Eliane Cantanhêde: Na antessala de Temer e Lula
Janot contra Temer e Loures; Moro mira em Lula e Palocci
Rocha Loures está na antessala de Temer, assim como Palocci está na de Lula. Loures foi filmado carregando uma mala de R$ 500 mil que a PGR diz que, na verdade, seria de Temer e parte de uma mesada da JBS. E Palocci era o gerente real das contas de Lula na Odebrecht, conforme delatou o próprio Marcelo Odebrecht. Loures entrou mudo e saiu calado do seu depoimento às autoridades e o Planalto nem sequer conseguiu disfarçar o alívio. E Palocci está sendo duro na queda, mas a condenação de ontem, que inclui a devolução de US$ 10 milhões (!) reforça informações de bastidores de que ele está caminhando para fazer delação premiada.
O que significa delação premiada nesses dois casos? Na expectativa dos investigadores e no temor dos envolvidos, significa “entregar os chefes”. Loures era, literalmente, o carregador de pasta de Temer, aquele que sabe tudo. E Palocci é mais ainda, porque tem mais status.Em depoimento a Moro, Palocci foi premeditadamente confuso e contraditório, acenando com informações que pudessem dar um ano de trabalho à força-tarefa da Lava Jato. Para o juiz, foi “uma ameaça”. Pode ter sido para empresas, bancos, o PT. Mas, mais do que conhecer os esquemas, ele conhece o papel de Lula.
Na avaliação do Planalto, a gravação de Joesley Batista com Temer é insuficiente para derrubar um presidente da República. “É o diálogo de um homem educado (Temer) tentando se livrar logo de um chato (Joesley)”, define um ministro. Mas a denúncia de Janot tem mais e é bem adjetivada, pode aumentar a perda de confiança e de apoio, principalmente no PSDB. Há risco real de Temer ser afastado do cargo e de o País conviver com a situação inédita de um presidente processado pelo Supremo. Apesar disso, ontem a Bolsa subia, o dólar caía e a sociedade seguia normalmente. A crise política atinge seu pico, mas o País não está convulsionado, parece anestesiado. Mais uma jabuticaba, que só existe no Brasil.
Há protestos em Curitiba, por exemplo, mas eles não têm a ver diretamente com a denúncia contra Temer, mas sim contra o ajuste fiscal para corrigir a calamidade econômica deixada por Dilma Rousseff. Os Estados vão adotando ajustes e quem paga o pato são especialmente os funcionários públicos, que se revoltam. Ou seja: as manifestações são locais, pontuais, movidas por interesses diretos.
Temer é o presidente mais impopular desde a redemocratização, mas a crise não está nas ruas e as atenções estão nos poucos metros quadrados da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Intensa movimentação no Planalto, a PGR fatiando a denúncia contra Temer, a Câmara se preparando para autorizá-la ou não. Se autorizar, o Supremo vai julgar já com Temer afastado.
Tudo isso acontece ao mesmo tempo, sem que a sociedade e seus representantes se ocupem de traçar o “day after”. Hipoteticamente: se Temer cai hoje, como o Brasil acorda amanhã? De pernas para o ar, com Rodrigo Maia no centro da história. E se Temer tiver 172, 180 ou 200 votos na Câmara para barrar o processo? Ele fica, mas isso lhe garante governabilidade até 2018? Há controvérsias.
Fonte: O Estado de S. Paulo - Eliane Cantanhêde
Transcrito da Coluna de Augusto Nunes - VEJA