Delação de advogado aprovada na PGR aponta que o juiz teria até influenciado uma eleição política. Entre as provas, está um áudio com a voz do magistrado
Cinco
meses depois dessa primeira tentativa, Nythalmar assinou um acordo com a
Procuradoria-Geral da República.
VEJA teve acesso à íntegra dos anexos
apresentados pelo advogado — os resumos dos segredos que o colaborador
se compromete a revelar às autoridades. O alvo principal do delator é o
juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Lava-Jato no Rio de Janeiro.
Caso Bretas: os juízes que se acham acima da lei no Brasil Reportagem de Veja sobre abusos do braço da Lava Jato no Rio joga mais luz sobre problemas na Justiça
O magistrado ganhou notoriedade pelo seu trabalho à frente da 7ª Vara
Federal em processos que resultaram na prisão de políticos importantes,
como o ex-presidente Michel Temer e o ex-governador Sérgio Cabral, e de
empresários do porte de Fernando Cavendish, ex-dono da construtora
Delta, e Eike Batista, que já foi um dos homens mais ricos do país.
Segundo o criminalista, Bretas não é imparcial. Muito pelo contrário.
Ele se comporta como policial, promotor e juiz ao mesmo tempo: negocia
penas, orienta advogados, investiga, combina estratégias com o
Ministério Público, direciona acordos, pressiona investigados, manobra
processos e Já tentou até influenciar eleições — evidentemente tudo à
margem da lei.
Cinco meses depois dessa primeira tentativa, Nythalmar assinou um acordo com a Procuradoria-Geral da República.
VEJA teve acesso à íntegra dos anexos apresentados pelo advogado — os resumos dos segredos que o colaborador se compromete a revelar às autoridades. O alvo principal do delator é o juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Lava-Jato no Rio de Janeiro.
Caso Bretas: os juízes que se acham acima da lei no Brasil Reportagem de Veja sobre abusos do braço da Lava Jato no Rio joga mais luz sobre problemas na Justiça
Nythalmar promete apresentar provas de todas essas acusações. A principal delas é a gravação de uma conversa entre ele, o juiz e um procurador da República encarregado da Lava-Jato. Em 2017, os três discutiam uma estratégia para convencer o empresário Fernando Cavendish a confessar seus crimes mediante o oferecimento de algumas vantagens judiciais. No áudio, cuja transcrição faz parte do material obtido por VEJA, o juiz diz a Nythalmar, representante de Cavendish, que havia sondado o Ministério Público sobre um acordo e, caso tudo saísse como combinado, poderia “aliviar” a pena do empresário. “Você pode falar que conversei com ele, com o Leo, que fizemos uma videoconferência lá, e o procurador me garantiu que aqui mantém o interesse, aqui não vai embarreirar”, diz Bretas ao advogado. Leo é o procurador Leonardo Cardoso de Freitas, então coordenador da Lava-Jato no Rio de Janeiro. O procurador também participava da conversa, realizada através de videoconferência. Na sequência, Bretas garante que a sentença do empresário será abrandada.
“E aí deixa comigo também que eu vou aliviar. Não vou botar 43 anos no cara. Cara tá assustado com os 43 anos”, diz o juiz. Conhecido pela rigidez de seus veredictos, Bretas, ao citar os tais “43 anos”, se referia ao pânico que se espalhou entre os investigados quando ele anunciou sua decisão de condenar por corrupção o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, a 43 anos de prisão logo no início da Lava-Jato, em 2016. A sentença imposta a Pinheiro, naquele momento a maior da operação, gerou um temor generalizado nos réus. “Foi boa então você ter colocado 43 no Othon, né?”, elogia o advogado no diálogo gravado. Entre risadas, Bretas confirma: “É, ooo”. A conversa produziu os resultados esperados pela trinca. Logo Cavendish começou a confessar seus crimes e mais tarde assinou um acordo de delação premiada com o Ministério Público. O empreiteiro, entre outras revelações, confessou o pagamento de milhões em propina a vários políticos e, em troca, ganhou o direito de responder ao processo em liberdade.