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quarta-feira, 28 de junho de 2017

Na antessala de Temer e Lula

Eliane Cantanhêde: Na antessala de Temer e Lula

Janot contra Temer e Loures; Moro mira em Lula e Palocci

Foram dois recados prévios. O procurador Rodrigo Janot pediu a manutenção da prisão do ex-deputado Rocha Loures para deixar clara a linha da primeira denúncia contra o presidente Michel Temer, horas depois. E o juiz Sérgio Moro condenou Antonio Palocci a mais de 12 anos, aparentemente, como preparativo para sua sentença contra o ex-presidente Lula.
Rocha Loures está na antessala de Temer, assim como Palocci está na de Lula. Loures foi filmado carregando uma mala de R$ 500 mil que a PGR diz que, na verdade, seria de Temer e parte de uma mesada da JBS. E Palocci era o gerente real das contas de Lula na Odebrecht, conforme delatou o próprio Marcelo Odebrecht.  Loures entrou mudo e saiu calado do seu depoimento às autoridades e o Planalto nem sequer conseguiu disfarçar o alívio. E Palocci está sendo duro na queda, mas a condenação de ontem, que inclui a devolução de US$ 10 milhões (!) reforça informações de bastidores de que ele está caminhando para fazer delação premiada.

O que significa delação premiada nesses dois casos? Na expectativa dos investigadores e no temor dos envolvidos, significa “entregar os chefes”. Loures era, literalmente, o carregador de pasta de Temer, aquele que sabe tudo. E Palocci é mais ainda, porque tem mais status.Em depoimento a Moro, Palocci foi premeditadamente confuso e contraditório, acenando com informações que pudessem dar um ano de trabalho à força-tarefa da Lava Jato. Para o juiz, foi “uma ameaça”. Pode ter sido para empresas, bancos, o PT. Mas, mais do que conhecer os esquemas, ele conhece o papel de Lula.
Líder nas pesquisas presidenciais, Lula luta nas bases, via militância e movimentos alinhados com o PT. Já Temer, três vezes presidente da Câmara e com aprovação abaixo do mínimo, guerreia nas cúpulas, com o Congresso e os partidos aliados.

Na avaliação do Planalto, a gravação de Joesley Batista com Temer é insuficiente para derrubar um presidente da República. “É o diálogo de um homem educado (Temer) tentando se livrar logo de um chato (Joesley)”, define um ministro. Mas a denúncia de Janot tem mais e é bem adjetivada, pode aumentar a perda de confiança e de apoio, principalmente no PSDB.  Há risco real de Temer ser afastado do cargo e de o País conviver com a situação inédita de um presidente processado pelo Supremo. Apesar disso, ontem a Bolsa subia, o dólar caía e a sociedade seguia normalmente. A crise política atinge seu pico, mas o País não está convulsionado, parece anestesiado. Mais uma jabuticaba, que só existe no Brasil.

Há protestos em Curitiba, por exemplo, mas eles não têm a ver diretamente com a denúncia contra Temer, mas sim contra o ajuste fiscal para corrigir a calamidade econômica deixada por Dilma Rousseff. Os Estados vão adotando ajustes e quem paga o pato são especialmente os funcionários públicos, que se revoltam. Ou seja: as manifestações são locais, pontuais, movidas por interesses diretos.

Temer é o presidente mais impopular desde a redemocratização, mas a crise não está nas ruas e as atenções estão nos poucos metros quadrados da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Intensa movimentação no Planalto, a PGR fatiando a denúncia contra Temer, a Câmara se preparando para autorizá-la ou não. Se autorizar, o Supremo vai julgar já com Temer afastado.

Tudo isso acontece ao mesmo tempo, sem que a sociedade e seus representantes se ocupem de traçar o day after”. Hipoteticamente: se Temer cai hoje, como o Brasil acorda amanhã? De pernas para o ar, com Rodrigo Maia no centro da história. E se Temer tiver 172, 180 ou 200 votos na Câmara para barrar o processo? Ele fica, mas isso lhe garante governabilidade até 2018? Há controvérsias.

