Após plágio, empresa de filho de Lula pode ser processada
Trabalhos com cópia de artigos disponíveis na internet foram encomendados pela Marcondes & Mautoni
O lançamento do primeiro absorvente descartável no Brasil, a
beleza das aeromoças da companhia aérea Emirates e o consumo de fast
food pelos brasileiros são algumas informações no trabalho feito pela
LFT, empresa de Luis Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Além de pouco dizerem sobre o envolvimento da
indústria automobilística no esporte — foco dos trabalhos contratados —,
foram extraídas, sempre sem crédito, de fontes diversas: um blog sobre
marcas publicitárias, um artigo acadêmico, a Wikipedia e reportagens de
jornal, entre outras.
O dono do blog “Mundo das Marcas”, um dos alvos da
cópia, disse que pretende tomar providências jurídicas contra Luis
Cláudio e a LFT.
Os trabalhos foram encomendados pela Marcondes & Mautoni, empresa de lobby investigada na Operação Zelotes. São quatro contratos, assinados entre junho e novembro de 2014, totalizando R$ 2,4 milhões. Um deles, “Impacto da Copa do Mundo no desempenho das empresas patrocinadoras”, traz informações sobre a história e os negócios de empresas associadas à Fifa e ao Mundial de 2014, disputado no Brasil. Em relação a 13 marcas (Adidas, Budweiser, Castrol, Centauro, Coca-Cola, Continental, Emirates, Garoto, Hyundai, Johnson & Johnson, McDonald's, Sony e Visa), a LFT copiou trechos do “Mundo das Marcas”. Na maioria dos casos, fez pequenas alterações na redação. Em outros, nem isso.
A LFT diz que a Emirates tem como ícones “as belas aeromoças e o atendimento impecável”. O texto é igual ao do “Mundo das Marcas”. Sobre a Budweiser, o trabalho informa que “é a cerveja que os trabalhadores americanos tomam quando param num bar a caminho de casa, depois do trabalho. Está associada a macacões, trabalho pesado e jogos tradicionais”. O “Mundo das Marcas” diz que “é a cerveja que os trabalhadores americanos tomam quando param num bar a caminho de casa, depois de um dia exaustivo de trabalho. A marca está associada a macacões, mãos sujas de graxa, trabalho pesado e jogos tradicionais”.
O trabalho da LFT ainda traz um pequeno histórico da Johnson & Johnson: “Em 1934 o lançamento do Modess, primeiro absorvente descartável do mercado nacional, revolucionou o modo de pensar da mulher brasileira. Em 1936 trouxe a Tek, primeira escova dental com cerdas de náilon do país. Nos anos de 1940 inovou novamente com a introdução dos curativos Band-Aid. Em 1969 lançou o Tylenol, que se tornou um forte aliado na redução da febre e para alívio temporário das dores”. Um pouco mais enxuto, esse texto é muito parecido ao publicado antes no blog.
Por e-mail, o publicitário Kadu Dias, dono do “Mundo das Marcas”, disse que nunca teve relação com Luís Cláudio ou a LFT. “O MDM (Mundo das Marcas) é referência neste assunto na web e demorei muito para conquistar credibilidade, com meus textos sendo utilizados por professores, alunos, profissionais de comunicação e grandes veículos de mídia especializada. O blog é aberto ao público e toda informação pode ser utilizada por terceiros, desde que cite a fonte. Esse é meu lema: levar informação de qualidade gratuitamente a quem precise. Se você tiver mais informações sobre este caso, peço a gentileza que me envie para que eu possa tomar providências jurídicas contra este senhor e sua empresa”, disse Kadu.
No caso da Oi e da Marfrig, a LFT usou textos da Wikipedia. O trabalho copia ainda trecho de reportagem de novembro de 2013 do jornal “Brasil Econômico”. Os números e expressões usadas (“o consumo de fast-food no Brasil é visto como um deleite”) são os mesmos. A LFT comete imprecisões. Chama os protestos de junho de 2013 de “jornadas de julho”.
O trabalho “Análise do esporte como fator de motivação e integração nas empresas” traz definições de esporte e torneio esportivo copiadas da Wikipedia. Também copia um artigo acadêmico, publicado em 2006 na “Revista Brasileira de Educação Física e Esporte”, da Universidade de São Paulo (USP). “O esporte se coloca como uma forma de promover práticas voltadas à melhoria da qualidade de vida de indivíduos no ambiente empresarial, o que proporciona uma aproximação entre empresa e funcionário”, diz a LFT, que fez pequenas mudanças no texto da revista, trocando expressões como “ambiente da empresa” por “ambiente empresarial”. [o falsário Luís Cláudio, filho de Lula, se diz formado em Educação Física e o mínimo que se espera de alguém graduado em Educação Física é ter uma definição precisa, completa do significado da palavra 'esporte'; mas, até essa definição o cara pescou na Wikipedia, o que deixa a dúvida: o diploma do garoto de Lula será também falso? afinal, muitos petistas curtem uma falsificação. Não esqueçamos que a atual presidente tentou falsificar seu currículo na 'plataforma Lattes' - criando um doutorado inexistente em economia.]
Há casos em que as fontes recebem crédito. São citadas pesquisa do Sebrae e da consultoria GlobalWebindex sobre impactos econômicos da Copa.
INFOGRÁFICO: Trechos plagiados em contratos da LFT
DEFESA: CONTRATANTE NÃO RECLAMOU
O trabalho mais caro (custou R$ 1 milhão) foi “Olimpíadas 2016”, com páginas dedicadas a um perfil do Rio de Janeiro, sede dos jogos. Completa a lista dos contratos o “Estudo publicitário visando patrocínio nas arenas construídas para a Copa de 2014”, com dados relativos às cidades-sede e estádios da Copa.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigam as relações entre as duas empresas. A Marcondes & Mautoni, cujos donos estão presos, é acusada de participar da negociação de medidas provisórias que favoreceriam a Caoa, representante da Hyundai, e a MMC Automotores, que fabrica veículos da Mitsubishi no Brasil. A Marcondes & Mautoni recebeu mais de R$ 32 milhões das duas montadoras, quando estariam em curso tratativas para alterar três medidas provisórias, entre 2009 e 2014. A empresa ainda tinha contrato com a Saab, empresa sueca que ganhou licitação para vender caças à Aeronáutica.
Em 6 de janeiro deste ano, a PF indagou a Lula se os pagamentos da Marcondes & Mautoni à LFT eram por serviços prestados pelo ex-presidente à Saab ou à indústria automobilística. Lula respondeu que isso era “um absurdo”. Semana passada, o delegado Marlon Cajado confirmou que investiga se Lula e outros ex-servidores públicos foram corrompidos ou se a menção aos seus nomes era só uma forma de os acusados propagarem influência que não tinham.
Fonte: O Globo