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sábado, 27 de outubro de 2018

A minoria petista

Se as eleições presidenciais da República do domingo (28) se limitassem às dependências da Polícia Federal, Jair Bolsonaro seria eleito de lavada.

Diferentemente da maioria da corporação bolsonarista, carcereiros de Lula vão votar no PT de olhos fechados

Identificada com as pautas defendidas pelo candidato do PSL, a maior parte da Polícia Federal aderiu ao capitão reformado do Exército como sua opção de voto. Entidades que reúnem tanto agentes quanto delegados veem em Bolsonaro a chance de alcançar pleitos como o aumento de orçamento e realização de concursos para contratar mais policiais.
 Há aqueles que estão surfando na onda do presidenciável, como os delegados Felício Laterça (RJ), Marcelo Freitas (MG) e Pablo Oliva (AM), que se elegeram deputados federais pelo PSL. Restou, no entanto, um pequeno grupo da corporação que simpatiza com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – aqueles que o conheceram desde abril, quando Lula foi parar atrás das grandes do prédio da PF, em Curitiba. Instalado em uma cela de 15 metros quadrados com banheiro na sede paranaense da PF e sem permissão judicial para ter contato com os demais presos, Lula passou a conviver intensamente com os policiais. O contato é maior ainda nos fins de semana, quando as visitas, até mesmo de advogados, são proibidas. Hoje ele tem direito de receber um líder religioso às segundas, além de familiares e dois amigos às quintas. [o presidiário é ateu - qual líder religioso ele recebe realmente com finalidades religiosas?]

A primeira conversa do petista com seus carcereiros acontece por volta das 7h, quando o café da manhã, geralmente um pão, suco e café, é levado para o preso. Àquela hora, Lula já está de pé. Regularmente de bom humor, com seu calção do Corinthians ou moletom nos dias mais frios, lança logo a primeira piada. As brincadeiras são dirigidas a quase todos que aparecem para vê-lo. Nem os juízes da vara de execução penal de Curitiba foram poupados. Na semana passada, quando vistoriaram a cela de Lula, ele disparou rindo: "Olha o livro que estou lendo, para aprender a me controlar aqui, e apontou para A virtude da raiva, escrito por Arun Gandhi, neto do líder pacifista Mahatma Gandhi.

Vez ou outra, policiais chegam a fazer companhia ao ex-presidente por alguns minutos, enquanto ele assiste a programas dominicais dentro da própria cela. A Justiça permitiu que o petista tivesse uma tevê no local. No controle-remoto de Lula, apenas canais abertos e filmes levados em pen-drives. É ao redor da mesa quadrada de quatro lugares que assistem ao Domingão do Faustão, ou a jogos de futebol. Um dos quadros que mais entusiasmaram o petista nesses meses de prisão foi o "Show dos famosos", em que globais dublam cantores. A apresentação mais elogiada pelo ex-presidente foi a do ator Silvério Pereira como a francesa Édith Piaf. [o que estimula os brasileiros de BEM é que é mera questão de tempo que o condenado seja transferido para uma prisão comum, onde dividirá cela com presos comuns - afinal, Lula é um político preso, condenado a mais de doze anos de prisão (outras condenações virão) , portanto, um bandido comum.
Enquanto a transferência não ocorre seria aconselhável um rodízio dos policiais que montam guarda - evitaria o absurdo de palavras proferidas por Lula, comentando os livros que diz ler, serem consideradas eruditas.]

Preso há seis meses, Lula chamou a atenção dos funcionários da PF não só pelo bom humor, descrito por eles como “inabalável”, mas também pelas horas que passa entretido com os mais de 40 livros que ganhou. “Quando Lula chegou aqui, a fama era de que não tinha nada de intelectual. Mas desde que foi preso, passa a maior parte do tempo lendo e escrevendo.” [intelectual analfabeto; fonte segura, um dos seus carcereiros, disse que ele foi flagrado diversas vezes 'lendo' livros de 'cabeça para baixo'.
É pacífico que além de analfabeto Lula detesta livros - considera ler um livro pior que se exercitar em uma esteira, atividade que ele também não suporta.] Policiais contam que, após a leitura, o petista costuma relatar a eles um resumo das obras. Quase sempre, faz um paralelo com o que o Brasil vive hoje. As referências são eruditas.

O ex-presidente já falou sobre obras do russo Leon Tolstói, citou Dostoiévski e dissertou sobre Amor nos tempos do cólera, do colombiano Gabriel García Márquez. Os textos do linguista americano Noam Chomsky, um dos principais intelectuais de esquerda da atualidade, entrou na roda de conversas no último mês, após a visita do professor ao petista. Houve tietagem. Policiais que leram seus textos nos tempos de universitários pediram selfies para o americano.

Lula sempre evitou falar de política com os agentes, mas nas últimas semanas, quando ficou praticamente impossível não tratar da eleição, tem quebrado a própria regra. Quando o assunto surge, o ex-presidente não se furta em dizer que cumpriu sua missão e deixou seu legado para o país. Preparado para o pior, tem dito que o PT “tem que cair de pé” e destacar o que fez pelo Brasil.

Com Lula, nunca falta papo. Algumas vezes, as conversas só acabam por causa da disciplina espartana da PF. Com a chegada da noite, é hora do preso ficar só. Mas não em silêncio. Após às 19h, do outro da porta do cômodo transformado em cela para o ex-presidente, ecoam os versos de Zeca Pagodinho. “Deixa a vida me levar, vida leva eu...”

Bela Mégale - Época