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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Fugir para adiante, para “a rua”: uma ajuda do governo para seus adversários - Alon Feuerwerker

A tese antes da posse era que o radicalismo do presidente da República seria domado pelo pragmatismo e profissionalismo dos generais e pelo liberalismo democrático e competente do ministro da Economia, e respectivo dream team. Aqui a vida real reservou outro habitual imprevisto. O presidente parece ter mais jogo de cintura que os candidatos a tutor, pelo menos para tratar com os outros pilares do poder constitucional (Congresso, Supremo).

O titular da Economia anda meio recolhido, depois de dois tropeços na comunicação. Desta vez veio de um general, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, o sinal mais dolorido da perda de paciência com o Congresso. Na sequência da revelação pública da explosão do general, a base (ou a cúpula) bolsonarista desencadeou a chamada para um 15 de março de apoio a ele e repúdio ao Legislativo, em particular aos presidentes da Câmara e Senado. [sendo redundante: ambos ou os dois precisam entender que separação de poderes é para valer.
já que ambos os dois, em conjunto, se consideram tão poderosos que mudem a Constituição, ou então o auto nomeado 'primeiro-ministro' se candidate em 2022 ao cargo de presidente da República e seu escudeiro ao de vice - ambos não podem esquecer que  para tal empreitada ser exitosa precisam de votos.
Primeiro, tentaram chantagear o presidente para conseguir UM FUNDÃO Eleitoral.
E teve outras pressões = eufemismo para chantagem ou extorsão = sendo a do FUNDÃO a maior, por enquanto.
Como bem disse o presidente Bolsonaro, em linguagem respeitosa: ''Respeitamos o Legislativo, mas quem executa o Orçamento somos nós'.]



Governos são animais que vivem sob pressão constante, e a falta de traquejo costuma abrir espaço para vozes que nas horas complicadas pregam a “fuga para adiante". Na maioria esmagadora dos casos dá errado. Numa releitura adaptada da célebre frase de Joãosinho Trinta, governo tem de gostar de governar, pois quem gosta de gente na rua é a oposição. Se já tiverem esquecido, bom lembrar de junho de 2013. Dica: ver como começou e como terminou.

A oposição está entretida com as questiúnculas que cercam as eleições municipais, discutindo se em 2022 a frente deve ser ampla ou de esquerda, no máximo ataca o governo nas redes sociais. A greve dos petroleiros começou e terminou isolada. No STF o governo vive um ambiente de paz e cooperação. No Congresso, se tiver paciência e sangue frio, conseguirá que as reformas fiquem próximas do por ele desejado. No bottom line o governo não tem problema político real.

Problema mesmo o governo enfrenta nos canais de reverberação da dita sociedade civil. Mas estes não têm mostrado capacidade física de mobilização antigovernista. Por uma razão singela: o “centro" não consegue colocar povo na rua e tampouco está a fim de se juntar com quem poderia conseguir, pois decidiu há algum tempo que o caminho para voltar ao poder passa pela “luta contra os dois extremos”.

Coisa que, como se sabe, vem tendo um sucesso danado aqui e no mundo todo.
Introduzir a variável “rua” no cenário só interessa à oposição. E a defesa do Congresso e suas prerrogativas, como parte da defesa da Constituição de 1988, é o prato feito para quem pretende aglutinar as forças antibolsonaristas. Um achado para os opositores na preparação das eleições municipais. Especialmente quando a economia, apesar de sinais de melhora, ainda nem de longe pode ser descrita como brilhante.
No popular, é real o risco de o tiro sair pela culatra.


Um cenário hipotético. Bernie Sanders não consegue a maioria absoluta dos delegados, só maioria simples, e a cúpula do Partido Democrata alija-o da disputa contra Donald Trump. Sanders tem a opção de correr como independente. De quem tiraria mais votos? Gostaria de ver uma pesquisa Trump x Joe Biden (ou Mike Bloomberg) x Bernie… 

Alon Feuerwerkerjornalista e analista político - FSB Comunicação