disse, em 2002, que a função da sua ex-mulher era dormir com ele; exibe “habitual destempero” e “tradicional desequilíbrio”.
Que fique claro: Ciro conta também comos contra-ataques, como contava Trump.

Aliança tácita
A aliança tácita com Lula está dada.
Quando ele diz que não se lança candidato se o outro o fizer, deixa claro que estão juntos. Com acerto, supõe que o petista tenderia a polarizar o debate, e ele, Ciro, seria condenado à irrelevância como alternativa de esquerda. Faz sentido? Faz. Lula vai ser candidato? Depende da Justiça. A suposição de que estarão juntos em 2018, em qualquer cenário, é muito razoável. Ainda que o PT viesse a lançar um qualquer (se não for Lula), coisa de que duvido um pouco, a aliança tácita seria mantida.

Para encerrar: na entrevista à Folha, Ciro deixa claro que considera neoliberais tanto a as opções econômicas do PSDB como as do PT. É, colegas, em economia, o homem pretende ser a verdadeira esquerda. Viva a Terra Arrasada de Rodrigo Janot, em que ninguém presta; em que todos são culpados. Ele nos expõe a perigos como esse.
Um Ciro com tal discurso é, arremate-se, mais uma obra da direita xucra.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo  

 

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Ex-mulher acusou 6 vezes autor de chacina em Campinas

Na noite de réveillon, ele matou a ex-mulher, o filho, João Victor, de 8, e mais dez pessoas que comemoravam o ano-novo na casa de parentes dela, em Campinas, no interior do Estado. Depois, Araújo se matou.

A técnica em contabilidade Isamara Filier, de 41 anos, registrou cinco boletins de ocorrência contra o ex-marido Sidnei Ramis de Araújo, de 46, por crimes de agressão e ameaça, além de denunciá-lo por abuso sexual contra o filho na Justiça. As queixas na polícia começaram em 2005 e foram até 2015. Na noite de réveillon, ele matou a ex-mulher, o filho, João Victor, de 8, e mais dez pessoas que comemoravam o ano-novo na casa de parentes dela, em Campinas, no interior do Estado. Depois, Araújo se matou.

Isamara ganhou a guarda do filho depois de denunciar à Justiça que o menino teria sido abusado sexualmente pelo pai. Segundo a polícia, a decisão judicial deixou Araújo consternado e foi o principal motivo para que ele cometesse o crime. A denúncia foi feita no início de 2012. No Natal daquele ano, ela foi até a Delegacia da Mulher, em Campinas, e afirmou que foi ameaçada pelo ex-marido por telefone Durante uma discussão, ele teria dito "vou te matar". A queixa seguinte foi em setembro de 2013. Segundo o boletim de ocorrência, Araújo estava brincando com o filho durante uma visita monitorada e empurrou a mulher, que caiu.

Em dezembro de 2014, a Polícia Militar foi chamada até um clube da cidade. Lá, Araújo foi flagrado descumprindo uma ordem judicial, que o proibia de se aproximar do filho fora dos dias de visita monitorada. O menino estava jogando futebol e o pai foi surpreendido na arquibancada por Isamara. Por último, em junho de 2015, foi feita a ameaça mais grave. Isamara disse à polícia que o ex-marido a ameaçou de morte: ele teria dito que "é melhor você ir conversar com o diabo, porque nem Deus vai te ajudar! Porque você e a vaca da sua mãe vão pagar!". Segundo a polícia, em nenhum dos casos Isamara quis receber medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha. [a triste realidade é que as tais medidas protetivas da Lei Maria da Penha são totalmente inúteis;
quando o agressor decide partir para o assassinato é extremamente impossível impedir - estando o agressor disposto a matar, ele tem quase 100% de chances de ter êxito, já que tem a oportunidade de escolher dia, hora e local para cumprir a ameaça.
A única forma de livrar a mulher do assassino é colocando sob proteção 24 horas por dia, o que quase sempre é impossível, pela necessidade que tem a ex de levar uma vida normal, portanto, exposta à sanha do assassino.]

Investigação. 
O 3º DP de Campinas vai investigar o que motivou os 12 assassinatos e o suicídio de Araújo.

Os policiais apreenderam uma gravação com o assassino no local do crime. Nela, o atirador teria se justificado e pedido desculpas para amigos. O material, junto com dez explosivos e cápsulas de pistola 9 milímetros encontrados na casa foram encaminhados para a perícia. O foco da investigação é descobrir quem vendeu a arma para Araújo. Nesta semana, estão previstos os primeiros depoimentos de testemunhas e parentes das vítimas e do atirador.

Conforme a reportagem revelou nesta segunda, Araújo mandou um e-mail coletivo para os amigos, programado antes do ataque, explicando os motivos que o levaram a matar a ex-mulher e a família dela. O e-mail contém um arquivo com áudios nos quais o atirador revela todo o ódio que sentia em relação a Isamara.Ele diz também que pretendia cometer o massacre na noite de Natal. "Eu tentei pegar a vadia no almoço do Natal e dia da minha visita, assim pegaria o máximo de vadias da família, mas, como não tenho prática, não consegui", disse o atirador. A polícia ainda não tem esse documento.

Enterro
Dor e comoção marcaram o enterro das 12 vítimas, na manhã desta segunda-feira, 2, no Cemitério da Saudade. Cerca de 1 mil pessoas, entre parentes, amigos e curiosos, acompanharam o final do velório e o cortejo. Os sepultamentos começaram por volta das 9h20, de dois em dois, por causa da quantidade de vítimas. Os últimos corpos a serem sepultados foram de Isamara, João Victor e do irmão dela, Rafael Filier, de 33 anos. Comovida, a família pediu para que a imprensa se afastasse do túmulo.

O pai de Isamara, Jovair Filier, acompanhou o cortejo com ajuda de um carrinho elétrico. Segundo amigos, há dois anos ele perdeu a mulher. Agora, o casal de filhos. "Ficou só", disse uma ex-empregada da família. 
(Colaborou Alenita Ramirez, Especial Para o Estado)

Fonte: Correio Braziliense