Fonte: O Estado de S. Paulo -  Eliane Cantanhêde


Transcrito da Coluna de Augusto Nunes - VEJA

 

quinta-feira, 25 de maio de 2017

O ato de força que expôs a fragilidade de Michel Temer

Exposto por Rodrigo Maia no decreto da convocação dos militares, o presidente se desgasta por um ato impopular e que remete ao passado 

[desde quando cumprir as Leis, especialmente a Constituição, é um ato impopular? as PESSOAS DE BEM sentem satisfação quando tem certeza que as Leis estão sendo cumpridas.]

Entre a noite de quarta-feira (24) e a manhã de quinta (25), o presidente Michel Temer assinou e revogou um decreto que, na prática, colocava as Forças Armadas para fazer o papel de polícia nas ruas de Brasília. Em um período de cerca de 12 horas, Temer tomou uma atitude de forte impacto e recuou. [a revogação do ato não foi um recuo; apenas os baderneiros se acovardaram, sumiram e o Decreto estabelecendo a GLO no DF se tornou desnecessário. Nos dois momentos o presidente agiu de acordo com a Constituição e as circunstâncias da ocasião.]Sua segunda decisão foi sensata. Na política, no entanto, o recuo não necessariamente conserta a situação. A ida e a volta são lidos como sinais explícitos da fraqueza de Temer no momento em que sua capacidade de permanecer no cargo diminui a cada dia.

Temer justificou a decisão como uma resposta a um pedido feito pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM, para reforçar a segurança durante os protestos violentos na Esplanada dos Ministérios na tarde de quarta. Mas, pressionado pela péssima repercussão, Maia divulgou o ofício que enviara a Temer: ele pedia reforço da Força Nacional, uma tropa formada por policiais militares, não das Forças Armadas, integradas por Exército, Marinha e Aeronáutica. [conforme as normas da Lei que estabeleceu a GLO, o presidente da República é que decide quais forças serão usadas, efetivo e tudo o mais.
A Força Nacional de Segurança é formada majoritariamente por policiais e bombeiros militares, policiais civis e pequeno número de  integrantes  de outros órgãos de segurança.]  Há um oceano de distância entre as duas. Ficou péssimo para Temer.

Com a nota, Rodrigo Maia deixou o presidente da República arcar sozinho com a responsabilidade por uma decisão ruim. Sinal claríssimo de que desembarcou de Temer. Maia mostrou que pode ser fiel a Temer no Congresso, a ponto de bancar publicamente que vai rejeitar a enxurrada de pedidos de impeachment do presidente protocolados na Câmara depois da delação premiada de Joesley Batista, do grupo JBS, mas não afundará publicamente com ele. Maia demarcou um limite. Quando um presidente da República está forte, coisas assim não acontecem. Rodrigo Maia deixou claro que quer preservar seu futuro político. Temer, como se sabe, pode não ter um.

A decisão de Temer traz também um prejuízo para o país. O Brasil tem o trauma de 30 anos de ditadura militar e o vício atávico de olhar demais para o passado para tratar o presente e projetar o futuro. A última vez que alguém colocou as Forças Armadas nas ruas da capital foi em 1982, no final da ditadura militar, quando o presidente João Figueiredo quis sabotar a votação da emenda pelas eleições diretas. [lembrete: as operações de GLO são reguladas pela Constituição Federal, em seu artigo 142, pela Lei Complementar 97, de 1999, e pelo Decreto 3897, de 2001, as operações de GLO concedem provisoriamente aos militares a faculdade de atuar com poder de polícia até o restabelecimento da normalidade.] Com a atitude, Temer jogou o Brasil de volta a este passado, alimentou um debate jurássico, restrito às teorias da conspiração de boteco de que os militares podem retomar o poder. Se Dilma Rousseff fez o Brasil recuar 30 anos com uma política econômica ultrapassada, primitiva e danosa, Temer injetou um pouco de atraso no aspecto institucional e no imaginário da nação. Ambos serão lembrados por esses episódios que levaram o Brasil momentaneamente de volta à década de 1980.

Fonte: Revista Época