Os embustes mais frequentes para desarmar os mecanismos de punição ao crime vão desde “fracasso da guerra às drogas” até “campeões de presos”
Desde que Bertolt Brecht escreveu “O que é roubar um banco comprado a fundar um banco?”, a situação piorou muito. O “capitalismo”, entre aspas, não apenas continua a ser culpado pelos piores crimes, como banqueiros, uma categoria que por definição costuma aprender rápido, passaram a financiar variações desta falácia ideológica. Grandes financiadores de organizações não-governamentais bancam a mesma interpretação, no Brasil, nos Estados Unidos e em outros países.
Vão, malandras: mulheres presas com munição escondida no corpo e o benefício da libertação coletiva (PRF/Divulgação)
Um exemplo recente, de assustadora banalidade: andar de celular na rua e, pior ainda, empunhá-lo para fazer uma foto, é um ato de provocação insuportável ou pelo menos suficiente para explicar por que o cidadão incauto, quando não ostentador, é furtado ou roubado.
Isso foi dito, como muitos se lembram, por uma autoridade de segurança durante o carnaval do caos que ensejou a intervenção no Rio de Janeiro. A inacreditável quantidade de argumentos asnáticos desencadeada por esta intervenção pode ser resumida no mais frequente deles: os “fantasmas” do regime militar. O regime ditatorial acabou há 33 anos. Mais de 60% dos 205 milhões de brasileiros nasceram depois do final do processo, 1985. (Breve intervalo para falar de outro aspecto do “fantasma”: blocos para pular o carnaval foram transformados em manifestações de reocupação das ruas, inédita desde a ditadura na imaginação dos loucos por uma causa mais nobre do que saracotear sem freios. Carnaval com causa é, claro, uma chatice.)
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Do total de mulheres presas, 63% estão relacionadas ao tráfico de drogas. O número dobrou em dez anos, o que pode ser atribuído a várias causas: o tráfico aumentou seguindo as facilidades de consumo, traficantes aperfeiçoaram as vantagens de usar mulheres como emissárias, o crescimento de homens envolvidos no crime “puxou” o de suas companheiras que fazem tudo por amor e até, evidentemente, a deterioração das condições sócio-econômicas.
Não esperem ver nenhuma discussão a respeito. Esse aumento, invariavelmente, é atribuído à “guerra às drogas”, uma expressão criada pelo governo Reagan nos anos 80 que foi ressuscitada nas campanhas em favor da liberação de entorpecentes.
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Apesar de crimes pavorosos como as matanças em escolas, mais de 70% dos americanos acreditam que a segunda emenda da constituição é uma garantia inviolável ao direito de ter armas – quais, de que calibre e em que condições, evidentemente, sempre está sujeito a discussões e mudanças.
Nikolas Cruz deve assumir a culpa pelos 17 assassinatos na matança na escola da Flórida. Com isso, ele não corre o risco de pegar a sentença de morte. A Flórida é um dos 31 estados americanos onde ela continua a existir. Aparentemente, há poucos americanos discutindo se o perturbado assassino de 19 anos vai aumentar a população carcerária até o fim de sua vida.
A discussão sobre armas é politizada e até violenta nos Estados Unidos. Num dos extremos, dizem que Donald Trump e o NRA têm “sangue nas mãos” e a expressão lobby das armas é constantemente esgrimida .
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