A pena aplicada ao ex-presidente da
Eletronuclear por Marcelo Bretas, juiz federal no Rio, aconselha Lula a refazer o
documento que encomendou para tapear a ONU
O início
da Olimpíada comprimiu numa nesga do noticiário
o recorde estabelecido pelo juiz da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro
horas antes da belíssima festa de abertura: Marcelo Costa Bretas sentenciou a 43 anos de prisão o vice-almirante
Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, condenado por corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de
divisas, organização criminosa e embaraço à investigação.
É a maior de
todas as penas impostas até agora aos delinquentes desmascarados pela Operação
Lava Jato e seus desdobramentos. Uma dessas ramificações derivou da descoberta
da ladroagem que, paralelamente ao grande assalto à Petrobras, sangrou em
muitos milhões de reais o setor de energia, sobretudo o projeto nuclear. O esquema corrupto forjado por Othon, uma tropa de larápios e
empreiteiros que acabaram encalhando no pântano do Petrolão funcionou anos a
fio — e foi mais lucrativo do que
nunca enquanto manipulou as licitações das obras da usina Angra 3. A
denúncia contra o ex-presidente da Eletronuclear e seus 13 comparsas foi aceita
pelo juiz Sérgio Moro em 3 de setembro de 2015.
O gatuno atômico mal disfarçou o
entusiasmo quando,
em 30 de outubro, o ministro Teori Zavascki, relator da
Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, determinou a transferência do caso para
a Justiça Federal no Rio. Longe da República de Curitiba, imaginou, as
coisas decerto andariam mais lentamente. E talvez fosse julgado por um
magistrado menos inclemente com meliantes cinco estrelas.
Errou feio. Já em 2 de dezembro de 2015, o
juiz Bretas aceitou a denúncia contra os 14 acusados. E neste 4 de agosto, passados apenas oito meses, puniu com histórica severidade o
comandante do bando e mais 12 envolvidos nas patifarias. Talvez fosse
mais sensato ter continuado em Curitiba, aprendeu Othon: a maior pena aplicada por Sérgio Moro desde o começo da Lava
Jato puniu José Dirceu com 20 anos e 10 meses de prisão. Metade do tempo
de gaiola fixado pelo juiz federal do Rio.
Os Moros são muitos, constatou o post publicado pela
coluna quando Lula, um dia depois de pedir socorro à
ONU fantasiado de vítima da perseguição do juiz de Curitiba, foi transformado em réu pelo juiz Ricardo
Leite, da 10ª Vara Federal em Brasília. Estão por toda parte, e o caso do
vice-almirante informa que alguns podem ser mais rigorosos que o original.
Esses presságios recomendam a Lula ordenar aos seus advogados que reescrevam o
documento enviado à ONU.
Em vez de atribuir todas as
estações do calvário que percorre a Sérgio Moro, deveria declarar-se
perseguido por todos os juízes, todos os promotores, todos os procuradores,
todos os delegados e todos os agentes da Polícia Federal — fora a imprensa reacionária, a elite golpista e os loiros de olhos
azuis. E
também não custa registrar já no primeiro parágrafo que, com exceção desses cruéis perseguidores, os demais
brasileiros sabem que ninguém é mais honesto que ele, nem existe no planeta
viva alma tão pura.
O único
risco é a comunidade internacional compreender que Lula sempre dividiu o mundo
em duas tribos. Uma reúne os seus
devotos. A outra é um bando de idiotas.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes