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quinta-feira, 18 de março de 2021

Não ao mais do mesmo - William Waack

O Estado de S. Paulo

A comoção nacional em torno da pandemia é o grande obstáculo à reeleição de Bolsonaro

Jair Bolsonaro ocupou a crista de duas ondas de grande amplitude política e social. A primeira o levou ao Planalto, num fenômeno que surpreendeu a ele mesmo. A segunda está muito próximase é que já não atingiu – do ponto de repetir em relação a Bolsonaro o que ocorreu na cabeça dos eleitores em 2018 diante de um candidato que representava Lula: a maioria não queria repetir mais do mesmo. [as próximas eleições - que serão com as bênçãos de DEUS as da reeleição do presidente Bolsonaro - serão realizadas dentro de pouco mais de dezenove meses = quase 600 dias = muita água debaixo da ponte; perguntamos: será que apesar do intenso esforço do STF para manter Lula solto, ele estará solto?
se solto, terá os votos necessários para vencer o capitão? oportuno  lembrar que jornalistas formam opinião, mas não são donos dos votos da população. Pesquisas apressadas, feitos por institutos desconhecidos, com grande antecipação .]

O “mais do mesmo” é a noção majoritária no público, e com alta probabilidade de se tornar irreversível, de que o governo Bolsonaro é incompetente para tratar da saúde e do bolso das pessoas. Em 2018 o presidente foi capaz de detectar as mudanças de sentimentos na política e como o “momento” se formava em seu favor. Agora, percebeu tarde, mas não entendeu a profundidade e a amplitude das emoções (e política é emoção) trazidas pela angústia, medo e insegurança ligados ao avanço da pandemia.

Uma boa parte da explicação para essa cegueira política está no próprio personagem Bolsonaro, refém de uma paranoica concepção segundo a qual tudo que lhe pareça adverso é resultado de conspirações de adversários reais ou imaginários para apeá-lo do poder e/ou impedir sua reeleição. Aliada a uma visão de mundo tosca e retrógrada, essa característica de personalidade – mais o fato de acreditar só na família – o levou a cometer grave erro político ao operar a troca do ministro da vez na Saúde. [por sorte o Brasil se livrou  de emplacar ministra a cantora preferida da escarrada ex-presidente Dilma:


Felizmente, a cardiologista não aceitou ser ministro da Saúde. Seria uma ministra boquirrota, 'vidente' - já prevê o número de mortes - e que ao lado dos especialistas em nada e dos arautos do pessimismo, seria presença constante  na TV Funerária.]

Diante da pressão política e social causada pela percepção generalizada da incompetência governamental para combater a pandemia, Bolsonaro sentiu-se obrigado a sacrificar um peão, o general da Saúde que, involuntariamente, causou o maior dano recente à imagem da instituição à qual pertence, o Exército. Ocorre que essa percepção generalizada assume (corretamente) que os erros partem do próprio presidente, e que a troca de subordinados só teria efeito para inverter a narrativa dominante, fatal para quem quer se reeleger, se indicasse uma vigorosa correção de rumos.

Mas o que ficou no ar é a tediosa sensação de trocar seis por meia dúzia.  [percebam o absurdo: o ministro indicado ainda não tomou posse e desde ontem que já tentam derrubá-lo. 
O maior erro que estão encontrando no futuro ministro é ser ele possuidor da dignidade, da ética, e reconhecer de público que o dono, o comandante, o mentor da política de qualquer GOVERNO SÉRIO, presidencialista,  é o presidente da República - os ministros tem o dever de assessorá-lo, mas no momento em que dele discordarem estão obrigados por DEVER FUNCIONAL a cumprir o que for decidido pelo presidente. 
Caso não concordem, se obrigam por dignidade, ética, honra e lealdade a renunciarem - só os traidores, as hienas, os chacais permanecer tentando conspirar contra o presidente.] Pior ainda, essa “mentalidade do bunker” à qual Bolsonaro está preso o levou a se isolar ainda mais na tentativa de aliviar a pressão política e social contra seu governo.

No atual cada um por si é o Congresso que ocupa mal ou bem um papel central de coordenação de esforços e articulação num salve-se quem puder que está virando comoção nacional. Há forças políticas aliadas ao presidente dizendo a ele e ao público que essa comoção passa com a chegada em massa de vacinas e a esperada inversão das curvas de contaminação, hospitalização e mortes. E que a retomada da ajuda emergencial, mesmo mais tímida, permitiria a travessia do tempo necessário para que reformas como a administrativa (que corta despesas) e tributária (que reduz custos, ainda que não reduza a carga) sejam aprovadas e produzam efeitos.

Lembrando ao ministro Paulo Guedes o destina que o aguarda se continuar insistindo na CPMF - seja o nome que use.

É a tal janela de oportunidade da qual tanto fala o ministro Paulo Guedes. Em situação de tripla crise já seria uma aposta arriscadíssima, pois supõe que o tempo (e, de fato, falta muito até as próximas eleições) trabalharia a favor. Mas, no atual ambiente político no qual as opções de Bolsonaro estão se estreitando, a autoridade de seu governo se dissolvendo, seus adversários se organizando e a desmoralização da figura política do presidente atingindo avançado estágio de consolidação, virou uma aposta perigosíssima para ele.

Crises políticas e sociais da atual amplitude, abrangência e profundidade produzem em fases agudas respostas que a priori surgem como grandes surpresas, como foi a vitória de Bolsonaro em 2018. O cenário atual não indica que será a mesma resposta em 2022.

William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo