A
presidente afastada reconhece que não há mais nenhuma chance de retornar ao
cargo e quer que o processo de impeachment termine logo
Na
terça-feira passada, Michel Temer ofereceu um jantar no Palácio do Jaburu aos
presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Rodrigo Maia. Não havia
uma pauta específica. O objetivo do
presidente interino era mostrar à imprensa uma situação de harmonia entre os
chefes do Executivo e do Legislativo, para contrastar com o clima beligerante no governo da
presidente afastada Dilma Rousseff. Tudo
correu conforme o planejado, com uma revelação inesperada. Renan Calheiros
disse a Temer que a petista jogou a toalha e admitiu não ter mais chances de
impedir a aprovação do impeachment no Senado. Segundo o relato do senador,
Dilma desabafou nos seguintes termos:
“Quero acabar logo com essa agonia”.
Calheiros
é a expressão mais viva do que se pode chamar de “político de Brasília”. Isso
significa que está sempre ao lado do poder. Há
poucos meses, estava empenhado em desalojar Temer da poderosa presidência do
PMDB e, se possível, deixá-lo distante da rampa do Palácio do Planalto. Foi
um dos generais da batalha de Dilma para barrar o impeachment. Sendo um “político de Brasília”, Calheiros é um
termômetro quase infalível para detectar a temperatura do poder. Se conversa em tom de confidência com Temer,
por quem nunca nutriu grande simpatia, é
sinal de que tem certeza de que Dilma não conseguirá recuperar o mandato.
A percepção do senador, no
entanto, não é propriamente um privilégio. É difícil encontrar em
Brasília, mesmo dentro do PT, alguém que acredite na volta de Dilma ao Palácio
do Planalto, ainda que as
pesquisas de opinião mostrem que mais de 60% do eleitorado prefere a convocação
de novas eleições. A questão central é que Michel Temer, em apenas dois
meses de interinidade, conseguiu plantar um clima de estabilidade na política e
na economia, que favorece sua permanência no poder.
Pelas contas do senador Romero Jucá (PMDB-RR), demitido do
Planejamento por conspirar contra a Lava-Jato, 61 dos 81 senadores votarão a favor do impeachment. Eliseu Padilha,
chefe da Casa Civil, aposta que o número
pode chegar a 63 senadores, incluindo Calheiros. É tamanha a confiança que Geddel Vieira
Lima, o ministro encarregado de negociar com o Congresso, tirará nos próximos
dias uma semana de férias.
“A fatura está
liquidada”, reza o mantra da hora no PMDB. Temer, por via das dúvidas, não descuida de usar a máquina pública para
sacramentar sua vitória. De olho nas ruas, sancionou
reajustes salariais para servidores públicos e anunciou a ampliação dos
financiamentos da Caixa Econômica Federal para a compra de imóveis. Num
aceno aos congressistas, vetou novos cortes no Orçamento da União e determinou
que sejam nomeadas imediatamente as pessoas indicadas por deputados e
senadores de sua base de apoio para ocupar cargos públicos. Na quarta-feira, o
ministro Geddel Vieira Lima recebeu Jovair Arantes (PTB-GO), relator da
comissão do impeachment na Câmara, para sacramentar a distribuição de cargos
federais em Goiás entre os parlamentares do estado.
Colaborou
Marcelo Sakate
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