Análise Política
A prevalência da economia sobre as demais variáveis numa eleição
cristalizou-se na literatura a partir do “É a economia, estúpido”.
Atribui-se a James Carville, na campanha em que seu assessorado e
desafiante, William Jefferson Clinton, derrotou o incumbente, George
Herbert Walker Bush (pai), na disputa presidencial americana em 1992. É
dogma desde então.
E faz mesmo algum sentido, dado que as grandes maiorias movem-se na
política por fatores conectados à vida material. Daí as pesquisas
eleitorais e de avaliação de governo buscarem sempre saber se o
entrevistado está melhorando de vida, tem esperança de melhorar de vida,
acha que o país e a economia estão no caminho certo etc.
Mas, se a economia responde pelas tendências mais estruturantes do
eleitorado, seria um erro subestimar os fatores subjetivos. São
conhecidas as situações em que o incumbente mal avaliado na gestão
derrota um desafiante. Caso clássico é a vitória de Mário Covas sobre
Paulo Maluf em 1998 na disputa do governo de São Paulo.
Uma campanha anticorrupção extremamente agressiva permitiu ao tucano
virar no segundo turno uma corrida que tinha tudo para perder.
Há situações em que o líder se impõe mesmo quando as coisas não vão bem,
e por uma razão simples: ele acaba sendo visto como o mais apetrechado
para conduzir o barco a um futuro melhor ou então como quem melhor pode
liderar o grupo na busca da sobrevivência. Em guerras, é bastante comum.
Bolsonaro ficou dois pontos percentuais atrás de Luiz Inácio Lula da
Silva, especialmente por ter recuado de maneira significativa no Sudeste
em relação a quatro anos antes. No Nordeste, no essencial, o PT teve
em 2022 o desempenho que tivera em 2018. Uma hipótese bem razoável é os
fatores subjetivos terem ajudado essa lipoaspiração “sudestina” de
Bolsonaro. [nas regiões em que a miséria impera, o PT se destaca favoravelmente quanto sua capacidade de manter o atraso e a miséria.]
O desempenho da economia concentra as atenções agora quando se trata de
prospectar a política para 2026. Mas, num país dividido quase ao meio,
talvez seja prudente levar também em conta a luta ideológica, simbólica e
de valores. Entendê-la é essencial para medir em algum grau a sensação e
a convicção de pertencimento, saber de que tribo alguém sente que faz
parte.
Pode não ser o combustível da maioria dos eleitores, mas
eventualmente é o motor daquela minoria que, indo para um lado ou outro,
decide a eleição.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político